O Ruy em questão é Ruy Castro, colunista da “Folha de São Paulo”.
Em artigo escrito, há algum tempo, no jornal citado, o jornalista teve a infelicidade de fazer chacota sobre o termo presidenta, que voltou à baila, graças à, na época, presidenta do país, Dilma Rouseff. Vejamos alguns pontos da coluna:
“Tal lei serve apenas à teimosa vontade da presidente Dilma de ser chamada de presidenta, na ilusão de, com isso, estar valorizando as mulheres. E não adianta dizer-lhe que não é assim que a língua funciona. O problema é que, com a medida, ela obriga a que se parem as máquinas e se corrijam a jato todos os dicionários da língua portuguesa.
Porque, se Dilma agora é presidenta por decreto, também quero ser chamado de jornalisto, articulisto, colunisto ou cronisto.
Idem, os calistas, juristas, dentistas, arquivistas, criminalistas, ortopedistas, ginecologistas e médicos-legistas do sexo masculino, todos podem requerer diplomas de calistos, dentistos, arquivistos, criminalistos, ortopedistos, ginecologistos e médicos-legistos. O próprio Aloizio Mercadante, ministro da Educação e cúmplice da presidenta nessa emboscada contra a língua, deve exigir ser chamado de congressisto quando voltar ao Senado.
Pela novilíngua da presidenta, o sindicalista Lula teria sido um sindicalisto. Luiz Carlos Prestes, um comunisto. Millôr Fernandes, um humoristo. Luizinho Eça, um pianisto. Guimarães Rosa, um romancisto. O cego Aderaldo, um repentisto. Ayrton Senna, um automobilisto.
Dilma acha pouco ser presidenta. Quer ser também linguista.”
A verdade é que Ruy Castro, geralmente tão equilibrado, desta vez “pisou na bola”. O termo presidenta existe, sim. E de há muito.
O que ocorre é que os substantivos terminados em “nte” muito geralmente são uniformes; porém, há algumas variações. É o caso de elefanta (feminino de elefante); infanta (feminino de infante) e presidenta (feminino de presidente). (Cf. Celso Cunha: Gramática da Língua Portuguesa. Fename, 1976. P.205).
Na verdade, o feminino de presidente pode ser presidente ou presidenta; apenas o segundo não era usual no Brasil, até a chegada da presidenta Dilma.
Falar sobre o que não se entende nem sempre é o melhor caminho!…
(In: Português descontraído. Editora Leya/Alumnus, 2018).