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Professor Trindade

Infelizmente, ainda percebemos, nos dias de hoje, uma preocupação excessiva do concursando com as regras gramaticais, o que o prejudica.

Não é que estejamos desprezando a importância da regra gramatical. Ocorre que, nos concursos, não se pede mais a regra de forma direta, como acontecia antigamente. Hoje, a importância maior está no campo da semântica.

O que é semântica?

É a parte da língua que trata dos significados.

Note, querido leitor, que não se trata apenas dos significados das palavras; muito menos apenas do estudo da significação das palavras.

A semântica engloba:

a) interpretação de textos;

b) significação das palavras;

c) coerência e coesão

d) estruturas redacionais.

O que é coerência?

A organização lógica das ideias do texto.

Leiamos um exemplo de incoerência textual, extraído de um texto publicado no Facebook (pelo erro é que se aprende o acerto):

“ (…) O cantor reservou uma surpresa para os fãs durante a participação da cantora (…): ele irá interpretar com ela a música “Fim de Romance”, a primeira música composta por Zé Ramalho.”

O texto peca pela incoerência. Onde reside tal defeito?

Ora, o redator afirmou que o cantor em questão reservara uma surpresa para os fãs, durante a participação de uma cantora convidada; em seguida, disse o que artista iria fazer: interpretar com ela a primeira música composta por Zé Ramalho. Onde está, então, a surpresa?

O que é coesão?

O uso correto dos elementos conectores, principalmente preposições, pronomes e conjunções. A coesão é elemento fundamental para se alcançar a coerência.

Nos concursos, costumam aparecer os seguintes tipos de questão em que se cobram coerência e coesão:

1. O elaborador dá um texto em desordem, para que o candidato junte os segmentos, de forma a obter um texto coerente e coeso.

2. O elaborador grifa um pronome e pede ao candidato para dizer a que termo anterior (ou posterior) se refere o pronome grifado.

3. O elaborador pede o significado de determinada palavra dentro do contexto a que  está se referindo a questão. Raramente ele pede o significado de uma palavra isoladamente.

Como dominar o assunto “semântica”?

Lendo. Não há outra solução.

Exemplo de questão sobre coesão:

Alguns dos maiores problemas dos moradores daquela região estão no fato de residirem em áreas ribeirinhas e perigosas; erguem casas em cima de barreiras e morros, sendo que, principalmente naquelas, o perigo é maior.

O pronome “naquelas” se refere a qual termo da frase?

Resposta: barreiras.

Atenção para um detalhe importante que costuma confundir o candidato:

No texto escrito, usam-se os pronomes “este” “neste” “isto”, “nisto” e equivalentes para o que ainda vai ser citado; “esse”, “nesse”, “isso”, “nisso” e equivalentes para elementos já citados.

Exemplos respectivos:

Este é o meu problema: apaixonar-me demais.

Apaixonar-me demais: esse é o meu problema.

Até aí, tudo bem; o que os candidatos costumam errar é em relação ao seguinte:

Se na frase eu estiver comparando dois ou mais elementos, a “regrinha” anterior não vale. Nesse caso, usa-se este (e flexões) para o elemento mais próximo e aquele (e flexões) para o mais distante.

Exemplo:

Jânio e Collor souberam usar bem o marketing político; aquele, melhor do que este.

Nesse caso, estou afirmando que Jânio usou o marketing político melhor do que Collor. Caso quisesse dizer o contrário, era só escrever: este, melhor do que aquele.

Semântica e verbo

Observe a seguinte situação hipotética:

O presidente Lula chegará a João Pessoa amanhã.

Ainda dentro da suposição: 

O Portal Correio, edição de hoje, destaca:

“Lula chega amanhã a João Pessoa”.

Errado?

Não. Certo!

Dirão os gramatiqueiros de plantão: “Mas não era para se usar a forma chegará? O verbo não teria que ser empregado no futuro?”

Eis o erro a que me referi no começo da coluna: supervalorizar a regra gramatical e desprezar a semântica.

A frase está correta (repita-se!).

Ocorre que o presente do indicativo (verbo usado na manchete hipotética) pode, também, ser empregado para indicar futuro próximo, como foi o caso.

Nem sempre, portanto, o presente do indicativo indica um fato ou ação contemporânea ao momento em que se fala. Além da situação retratada anteriormente, também pode ser empregado para:

a) Descrever um fato ou estado permanente: O sol aquece a terra;

b) indicar uma ação habitual ou que se pratica constantemente: Assisto àquele programa todos os dias;

c) dar realismo a fatos passados: Em 1954, Getúlio, então, se suicida, tomando de surpresa todo o país e sua legião de fãs;

d) substituir o imperativo, quando se quer denotar mais um pedido do que uma ordem: Você me desamarra esse cadarço?

Estilística

Outro aspecto negligenciado pelos candidatos a concurso é a estilística.

O ponto relativo à estilística que aparece mais frequentemente em concurso é: “conotação e denotação”, no qual estão incluídas as figuras de linguagem.

Muita gente associa as figuras de linguagem somente à literatura, esquecendo-se de que toda boa gramática (Celso Cunha, Rocha Lima, Bechara, etc) tem um tópico específico relativo a todo o assunto; e não apenas às figuras de sintaxe.

É bom, portanto, não continuar negligenciando os aspectos destacados nesta coluna.

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