Trinta e cinco rendeiras dos municípios de São Sebastião de Umbuzeiro, Zabelê, Monteiro, Camalaú e São João do Tigre tiveram a oportunidade de mostrar, nessa quarta-feira (29), a união do próprio trabalho com a renda renascença e a arte do artista plástico paraibano Flávio Tavares. O encontro entre pintura e renda tem o estilista Ronaldo Fraga à frente, resultando na coleção #SomosTodosParaíba. O desfile com as peças produzidas aconteceu no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa.
Ao som da cantora Sandra Belê, filha de rendeira e nascida no Cariri, as peças foram apresentadas ao público, que lotou o desfile. “Acertamos, sem dúvida alguma. Além disso, levar o Salão de Artesanato de volta à praia foi essencial. Conseguimos bater recorde de vendas, em termos financeiros, e até agora mais de 50 mil peças já foram vendidas”, destacou o governador João Azevedo, que prestigiou o desfile.
“A coleção #SomosTODOSParaíba exprime todos os nossos sentimentos juntos. É a mistura de tudo que temos de rico e a comprovação que podemos sonhar com um mercado que pede inovação, singularidade e beleza. As rendeiras com a delicadeza da renascença, orientadas pelo espírito de vanguarda do estilista Ronaldo Fraga e inspiradas pela obra de Flávio Tavares. Indescritível, emocionante, perfeito”, enfatizou a gestora do Programa do Artesanato Paraibano, Marielza Rodriguez.
O estilista Ronaldo Fraga afirmou que o desfile revelou diversas manifestações da cultura brasileira, com música paraibana, moda e o saber fazer tradicional. “Costumo dizer que o amálgama da cultura brasileira é o Nordeste, e o amálgama da cultura brasileira no Nordeste é a Paraíba, sem dúvidas. A Paraíba tem muita coisa e tem algo aqui que é ainda mais valioso do que qualquer artesanato: o povo. A cultura, com o mínimo de incentivo, tende a florescer porque a gastronomia dialoga com música, que dialoga com a renda e o bordado”, afirmou.
Por sua vez, o artista plástico Flávio Tavares se mostrou emocionado por ter sido inspiração para a coleção. “Ter sido escolhido foi um prêmio. As rendeiras são magníficas e o Cariri está de parabéns. Elas só acrescentaram ao meu vocabulário plástico e isso me emociona de um modo que não sei nem como expressar. Quando vi a transmutação das formas em roupa, senti que a arte tem um sentido maior, ganhou vida”, declarou.
A gerente regional do Sebrae em Monteiro, Madalena Arruda, destacou a criação do Centro de Referência de Artesanato de Monteiro (Cram), espaço pensado para exposição dos produtos feitos pelas rendeiras do Cariri, mas que também será, ao mesmo tempo, museu, memorial e local de capacitações. O local será montado por meio de parceria entre o Sebrae Paraíba, Governo do Estado e Prefeitura de Monteiro. “Será um lugar voltado ao desenvolvimento sustentável, fomento da renda renascença e o desenvolvimento regional do Cariri”, disse.
Em relação ao trabalho apresentado no desfile, a gerente enfatizou que o foco foi o acesso a novos mercados, consolidação do fomento ao empreendedorismo para as rendeiras e valorização do cooperativismo e associativismo. “Até mesmo o nome da coleção considera o sentimento de pertença da cultura paraibana e significa o resgate da arte dessas mulheres, bem como a valorização de suas tradições e preservação da etnia. O conjunto de oficinas ministradas pelo estilista Ronaldo Fraga, inspiradas na obra do artista Flávio Tavares, foi importante para a inovação, economia criativa e desenvolvimento regional local”, explicou Madalena Arruda.
Rendeira desde os 10 anos, Fátima Suelene Cavalcanti é de São João do Tigre e é uma das mestras que, além de dominar pelo menos 130 pontos na renda, também ministra aulas e treinamentos por meio da agência do Sebrae em Monteiro.
“Para mim, essa coleção foi muito importante, porque passamos por muitos momentos emocionantes em que achávamos que não iríamos dar conta, mas o Ronaldo acreditou no nosso desempenho. Mostramos que somos mulheres guerreiras e temos mãos de fada”, disse.
A mestra ainda salientou que o Sebrae, desde 2005, tem dado suporte para que o potencial local seja fomentado. “O Sebrae tem dado muita assessoria e cursos para que possamos caminhar com nossas próprias pernas, acreditando sempre em nós. O que posso dizer é que tiro o chapéu para o Sebrae”, comentou.