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Edilson Pereira Nobre Júnior

Esperava ouvir a voz lhe chamar “Báculo”, pois este era o seu apelido no colégio, numa turma onde todos tinham um. Mas quem falou foi uma senhora vestida de branco, com um amargor na voz, “senhor Joaquim Ataíde, compareça à sala ao lado, o seu exame será o próximo”.

O diagnóstico, dias depois, não foi dos melhores. Aos sessenta anos, o check-up, que já vinha fazendo anualmente, revelara-lhe algo maligno, mas, como se encontrava em fase inicial, o tratamento poderia superá-lo.

Joaquim – que tinha o riso como hábito e suprema razão de viver, e, portanto, melhor cardiologista não poderia encontrar -, não se deixou abater, seguindo adiante em sua faina.

Numa de suas andanças, estando num supermercado, à guisa de suas curiosidades gastronômicas, encontrou uma contemporânea de colégio, que sempre estudou na mesma sala. Era a recatada Violeta, a mais sensual das suas colegas de sala.

No ritmo da conversa, que aparentava seguir a velocidade do conto, após a afirmação de Joaquim, de que sempre se dedicara ao prazer da elaboração das refeições e de outras virtudes domésticas, a colega – que ainda se encontrava solteira e a irradiar um quê especial de beleza, que o tempo, insistia, mas não conseguia apagar -, declarou: “O meu sonho sempre foi o de encontrar um marido assim”.

Pressentindo que o assunto enveredava pelo território do sério, pois sinceras as palavras, Joaquim, celibatário por opção, mas romântico por vocação, recordou-se dos tempos que pretendera ingressar para a diplomacia. Circunspecto, respondeu: “Sou mais exigente. Somente me casarei com uma mulher que goste de um cachorrinho pet e de pizza sabor quatro queijos”.

A mão se amoldou à luva. Casaram-se Violeta e Joaquim. Este prosseguiu o seu tratamento, mas, como bom leitor de Miram Goldemberg, não abdicava compreender que sexualidade não possui idade e, por isso, ajustou com Violeta viajarem cinco vezes a Paris, o que ocorreu num ritmo, se não alucinante, pelo menos verdadeiramente namorante.

Puderam descortinar os mistérios da cidade luz, guiando-se pelas percepções de Rosa Freire D’Aguiar (Sempre Paris. Crônica de uma cidade, seus escritores e artistas), além de viverem um amor de perdição, tal como deve ser todo amor.

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