O último conflito bélico que o Brasil deflagrou foi há mais de 146 anos, quando formou a triple aliança com Argentina e Uruguai para combater o avanço do Paraguai sobre o Sul do País. Estava armado ali o estopim do maior confronto da América do Sul.
Apesar de (sempre) preferir a paz, talvez nos faça falta a experiência e a lembrança amarga de um conflito – com todas as suas catástrofes, desgraças e desordens econômicas. Porque, aí sim, estaríamos mais preparados para um esforço de guerra.
E é um verdadeiro regime de guerra – sem mortes, graças a Deus – que o Brasil precisa encarar para sair do fosso que os gastos perdulários e a corrupção desenfreada escavaram sobre as finanças do País.
A nação, tão dilapidada, precisa desse esforço coletivo.
Mas resiste.
Tenho assistido a todo tipo de análise e crítica sobre a necessidade de uma Proposta de Emenda Constitucional que congelará nosso orçamento por 20 anos.
A pergunta mais recorrente centra foco na real necessidade de uma lei que nos impõe contingenciamento tão longo.
Confesso que também tenho minhas dúvidas, até porque em economia ninguém é dono da razão.
Entre os muitos setores que se levantam contra a PEC 241, os de cunho ideológico são os mais curiosos. E também os mais revoltantes.
Ser contra sim. Mas ser contra para não permitir que o País dê certo, não. Nunca.
E é exatamente isso que move o bloco dos desalojados da corrupção – os mais radicais e mais ferrenhos defensores de que se mantenha tudo como dantes no quartel de Abrantes. Pois se recusam a soltar a boca que mantinham nas tetas da mãe gentil.
Mas eles terão que desmamar, mesmo fazendo tanto barulho e contaminando tantas mentes inocentes e alheias aos seus reais propósitos.
Obviamente, a resistência a PEC não se circunscreve aos órfãos da mamata. Alguns são bem intencionados, só não estão dispostos a enfrentar o sacrifício.
O fato é que, entre os que resistem e os que deliberadamente são instigados pelas piores e mais inconfessáveis das intenções, não se assiste hoje – de nenhuma parte – movimentos determinados a combater o ralo de rapinagem aberto justo nas duas rubricas mais comentadas nesse congelamento orçamentário global: saúde e educação.
E o fato inconteste – fartamente comprovado nos inúmeros processos em curso nos ministérios públicos – é que a mão grande da corrupção se levanta, insaciável, exatamente sobre estes dois setores que têm tetos obrigatórios de gastos.
Insisto: é justamente na saúde e na educação que ocorrem os maiores desvios, os mais descarados roubos e os mais espúrios acordos.
Trata-se do néctar das abelhas da corrupção.
E essa sangria não tem merecido nenhuma passeata de protesto; nenhuma paralisação de categorias profissionais; nenhuma contestação pública.
Ninguém marcha contra a corrupção que mantém a saúde na UTI e a educação na seara das exclusões e nos níveis de avaliações equivalentes aos países mais pobres do mundo.
Enquanto ignoramos o problema, o olho gordo do mercado devora as receitas de duas áreas tão essenciais.
E eles provocam estragos:
Toneladas de livros são incinerados a cada ano letivo, obrigando reedições que rechearão caixas 2 de campanhas.
Programas de informática são superfaturados.
Licitações de equipamentos escolares com cartas marcadas geram brigas de fornecedores.
Lotes de remédios são entregues com quantidades subtraídas, apostando na incapacidade dos governos de fazerem a conferência do que compram.
São tantas e tão bem urdidas armações a dilapidar os orçamentos da saúde e da educação que – não tenho dúvida – o estancamento dessas práticas proporcionaria serviços de primeiro mundo aos brasileiros.
Desafortunadamente, a saúde e a educação seguem sendo dois setores pobres sustentando esquemas multimilionários.
E – repito – ninguém se manifesta contra essa roubalheira.
Ninguém fecha o ralo da corrupção. E só briga para manter a torneira aberta.
Enquanto a nação exige que os brasileiros empunhem suas armas e declarem guerra – contra a corrupção; contra o caos fiscal; contra esse descarrilamento que nos expurga dos trilhos do desenvolvimento.