O Skank se despediu. Diante disso, decidi republicar, com adaptações, texto que publiquei na sexta-feira, 10 de janeiro de 1997, na minha coluna do extinto jornal O Norte. Trata-se do primeiro grande show que meu filho João Trindade Filho, fã da banda, assistiu.
Eis o texto, compilado:
Os leitores habituais, sobretudo os que me conhecem, hão de estranhar a crônica de hoje, a partir do título. “Oxente, Trindade falando sobre o Skank?”. Não foram poucas as pessoas que estranharam quando me viram, na entrada – e dentro – do Forrock.
Explico, leitor apressado! Tenho um filho com 11 anos, um primor de pessoa, desses filhos que não dão desgosto, e ele – não sei por que diabos – cismou de gostar desse Skank.
Pois bem. Esse filho, que raramente me pede alguma coisa, me pediu para ir ao show do Skank. E os olhos dele brilhavam. Há certas felicidades que não podemos deixar de dar aos filhos.
De modo que fui.
Minha primeira ideia era ficar ali, naquele posto vizinho à casa de shows citada; ficar na lanchonete, tomar meu cuba até o final do espetáculo. Mas qual o quê! Quando vi aquele mundaréu de gente… Deixar meu menino lá dentro seria uma loucura sem par. De modo que apelei para os cambistas e também entrei.
Meu menino assiste ao show, pula, canta, diverte-se e eu recolho material para minha crônica.
Começando pelo conjunto (desculpem; não consigo chamar banda). É um bom conjunto, dentro dos padrões atuais. Quanto às letras, pelo menos não falam de sexo a toda hora e de forma ridícula como a baianada. Quanto ao ritmo da bateria, que me perdoem os fãs, mas a pancada é a mesma para Skank, Cidade Negra, Paralamas do Sucesso, etc. Ser baterista de tais conjuntos de hoje é muito fácil: uma pancada no caixa, duas no bombão e nada mais. “Aqui e acolá” é que dão um bom breque; geralmente, quando a música termina.Mas o que estranhei mesmo foi quando eles disseram que iam cantar um samba, que de samba não tinha nada.
Mas vamos ao que mais interessa à crônica: o comportamento das pessoas.
Foi bonito ver tanto jovem junto; nada se compara à alegria dos jovens. Discordo só quando dizem que a juventude de hoje é mais sadia porque não cultua o cigarro. Criou-se uma mídia contra o cigarro; no entanto, ninguém fala do outro “cigarro” que anda imperando nesse tipo de show.
É evidente que me achei um pouco ridículo por ser o único pai – ou talvez o único – a ficar ali dentro, segurando, sempre quando vinha um “arrastão”, a mão do filho. Achei meio estranho, também, que os telões, num show basicamente para adolescentes, exibissem comerciais eróticos. Até aí, nem tanto, porque, infelizmente, a televisão destila erotismo vinte e quatro horas por dia e seria hipocrisia se chocar com aquele tipo de anúncio.
(…)
Saí suado e cansado, mas gostei. No fim das contas, esses shows fazem bem à cidade. Graças a um deles, recebi o melhor e mais agradecido sorriso do meu filho mais velho.