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Como os transtornos mentais estão relacionados ao ambiente de trabalho

Depressão, ansiedade e outras doenças mentais, muitas vezes estão relacionadas ao ambiente corporativo. Saber buscar o equilíbrio, é essencial na preservação do bem estar mental

“A sensação era de desesperança”, são essas as palavras que Kailane Rândala usa para descrever uma das fases mais difíceis da sua vida. Diagnosticada com depressão grave no início de 2019, a psicóloga se encontrava no que chamou de “2ª etapa” o delicado momento que vivia, uma vez que se tratava de uma recaída de uma síndrome de burnout que a acometera 4 anos antes.

Tudo teve início em 2015, na época, Kailane era coordenadora pedagógica de um colégio particular em João Pessoa. “Eu passei 18 anos como coordenadora, no início, eram 150 crianças, e em 2015, eu coordenava sozinha 600 alunos”, relembra.

Kailane relata que passou por diversas situações de estresse e que houve um momento que foi a “gota d’água” para o burnout aparecer, apesar de que há alguns anos ela já vinha apresentando os sintomas da crise. “Não era uma coisa que tinha surgido do nada, mas eu não achei que era uma proporção tão distante”, relata ao perceber que os sintomas da síndrome já surgiam 5 anos antes.

É preciso estar atento aos sinais que o corpo apresenta (Foto: Reprodução/ Freepik)

Apesar dos sintomas não serem perceptíveis para quem sente, os que estão ao redor, como amigos, familiares e colegas de trabalho podem perceber as claras mudanças, no humor, temperamento e até mesmo, fisionomia.

“Foi em uma segunda, eu acordei e não conseguia me levantar, meu corpo não tinha forças para se mexer”, assim descreveu o momento mais drástico que o burnout atingiu na sua vida. “O tanque tinha esgotado”.

O que para Kailane poderia ser apenas um processo de “poucos dias” e de “fácil recuperação”, acabou resultando no afastamento de seu trabalho, que levou um período de 8 meses. Apesar de na época o burnout não ser um assunto tão debatido, a psicóloga tinha encontrado uma pesquisa acerca do alto índice da síndrome entre profissionais da educação.

“Os primeiros dias de atestado dão aquela sensação de que as coisas não vão andar se você não estiver no trabalho, você acha que o trabalho vai deixar de existir e que nada acontece se você não estiver lá. Mas nada disso é verdade”

Após entrar em processo de tratamento com remédios e terapia, Kailane se viu muito apoiada por todos que estavam ao seu redor. “Foi uma etapa que eu precisei aprender sobre largar, abrir mão de muita coisa e me desconstruir desse lugar de querer ter o controle muito excessivo”, afirma.

E foi em 2017, que após 25 anos de formada, ela pode pela primeira vez, atuar na área de psicologia clínica. “O burnout me ajudou a me reconectar com a minha formação”, agora Kailane estava no lugar de profissional e poderia ajudar aqueles que estavam vivenciando tudo o que ela já tinha passado. “Eu sabia exatamente o que os meus pacientes estavam sentindo”, afirma.

Com a melhora, Kailane pode retornar para o ambiente escolar, mas dessa vez como psicóloga educacional. E nesse período de retorno, as atividades voltaram a ser muito intensas, e a psicóloga se encontrava mais uma vez em um “estado de recaída”.

“Quando se vive esse processo [de depressão], você quer ter a sensação de que não vai voltar a viver isso de novo”, Kailane estava determinada a não voltar ao mesmo estado que se encontrava. Mas em janeiro de 2019, dois anos após a sua recuperação, ela passou por “um novo capitulo na história”.

Sem perceber, a volta da rotina foi se intensificando, juntamente a outros fatores, incluindo biológicos, o que a levou a ter uma recaída.

“É importante a gente saber que a depressão e a ansiedade são doenças, então já possuía uma pré-disposição de viver isso novamente”

Nas palavras de Kailane, a recaída foi mais forte, ela sentia uma solidão. Mas através de consultas psiquiatras, terapia, tratamento com remédios e até mesmo apoio pastoral, que no final de 2019 ela já apresentava sinais de melhora.

“Quando chegou a pandemia, tive a oportunidade de ajudar pessoas que estavam passando pela situação que eu já tinha vivido”

Segundo a psicóloga, hoje ela se sente muito mais fortalecida e preparada para ajudar o outro.

Saúde Mental no ambiente de trabalho

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(Foto: Divulgação)

O caso de Kailane Rândala é igual a muito outros que aparecem, e até mesmo deixam de estar, nas estatísticas.

De acordo com os dados da Previdência Social, em 2021, no Brasil mais de 75 mil pessoas se afastaram do trabalho por conta da depressão.

“O ambiente de trabalho é um lugar propício a desenvolver transtornos mentais devido à concorrência, às pressões, aos conflitos e ao cumprimento de metas”, afirma o professor e psicólogo Márcio Coutinho.

Ainda de acordo com o professor, apesar de ser comum tanto trabalhadores apresentarem algum tipo de transtorno ou doença devido ao trabalho, não é algo normal.

“É necessário que as empresas e a gestão estejam atentas ao trabalhador. Acredito que o ponto chave é o desenvolvimento de políticas de humanização, que agregue boas práticas de qualidade de vida e saúde mental”, afirma

Estar atento aos sinais que o corpo apresenta, buscar manter o equilíbrio entre os problemas pessoais e o da corporação. E acima de tudo, procurar ajuda profissional, são dicas que Márcio dá para que o trabalhador possa cuidar de sua saúde mental, e trazer mais bem estar para sua vida e produtividade.

Além disso, outro fator fundamental é a assistência que as gestões de Recursos Humanos prestam aos colaboradores da empresa. “Rodas de conversas, escutas e apoio psicológico são algumas ferramentas que o RH pode utilizar na corporação”, sugere Márcio.

Reprodução/ Instituto Solidariedade

Organizações sociais como o Instituto Solidariedade, visam esse cuidado nas empresas. Através de projetos como o Projeto Cuidar buscam levar às corporações, treinamentos que auxiliam no autoconhecimento e crescimento profissional e pessoal. Com assistências à líderes de empresas e visando no bem estar das corporações.

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