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Entidades acusam Israel de descumprir ultimato dos EUA para amenizar crise humanitária em Gaza

Washington, a partir de dados de Tel Aviv, diz ter concluído que aliado adotou medidas necessárias e não prevê sanções
Homem é resgatado de escombros de casa colapsada após bombardeio israelense em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza (Imagem: Omar AL-QATTAA / AFP)

Terminou nesta terça-feira (12) o prazo de 30 dias que os Estados Unidos deram a Israel para que este amenizasse a crise humanitária na Faixa de Gaza. Organizações afirmaram que as diretivas não só foram descumpridas no período, como a situação se agravou de forma dramática, em especial no norte.

Não foi a avaliação dos EUA. O Departamento de Estado americano disse que concluiu que Tel Aviv não está impedindo a assistência humanitária em Gaza e, portanto, não está sujeito a uma lei americana que interrompe o envio de armas a países que impedem a entrega de ajuda a civis em zonas de conflito.

O governo Joe Biden havia enviado em 13 de outubro uma carta a Israel em que advertia sobre a legislação e dava ao Estado judeu 30 dias para tomar uma série de medidas para crise humanitária em Gaza. A lista incluia o envio de 350 caminhões com mantimentos por dia , o estabelecimento de um novo ponto de entrada e saída do território sob cerco e a limitação das ordens de deslocamento forçado da população ao estritamente necessário.

Na segunda-feira (11), Israel afirmou que tinha cumprido a maioria das demandas dos americanos, e na terça, seu Exército anunciou que havia entregado centenas de pacotes de alimentos em áreas isoladas do norte de Gaza, além de ter reaberto a passagem de Kisufim de modo a permitir a entrada de ajuda humanitária.

O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, recusou-se, porém, a dizer se os critérios estabelecidos pela carta tinham sido cumpridos por Tel Aviv em um encontro com jornalistas na terça. Em vez disso, afirmou que Israel tomou as medidas necessárias para solucionar essas questões e que os EUA continuariam a avaliar a situação continuamente.

“Vimos alguns progressos”, disse ele, reconhecendo em seguida que seu país gostaria de ver ainda mais melhorias. “Acreditamos que, se não fosse pela intervenção americana, essas mudanças talvez não tivessem acontecido nunca.” Ele não respondeu por que Washington optou por levar em conta as informações fornecidas pelos israelenses em vez de medir os resultados na prática, como prometido.

A embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, demonstrou a mesma postura autocongratulatória ao comentar o assunto no Conselho de Segurança, órgão mais importante da entidade. “Graças à intervenção dos EUA, Israel tomou algumas medidas importantes” para abordar “a incontestável crise humanitária”, disse.

“Ainda assim, Israel deve garantir que suas ações sejam totalmente implementadas, e que as melhorias sejam mantidas”, prosseguiu, acrescentando que o Estado judeu não deveria permitir deslocamentos forçados ou a manutenção de uma “política da fome” em Gaza e que ações do tipo teriam graves implicações ante as legislações americana e internacional.

No mais, a influência da administração democrata sobre Israel diminuiu consideravelmente quando Donald Trump foi proclamado presidente eleito dos EUA, na semana passada. Aliado do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, ele provavelmente reverteria qualquer sanção militar contra o país no Oriente Médio assim que tomasse posse, no ano que vem.

As forças israelenses voltaram a avançar sobre o norte de Gaza há mais de um mês, cercando hospitais e abrigos para refugiados e exigindo que moradores locais se desloquem para o sul em uma operação que, segundo os militares, busca impedir a reorganização do grupo terrorista Hamas na área.

O objetivo declarado de Tel Aviv na guerra é extinguir completamente a facção, que matou mais de 1.200 pessoas e sequestrou outras 240 ao invadir o sul de Israel em 7 de outubro de 2023 -sua resposta militar em Gaza, por sua vez, já matou de 43 mil pessoas nos cálculos das autoridades de saúde locais, ligadas ao Hamas.

Louise Wateridge, porta-voz da UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, afirmou a jornalistas em Genebra nesta terça que o número de caminhões de ajuda que adentram o território “não é o suficiente”.

Questionada sobre o que esperava dos EUA em relação ao prazo, respondeu que “qualquer coisa que aconteça agora já é tarde demais”. “Milhares e milhares de pessoas morreram sem motivo, porque falta ajuda, porque as bombas continuam, porque não conseguimos nem ao menos chegar a quem está sob os escombros.”

Joyce Msuya, chefe interina do Ocha, escritório de ajuda humanitária da ONU, foi outra a denunciar a “crueldade rotineira” sofrida pela população de Gaza. “Somos testemunhas de atos que remetem aos mais graves crimes internacionais”, disse ela nesta terça ao Conselho de Segurança do organismo multilateral.

Na semana passada, o Ocha havia divulgado que quase 70% dos palestinos que morreram em meio aos enfrentamentos e tiveram suas identidades confirmadas eram mulheres e crianças.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, tinha dito na véspera que as ações israelenses violam as leis que regem a guerra. “A expressão ‘limpeza étnica’ está sendo cada vez mais usada para descrever o que vem ocorrendo no norte de Gaza”, disse ele em um fio no X na segunda-feira.

Israel afirma que, no mês passado, uma média de 57 caminhões entraram em Gaza por dia, e que esta média subiu para 81 na primeira semana de novembro. A ONU estima que essa cifra seja na verdade de 37 caminhões por dia desde o início de outubro -o número não só é menor do que aquele fornecido por Tel Aviv como é uma mera fração dos 600 exigidos para suprir as necessidades básicas do território.

Projeções do organismo multilateral indicam que 91% da população do território deve enfrentar altos níveis de insegurança alimentar nos próximos meses.

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