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Professor Trindade

Seria apenas absurda, não fora desproposital e ridícula a postagem feita pela direção do Museu da Língua Portuguesa na reabertura deste, usando o que agora querem impor ser “pronome”: a excrescência “todes”.

Não bastasse o horripilante “todos” e “todas”, agora querem impor esse tal de “pronome neutro”.

Eis o texto:

“Nesta nova fase do MLP, a vírgula — uma pausa ligeira, respiro (sic) — representa o recomeço de um espaço aberto à reflexão, inclusão e um chamamento para todas, todos e todes (grifo nosso) os falantes, ou não, do nosso idioma: venham, voltamos”, diz a publicação.

Em contraposição às críticas, a direção divulgou uma nota, dizendo que se propunha “a ser um espaço para a discussão do idioma, suas variações e mudanças incorporadas ao longo do tempo”.

Primeiramente, não se trata nem de variação, nem de mudança do idioma, mas sim de uma imposição perpetrada por quem não tem o menor conhecimento sobre nossa Língua; muito menos sabe distinguir entre Língua e linguagem. A Língua é um padrão; a linguagem, sim, comporta variações e mudanças, ao longo do tempo; mas não imposições que queiram perverter as classes linguísticas. “Todes” não é e nunca poderá ser um pronome; simplesmente porque não é considerado assim na estrutura da Língua. Se alguém quiser usar, que use, mas não se admite que um comunicado de um Museu da Língua Portuguesa traga esse corpo estranho; essa invencionice.

Afirma, ainda, a nota:

“O museu está aberto a debater todas as questões relacionadas à língua portuguesa, incluindo a linguagem neutra, cuja discussão toca aspectos importantes sobre cidadania, inclusão e diversidade.”

Só que essa tal de “linguagem neutra” não está relacionada à Língua, mas sim, à linguagem: a um tipo de falar; assim como temos os diversos falares, como, por exemplo, o regional, em que encontramos o nosso lindíssimo e querido oxente. Mas só que o termo não destrói a estrutura da Língua; quem fala não tem a intenção de impor uma deturpação nas classes de palavra. E o termo – esse sim! – é falado naturalmente por um muitas pessoas; ao contrário desse tal de “todes”, que ninguém vê o povo falando; a não esses ditos “progressistas”.

Não há quem suporte mais esse misto de paroxismo feminista com demagogia. Ora, não há que se misturar feminismo com língua e linguagem.

Inventaram essa excrescência linguística de substantivar (flexionando em gênero) pronomes. O analfabetismo funcional, predominante sobretudo em muitas pessoas que pregam o “politicamente correto”, nunca conheceu a diferença entre pronome substantivo e pronome adjetivo.

Expliquemos:

Pronome substantivo é aquele que substitui o substantivo. Exemplo: O homem foi ao cinema; ele não ficou satisfeito. O pronome ele substitui homem, para que não haja a repetição de tal palavra.

Diferentemente, o pronome adjetivo acompanha o substantivo: teu sonho não acabou. Note que o pronome teu acompanhou o substantivo sonho.

Os pronomes indefinidos (entre eles estão “todos” e “todas”) não podem substituir o substantivo, como acontece com “ele” e flexões.

Você pode dizer:

Todos os homens estavam alegres na festa. Todas as mulheres, também.

Ou:

Todos (homens e mulheres) estavam alegres na festa.

Quando você diz todos, está abrangendo todo o universo; daí não caber falar “todos” e “todas”.

O pior é que, ontem, numa reunião, ouvi alguém dizer:

“Aqueles e aquelas” que concordam com a proposta fiquem como estão.

É demais!…

Ora, os gêneros na Língua não se referem à caracterização do indivíduo, mas sim, a uma terminologia gramatical. Masculino e feminino não têm, linguisticamente, relação com homem/mulher; mas sim, é algo que se convencionou como masculino e feminino. Algumas palavras mudaram de gênero, ao longo do tempo. O termo Paraíba, por exemplo, já foi masculino. Tanto que a primeira Constituição da Paraíba se chamava Constituição do Estado do Parahyba; e hoje é feminino: a Paraíba.

A respeito dessa idiotice de “neutralidade de gênero”, e em socorro ao meu raciocínio, transcrevo parte de um excelente artigo da brilhante jornalista Catarina Rochamonte, na Folha de São Paulo:

“Os agentes do politicamente correto se julgam e se declaram como representantes progressistas do bem em confronto com as entidades atrasadas do mal. Nesse confronto, porém, ultrapassam, muitas vezes, os limites do bom senso, descambando para o ridículo, como é o caso da tentativa de aplicar a neutralidade de gênero à gramática.

Começar uma carta oficial da escola com “querides alunes” pode ser só mais uma forma de aleijar a já maltratada língua portuguesa; mas o que hoje desprezamos por ridículo amanhã poderá ser nossa escravidão. O uso da linguagem como método de dominação das mentes não é novidade e já foi descrito no livro “1984”, de George Orwell.”.

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