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Dois atos, duas faces

Primeiro ato: arregimentados via redes sociais, jovens de periferia orquestram invasão (ou, como chamam, um “rolezinho”) a Shopping Center para tomar, de assalto, desejos de consumo.

Segundo ato: com dispositivos portáteis, conectados a internet, banhistas da orla pessoense registram perigosos voos rasantes de uma aeronave. As imagens ganham o mundo, chegam aos birôs da Polícia Federal, que detém o piloto no momento da aterrissagem.

Dois atos, um fenômeno: o potencial da quebra de paradigmas patrocinado pela era tecnológica, criando a sociedade em rede, modificando a produção e acesso a informação, abrindo espaço para a expressão das singularidades.

Dois atos, dois usos: um para a criminalidade que se supõe anônima na “terra de ninguém” do web espaço. Outro para dar suporte aos aparatos de segurança e evitar acidentes trágicos.

E diante de tantos usos, tantos fenômenos – que migram de um extremo ao outro na escala de valores – uma necessidade se impõe: a urgência de estabelecer controles na operacionalização desses instrumentos fantásticos que compõem as redes sociais.

A gente já sabe que não existe mais privacidade. Sabe que Obama espreita todos os nossos passos e até enamorados traem suas intimidades, transformando amor em crime cibernético.

O potencial de conflito das redes sociais nos obriga, porém, a reflexão: onde vamos parar?

Não se trata de cerceamento nem de censura. Assim como disse a presidenta, prefiro o barulho ao silêncio da opressão. Será, contudo, que estamos preparados para essa grita ensurdecedora?

Do auto engano – como a felicidade sem abalos nem intervalos que se ostenta no facebook, onde todos são tão eternamente felizes que me inspirou a cunhar uma nova identidade para a rede social, o “falsobook” –  até as identidades falsas, como as usadas pelos jovens invasores de propriedade alheia, tudo neste novo instrumento demanda atenção.

Penso que as empresas que atuam na web precisam sair de suas zonas de conforto e assumir co-responsabilidades. Pois os logins podem até ser falsos, mas a identidade das máquinas de onde partem as informações criminosas – como as que alertam através do aplicativo Waze sobre blitzen, impedindo o trabalho efetivo da polícia – não mente jamais.

O resumo dessa ópera tecnológica é que as pessoas precisam ser responsáveis pelas ações e informações que produzem na surdina da web. Precisam lidar com o ônus e o bônus de seus atos.

É assim que funciona fora da rede. E foi assim, punindo e exaltando quem merece, que chegamos ao século XXI retardando a barbárie.

Se a web continuar terra de ninguém, território dos anônimos com suas mais distintas inclinações, a sociedade da expressão das singularidades descambará para uma rede de inimputáveis.

Quem controlará os bárbaros pós-modernos?

 

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