Moeda: Clima: Marés:
Início Geral

Descontinuidade

O nepotismo figura, no imaginário do brasileiro, como um dos principais problemas a ser atacados na gestão pública.

E o é de fato – especialmente quando proporciona nomeações dos incompetentes que cercam os poderosos de plantão.

Mas, na escala dos malfeitos, o emprego de parentes e aderentes não ganharia o primeiro lugar no pódio do dano ao erário.

Esse lugar pertence – pelo potencial destrutivo – a um fenômeno corriqueiro no setor público brasileiro:

A descontinuidade de gestão.

Essas interrupções são absolutamente fatais – brecando projetos, desconstruindo investimentos.

E colocando o País numa pausa eterna que nos transforma numa espécie de pátria de Sísifo, condenada a repetir infinitamente ações fadadas ao fracasso.

Razões pelas quais apoio e valorizo a gestão com profissionais de carreira – uma visão, aliás, que forjei dentro do setor privado, onde a longevidade funcional é muito bem vinda.

Ao contrário da área pública, onde a cada quatro anos se costuma trocar quase que integralmente os quadros, a empresa privada valoriza a experiência e a continuidade da gestão.

Alguns dos meus colaboradores, por exemplo, atuam ao meu lado há mais de 30 anos. E essa constância se reflete, positivamente, na dinâmica da empresa.

Decreto baixado esta semana pelo Governo Temer mostra que o setor público finalmente começou a enxergar os benefícios da gestão continuada. Nele é fixado, em até 60%, o percentual mínimo de ocupação dos cargos em comissão por servidores efetivos.

A nova regra vale para os cargos chaves do grupo Direção e Assessoramento, os mais bem remunerados do setor público.

Desta forma, o Planalto abraça fortemente a meritocracia.

E instala – não sem atraso – uma política que (diga-se de passagem) é lugar comum nos países onde a coisa pública é tratada com mais seriedade.

Numa nação como os Estados Unidos, por exemplo, a curadoria de um museu jamais seria ocupada pelo filho que não deu certo de um político cacifado.

E a diretoria de um hospital não seria cargo adequado para quem nunca pisou os pés numa faculdade de medicina.

Mais do que colocar a pessoa certa no lugar certo pelos motivos certos, as novas regras aportam num cenário em que, finalmente, se começa a entender que os mandatos são temporários. Mas as demandas da nação são contínuas.

E que a aldeia deve seguir tocando a vida mesmo com a troca dos seus caciques.

A mudança, de fato, é estratégica para interromper esse ciclo tão nefasto de descontinuidade na gestão pública.

Mudanças de governos não podem mais legar ao País prejuízos de obras paralisadas, ações engavetadas, projetos largados no meio do ringue político, onde sempre desenrola briga fratricida pelo poder.

Um panorama que, infelizmente, se repete de forma prodigiosa na Paraíba.

Quanto tempo, recursos e energia foram gastos em vão, irremediavelmente (e propositalmente) perdidos por (in)conveniência política?

Retaliações que danificam no plural em nome de interesses singulares.

A pluralidade tem que prevalecer.

E esta conquista passa necessariamente pela garantia de que as pessoas certas (leia-se funcionários de carreira) continuarão nos lugares certos, tocando esse complexo projeto de nação que chamamos Brasil.

Palavras Chave

Portal Correio
publicidade
© Copyright 2024. Portal Correio. Todos os direitos reservados.