Há 30 anos, víamos a hipertensão arterial como uma doença associada apenas à velhice. Afinal, a partir dos 40 anos de idade nós tendemos a aumentar, por ano, dois milímetros de mercúrio da pressão arterial, devido ao envelhecimento cardiovascular. Mas a doença tem crescido entre jovens adultos brasileiros: um estudo da Vigitel 2018, do Ministério da Saúde, apontou um aumento de 14,2% da hipertensão nesse público nos últimos dez anos.
Hoje a enfermidade é chamada de hipertensão essencial pelos profissionais de saúde, pois não há uma única causa identificável para o estabelecimento dela. Sabe-se, porém, que fatores genéticos têm relação com doença: pessoas com pais hipertensos têm 50% de chances de desenvolvê-la.
Afora esse motivo, por que ela tem ocorrido tanto em adultos jovens? O uso de álcool, drogas e as mudanças no estilo de vida que agregam fatores estressores, seja no trabalho ou na conduta do indivíduo, estão relacionadas ao surgimento da doença, aponta a Profa. Ma. Jennifer Suassuna, de Educação Física do Unipê.
Mas há mais causas: são exemplos os maus hábitos alimentares, com o consumo de ultraprocessados (associado inclusive com a obesidade) que provocam sensações como a vontade de comê-los novamente, e o comportamento sedentário trazido pela tecnologia. “Os meios de transporte e até o próprio trabalho das pessoas hoje é muito mais sedentário do que era há 15 ou 40 anos”, conta Jennifer, que trabalha com grupos especiais, incluindo hipertensos.
Hipertensão e comorbidades
A docente lembra que hipertensão, obesidade, diabetes do tipo 2 e os distúrbios do sono partilham de desajustes de mesma ordem, por exemplo, a hiperatividade simpática. Por isso é comum ver um obeso, por exemplo, virando hipertenso ou ter as demais doenças (ou todas ao mesmo tempo). Elas têm relação, mas uma não necessariamente ocasionará a outra.
“Há pessoas que são eutróficas e que muitas vezes podem até ser ativas fisicamente, bem nutridas, e por serem muito estressadas e levarem um estilo de vida mais difícil, uma profissão um pouco mais complicada, acabam ficando hipertensas”, diz Jennifer.
Nesse cenário, o contexto social é outro fator: a ansiedade está presente na vida de muitas pessoas com o estilo de vida célere e dinâmico da atualidade, e as frustrações da rotina favorecem para que estados de estresse aumentem a pressão arterial. “Se você tem uma condição de estresse frequente, pode chegar a um momento que você será hipertenso por sustentar essa condição”, pontua.
Hipertensão e envelhecimento
A hipertensão é associada à velhice por conta do envelhecimento cardiovascular. “Isso está relacionado à vários mecanismos fisiológicos, como rigidez arterial, diminuição da produção de substância vasodilatadora, aumento da atividade simpática, que é quem aumenta o estresse no vaso. Vários fatores convergem para o aumento da pressão”, enfatiza.
Portanto, mesmo os indivíduos com pressão normal, por exemplo, precisam mudar hábitos para deter a esse avanço, como buscar uma alimentação e um estilo de vida mais saudáveis, incluindo a prática de exercícios físicos. Do contrário, ao atingir os 60 anos eles podem se tornar hipertensos, conclui a especialista.