Estudo publicado na Revista Brasileira de Enfermagem mostrou que a desigualdade de renda e o maior adensamento familiar (domicílios com três ou mais moradores por dormitório) foram responsáveis pelas maiores taxas de incidência da Covid-19 e de mortalidade em decorrência da doença. Na Paraíba, a taxa de incidência foi de 2.516,26 (por 100 mil habitantes) – a 2ª maior do Nordeste – e a mortalidade foi de 57,44 (por 100 mil habitantes), a 4ª maior na região.
A análise é de autoria de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Universidade de Sevilha (Espanha) e da Escola Andaluza de Saúde Pública (Espanha). A pesquisa considerou dados levantados até o dia 23 de agosto deste ano.
De acordo com o estudo, fatores socioeconômicos, demográficos, epidemiológicos e da estrutura do sistema de saúde explicam quase 60% da variação da incidência da Covid-19 nos estados brasileiros. No caso da mortalidade, esses mesmos agentes explicam quase 58% da variação registrada nos estados. As maiores taxas de mortalidade foram registradas nas regiões Norte e Nordeste.
Um dos autores da pesquisa, o professor da UFPB Alexandre Medeiros conta que as taxas de incidência e de mortalidade foram bastante distintas entre os estados – o que mostra a heterogeneidade da trajetória da pandemia do novo coronavírus no país. As taxas foram mais altas nos estados com maior desigualdade na distribuição de renda e maior adensamento familiar, fator que contribuiu para maior chance de contaminação.
Foram consideradas informações extraídas de bancos de dados de fontes oficiais, a exemplo do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A dimensão socioeconômica, que contempla o rendimento domiciliar per capita e o adensamento familiar, foi, portanto, a de maior impacto nos resultados encontrados.
De acordo com Alexandre Medeiros, a pandemia no Brasil evidenciou a questão social, no que toca especialmente à desigualdade de renda domiciliar e às condições de moradia.
“As políticas não podem ser somente no âmbito da saúde, precisam ser mais abrangentes. São necessárias estratégias de enfrentamento que contemplem ações intersetoriais, visando garantir condições sanitárias e econômicas para que as populações vulneráveis possam realizar as ações de prevenção preconizadas, bem como é preciso o fortalecimento das redes de saúde para atender essas populações”, enfatiza.