Após a liminar que garante que psicólogos possam atender eventuais pacientes que busquem terapia para reorientação sexual, proferida nessa segunda-feira (18), uma grande polêmica em torno do assunto tomou conta do Brasil, e na Paraíba não foi diferente. A decisão gerou várias dúvidas, questionamentos e até revolta entre homossexuais e também heterossexuais.
Em meio a polêmica instaurada após essa decisão judicial, a Rádio Correio Sat/98 FM convidou lideranças de segmentos que estão inseridos nessa problemática, para discutirem acerca da decisão. Renan Palmeira (vice-presidente da Associação Brasileira das causas LGBT), Ana Sandra Fernandes (vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia) e o Pastor Clóvis Bernardo foram os convidados do programa.
Renan Palmeira e Ana Sandra falaram que a decisão em caráter liminar representa um grupo seleto de “conservadores fundamentalistas”. “Estamos bastante preocupados, pois estamos assistindo ações de uma bancada conservadora, querendo acabar constantemente com a defesa de grupos LGBT”, disse Renan Palmeira.
“Os fundamentalistas e conservadores não estão presentes apenas no Parlamento, mas sim em vários setores na sociedade, inclusive entre nós psicólogos”, completou Ana Sandra Fernandes.
“Cura gay”
O Pastor Clóvis Bernardo afirmou que foi homossexual por muitos anos em sua vida, mas deixou de ser, por segundo ele, uma força divina, mas garantiu que homossexualidade não é uma doença para, portanto, existir uma cura.
“Quero retificar aqui algo bem profundo. Eu não fui curado, pois eu não era doente, foi uma decisão minha. Quando alguém me pergunta se eu fui curado eu respondo que não, pois nunca fui doente. Descobri uma pílula para afetar esse mal [homofobia], e essa pílula chama-se amor”, relatou Clóvis Bernardo.
Segundo Clóvis Bernardo, um fator teológico pode reverter a preferência sexual do ser humano. Ele disse que já reverteu a sexualidade de 14 pessoas. “Já consegui reverter a homossexualidade de pelo menos 14 pessoas, que hoje são bem casadas e conseguiram constituir uma bela família”, disse o Pastor.
Renan Palmeira discordou, afirmando que a discussão deve se manter em caráter científico, deixando os aspectos teológicos de lado.
“Estamos na perspectiva de uma ciência, no caso a psicologia. No campo cientifico, não existe um parâmetro para reverter a sexualidade, se existe em um campo teológico, vai da posição religiosa de cada um, eu, por exemplo, não acredito”, destacou Renan Palmeira.
Decisão x Psicologia
Para Renan Palmeira, o judiciário não pode interferir em práticas que competem a especialistas, no caso da psicologia. “Um juiz de uma forma isolada, falou que na área da psicologia poderia haver uma reversão de sexualidade. Um juiz sem conhecimento nenhum da causa interferiu em uma área autônoma e está impondo e legitimando ações de psicólogos fundamentalistas e conservadores. Não podemos deixar que uma pessoa que não tem conhecimento da causa faça imposições à profissionais que estudaram para isso”, disse Renan Palmeira.
Já conforme a psicóloga Ana Sandra, práticas para reverter a sexualidade de pessoas não fazem parte do currículo do curso de psicologia e que se algum profissional introduz essa técnica com algum paciente, não aprendeu na faculdade.
“Não aprendemos a fazer terapia de reversão de sexualidade. Se tem alguém oferecendo esse tipo de serviço, aprendeu em outro lugar, não foi na Universidade”, destacou Ana Sandra.
Ainda de acordo com a psicóloga, uma terapia de reversão de sexualidade seria pior para o paciente, baseada em estudos internacionais da área. “Não existe proibição de que nenhum psicólogo atenda qualquer pessoa com sofrimento, inclusive relativo às questões de sexualidade. O psicólogo não pode oferecer de maneira nenhuma uma reversão de sexualidade, pois segundo os estudos internacionais isso seria pior”, completou a psicóloga.