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Efeito ferradura

Domingo, 15 de novembro de 1970 – uma data histórica, em que os brasileiros puderam voltar às urnas, pós 64, para eleger seus representantes na Câmara Federal. Em Pernambuco, de onde assistia tudo isso, observava um fato no mínimo curioso:

Os dois extremos da política pernambucana – esquerda e direita radicais – se uniram para eleger um nome de projeção nacional que disputava assento no parlamento federal.

Eles tiveram sucesso. Mas eu continuava sem entender: como correntes ideológicas e políticas tão antagônicas costuraram aquela convergência inusitada?

A lógica do jogo me foi explicada de uma forma exemplar: estava em curso, ali, o efeito ferradura.

Ainda sem entender, desenhei. E a obviedade ficou clara: o semicírculo da ferradura termina com os dois extremos da linha ladeados, aproximados.

O tempo me confirmou que os extremos realmente são de fato muito próximos – na ferradura e na vida.

Naquele momento, a união interessava aos radicais de esquerda e de direita para legitimar a primeira eleição depois da revolução.

Mais de quarenta anos depois, volto a assistir a reedição desse fenômeno.

Estamos todos enxergando a convergência insólita de dois extremos. Só que com intentos bem menos republicanos.

De onde espreito este instante histórico, vejo surgir essa atípica união para combater o que julgam um mal comum: o esforço inédito da República de Curitiba para investigar e punir operadores da sangria dos cofres nacionais.

De um lado, Lulistas esperneiam em praça pública e acionam até organismos internacionais para se isentarem do crivo judicial; de outro, mentores do impeachment demonstram, por A + B, que desejam a mesma blindagem.

Assistimos, por exemplo, a tentativa de descriminalizar mal feitos. E até de enquadramento das competências de magistrados.

Onde está o mal tramado igualmente entre estes militantes supostamente antagônicos?

A obtenção – imperdoável – da impunidade.

Falam em estado policialesco; denunciam dribles na Carta Magna. E é óbvio que nenhum cidadão desse País deseja que a Constituição seja rasgada ou ignorada.

Mas a partir da República de Curitiba – e continuo tratando assim (embora consciente de que a alcunha foi forjada de forma pejorativa), pois entendo que esta é, de fato, a república que o Brasil deseja ter – acontece um fenômeno que sempre reclamamos da Justiça: celeridade e tratamento equânime.

Ou não foi sempre isso o que cobramos? Uma Justiça que age rápido e não discrimina ricos e pobres; cidadãos ordinários de poderosos?

Este juízo, porém, contraria muito interesses.

E é por isso que o efeito ferradura volta a agir na política brasileira.

Trata-se de uma tentativa desesperada de desacreditar e sepultar a República de Curitiba.

Um funeral que os brasileiros de bem jamais poderão permitir que aconteça nesta nação enlutada pela corrupção.

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