Acredite: o título que escolhi para o texto de hoje não é uma provocação vazia. No Brasil, dinheiro realmente não é a problemática a ser atacada.
E nem poderia ser, tendo em vista a colossal máquina de arrecadação montada pela União, que extrai dos bolsos dos brasileiros uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Com tantos tentáculos abastecendo os cofres públicos, sobram recursos no Pais. E os números provam isso.
A peça orçamentária aprovada pelo Congresso Nacional prevê nada menos do que R$ 2,488 trilhões para este ano. Do total previsto, R$ 106 bilhões vão para a saúde. Já a educação tem receita estimada de R$ 186,6 bilhões – R$ 82,3 bilhões para manutenção e desenvolvimento do ensino e R$ 104,3 bilhões para a educação elementar.
Só as cifras que vitaminam nossos serviços essenciais – saúde e educação – são mais significativas do que muitos PIBs (produtos internos brutos) da maioria dos vizinhos da América Latina.
É maior, por exemplo, do que o PIB medido em 2011 pelo Fundo Monetário Internacional na Bolívia, quando o total das riquezas produzidas alcançou 50.904 bilhões de dólares.
Ou ainda do Uruguai, cujo PIB medido pelo FMI, naquele ano, estacionou em 50.908 bilhões de dólares.
Olhando para o Brasil da fartura orçamentária, uruguaios e bolivianos – que dispõem de apenas US$ 50 bilhões para pagar suas despesas integrais – poderiam jurar que temos os melhores níveis de educação e saúde do mundo.
Mas quem acessa as redes publicas sabe que as salas de aulas e corredores dos hospitais não refletem os patamares que os investimentos sinalizam. Nem de longe.
Assombrados pela corrupção, muitos brasileiros apostam que o xis da questão está em responder a seguinte pergunta: para onde vai tanto dinheiro?
A pergunta elementar, porém, não é essa.
É esta aqui: como o gastamos?
De fato, o Brasil vem comprovando de forma pragmática há várias peças orçamentárias que ter dinheiro não é garantia de resolução de nossos problemas. Pois o dilema que não temos – a falta dele – esbarra em uma questão crucial: o que fazemos com ele.
A despeito da fartura, os recursos não resistem a ausência de gestão, combinada com a má fiscalização e as muitas mãos que impedem que cheguem ao destino.
E o conjunto desses fatores fecha com uma conta amarga: a subtração das riquezas do País, que deveria – há muitos verões e invernos fiscais – estar voltando para seu povo na forma de serviços de excelência.