Quando Donald Trump asfaltava seu caminho à Casa Branca, milhões de vozes ao redor do mundo se erguiam contra a eleição de um magnata conservador, cujas ideias controversas teriam potencial para alterar drasticamente a fisionomia política e econômica da maior nação do planeta.
Hoje sabemos que essa grita toda foi inútil. O que alardeavam, porém, começa a fazer sentido.
A pergunta que se impõe às vésperas da posse do republicano é estratégica e crucial:
O mundo deve mesmo temer Trump?
Eu, que durante todo o processo eleitoral americano fiquei neutro (nem simpatizava com a democrata Hillary Clinton, nem conhecia Trump o suficiente para temê-lo ou apreciá-lo), confesso que começo a me somar à onda de atormentados com o novo governo.
Um temor que está relacionado diretamente às suas escolhas na formação da equipe de governo.
Destaco, entre elas, a nomeação do promotor Scott Pruitt para comandar o Ministério do Meio Ambiente.
Pruitt está para as questões ambientais como a raposa está para o galinheiro.
Simples assim.
O promotor, que atualmente é secretário de Justiça do estado de Oklahoma, é um duro oposicionista às ações promovidas pelo presidente Barack Obama para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
É autor, inclusive, de diversas demandas judiciais em tramitação contra a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA), que agora passará a dirigir.
O raciocínio e as ações de Pruitt são diretos: tudo o que atrapalhar o desenvolvimento industrial deve ser posto de lado.
O lado dele, aliás, é o da indústria de energia fóssil.
Para embrulhar bem suas ideias e atitudes, adota posturas céticas em relação aos achados das pesquisas científicas sobre os efeitos da queima de combustíveis fósseis.
Ele é uma das figuras de proa de um movimento americano que nega a existência do aquecimento global e sua vinculação com o consumo dessas energias – notadamente petróleo e carvão.
Não sem razão, sua nomeação tem sido entendida, por setores ligados ao meio ambiente, como triste e perigosa.
Mas o que, exatamente, o cidadão brasileiro Roberto Cavalcanti (com tantos problemas made in Brazil para equacionar) resolveu se ocupar com os problemas americanos?
Porque vivo e sobrevivo no Nordeste do Brasil, região que enfrenta um crítico agravamento das condições climáticas.
E do lado de lá está uma nação que ocupa – nada mais nada menos – que o segundo lugar no ranking mundial de emissões de gases do efeito estufa. Se eles relaxam suas políticas de controle ambiental, o dano será de fato sufocante (aqui e alhures).
Pelo andar dessa carruagem, a tragédia está praticamente anunciada.
Pois de forma claríssima, o presidente Trump sinaliza que irá recuar diversos passos na trajetória de avanços lentos dados pelo seu antecessor, retirando leis e regulamentações para a proteção ambiental e o combate ao aquecimento climático.
A perspectiva é que ele rasgue, inclusive, o acordo sobre o clima firmado em 2015 com mais 192 países.
A mensagem que Trump dá ao mundo com seu ministro de meio ambiente é que a chaminé americana seguirá a pleno vapor.
Um sinal de que – sim – a era Trump inicia de forma temerosa…