A área da ginástica no estado da Paraíba é muito escassa, um problema que nasce na escola, com total falta de infraestrutura e apoio, ausência de espaços adequados para treino, além de programas de incentivo e financiamento que não são levados a sério.
A representação da Paraíba nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 foi o reflexo nítido da falta de incentivo do poder público e da iniciativa privada no esporte paraibano. Mostrou como nosso esporte e nossos atletas são tratados. E em hipótese alguma, isso aconteceu devido a falta de talento.
Nos Jogos, dos 465 atletas brasileiros, apenas seis eram paraibanos e todos eles precisaram ir embora para treinar longe de casa, afinal, ninguém vive apenas de apoio moral.
A Ginástica Artística e Ginástica Rítmica são modalidades olímpicas que meclam apresentações, música, dança, estilo, movimentos e aparelhos. É um conjunto de exercícios corporais realizados em aparelhos oficiais, onde os movimentos revelam força, agilidade, flexibilidade, coordenação, equilíbrio e controle do corpo.
Em Campina Grande, a ginástica rítmica está começando a crescer. Hadassa Costa, estudante do 6º período de educação física, conta que esse problema também está ligado a questão dos profissionais. “Em uma sala com cerca de 30 estudantes só eu me dedico e me interesso pela ginástica. A maioria da turma quer musculação, futebol, futsal, vôlei. A gente percebe esse esquecimento”, disse.
Para tentar mudar o panorama negativo de apoio ao esporte, funciona em Campina Grande um dos centros de excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica. A ideia da ação é oportunizar a prática esportiva da ginástica, detectar jovens promessas na área, formar novos técnicos na modalidade de Ginástica Artística e Rítmica.
Na cidade, o Projeto se encontra na cidade de Campina Grande, anexo ao Parque da Liberdade e, atualmente, tem cerca de 60 alunos, crianças de 5 a 10 anos.
A ação funciona a partir de uma parceria com estudantes do curso de educação física da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e com faculdades particulares. Na inscrição é cobrada uma taxa de R$ 60 por semestre para a manutenção dos aparelhos e do ginásio.
“Aqui é de iniciação, infelizmente não tivemos nenhum atleta. A ginástica requer muito da criança e de qualquer pessoa que quer seguir nessa carreira. As crianças que querem desempenho maior treinam manhã e tarde, porque nossas turmas tem apenas 1h de duração, duas vezes por semana”, explicou Aristides Azevedo, professor estagiário do projeto.
Ao ser questionado sobre a supervalorização do principal esporte do Brasil, o futebol, Aristides se entristece com a realidade da ginástica. “A gente fica feliz pelo futebol e futsal terem reconhecimento no Brasil, mas tudo é investido nisso. Sabemos que todas as verbas e incentivos vão para a área do futebol, os outros esportes, não só a ginástica, são esquecidos. É triste saber o quanto a ginástica é importante para o desenvolvimento cognitivo e motor da criança, um esporte belíssimo, que requer muito do atleta. Nos sentidos físicos, mentais, as crianças têm que estar sentindo dor, cobrando mudanças em si mesmas. É um esporte arte que infelizmente não é reconhecido”, contou.
Histórias de superação também já aconteceram dentro do projeto. Crianças chegaram com dificuldades para andar e tiveram uma verdadeira mudança de vida com ajuda dos professores.
“Tem criança que chegou aqui sem saber andar, através da ginástica começamos a desenvolver isso nelas. duas delas tinham uma debilidade gigantesca em postura, equilíbrio, locomoção, mas a gente trabalhou junto e conseguiu reverter isso. O retorno das crianças é muito grande, elas se dedicam. Em um dia passamos um exercício e elas treinam em casa, na próxima aula já chegam aqui com o exercício e o movimento certinho”, completou Aristides.
Em João Pessoa, a jovem Maria Clara, de 13 anos, é uma das promessas da Ginástica Rítmica da Paraíba. Desde criança faz aulas de ballet e foi através da sua mãe que conheceu a ginástica. Aos oito anos, com apenas três meses de treinamento, participou da sua 1° competição na cidade de Natal-RN, e conseguiu conquistar o 7° lugar. Desde então, treina seis vezes por semana acompanhada por duas técnicas que administram o treino e fazem toda sua preparação física.
“Esse tipo de esporte é muito difícil, exige concentração, foco, compromisso, responsabilidade, saber lidar com erros. O treinamento é bem pesado, às vezes nos machucamos e não temos um fisioterapeuta, temos que conciliar a hora do treino com os estudos e o ballet, as vezes perdemos momentos de diversão para estar treinando. Mas, apesar das inúmeras dificuldades, eu amo esse esporte e continuo me dedicando a ele cada dia mais, com ele quero alcançar meus objetivos e um dia me sair bem no campeonato Brasileiro”, afirmou Maria Clara.
Mesmo diante das dificuldades, a atleta nunca para os treinos e nem deixa de sonhar. Irá se apresentar em Blumenau-SC representando a Paraíba nos Jogos Escolares Brasileiros, este mês.