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Especialista faz alerta e esclarece sobre coronavírus; assista

O Sistema Correio de Comunicação está engajado na campanha contra o Coronavírus – Covid-19 – e para evitar que as notícias falsas – fake news – se propaguem, criando pânico na população, todas as plataformas que fazem parte do grupo transmitiram uma live da campanha de prevenção: ‘Coronavírus – a prevenção ainda é o melhor remédio – uma campanha do Sistema Correio pela vida’. Assista acima.

O entrevistado foi o infectologista Fernando Chagas, especialista que compõe o corpo médico do Complexo Hospitalar Clementino Fraga, uma das unidades de referência para atendimento de casos suspeitos de coronavírus no estado.

Intermediada pela apresentadora Bruna Borges, a entrevista ao vivo teve o objetivo de esclarecer a população e falar sobre cuidados e precauções no combate à doença. A live integrada foi transmitida pelo Youtube TV Correio, Facebook Portal Correio, Facebook 98 FM, Instagram TV Correio, Instagram Jornal Correio e Instagram 98 FM.

Pingue pongue 

Bruna BorgesEstamos estreando agora a campanha ‘Coronavírus – a prevenção ainda é o melhor remédio’. Queremos evitar que surjam notícias que causem pânico. Já tivemos casos notificados, suspeitos e agora quatro casos aguardam resultado de exames.

Fernando Chagas – Este é o momento importante de combatermos as fake news e reforçarmos as informações que dizem respeito à prevenção. Atualmente, são quatro casos suspeitos na Paraíba, dois casais que vieram da Europa. Na medida em que a doença vai avançando, a gente vai considerando outros países. Além da China, França, Itália, temos agora Estados Unidos dentre aqueles que possam ter transmissão. Vindo desses países, além do quadro gripal até 14 dias da chegada da viagem, avaliamos a necessidade de internação. Eles têm um quadro leve e podem ser acompanhados em casa, numa espécie de isolamento familiar. É uma boa medida e nos deixa tranquilos, sem risco de evoluir para uma forma grave.

 A Secretaria de Estado da Saúde (SES) está acompanhando a evolução do quadro. Quais são os sintomas da doença?

Os sintomas são febre associada a um sintoma respiratório, como tosse, espirro, coriza, além de queda do estado geral, dificuldade de respiração. Esses pacientes não estão com sintomas que requerem hospitalização. Teoricamente, está tudo tranquilo, mas é preciso um acompanhamento de perto da Vigilância municipal e estadual. Se surgir algum sintoma além, é preciso procurar o Hospital Clementino Fraga.

Já foram confirmados casos na China, França, Itália e agora nos EUA. Em razão disso, o número de casos pode aumentar?

No Brasil, são dois casos confirmados, mas não são casos de transmissão dentro do país. Essas pessoas adquiriram o vírus lá fora e foram diagnosticadas aqui. Nos EUA, começaram a surgir casos de transmissão dentro do país, fazendo com que entre na rota de vigilância. Apresentou sintoma de febre, vamos monitorar. Embora ainda não exista, há a possibilidade da transmissão dentro do país. A dengue, por exemplo, precisa de um mosquito para transmitir. O coronavírus ocorre por contato. Se relaxarmos no momento de prevenção, orientação e contenção, pode se espalhar.Tem que tentar conter. Idosos e pessoas com doenças, como do pulmão, têm que se precaver ainda mais.

Com a campanha, queremos mostrar que a população não precisa ficar tão nervosa e se preocupar além do necessário. Além do risco, as fake news pode criar uma situação de pânico entre as pessoas? O que não pode ser propagado?

Vou só citar um exemplo: Recentemente, uma família que passa por grandes dificuldades financeiras, por conta do medo, pegou um empréstimo para comprar vitamina C e D, máscaras e álcool gel. A vitamina D é cara e tudo isso mexeu com o orçamento da família. Mais: não tem comprovação de que a vitamina C faça o papel de prevenção, e a D muito menos. Também não há comprovação científica de que chá verde e alho atuem sobre a imunidade. O que é comprovado é a boa alimentação, pouco sal, exercício físico e boas noites de sono, ou seja, estabilidade. Fora isso, é fake news e não tem como a gente garantir.

No site do Ministério da Saúde, vimos uma notícia que o plástico bolha pode trazer o coronavírus. Isso é fake news?

É a mesma coisa de uma camisa comprada na China. Algumas teorias dizem que o vírus se mantém ativo em ambientes sólidos por nove dias, mas é só teoria. É tudo muito novo. Nada justifica comprar um produto da China e achar que vem contaminado. Porém, tudo que é novo gera medo.

Quais os cuidados básicos e necessários já que há dois casos suspeitos na Paraíba e dois confirmados no País?

Não há males que não tragam lições e que não sirvam para o bem. Por incrível que pareça, a população pode criar o hábito da etiqueta respiratória para proteger os outros do espirro, tosse, coriza. Proteja com o antebraço ou coloque as mãos e lave depois. Outro hábito que a gente bate na tecla, quando falamos de meningite, influenza, sarampo, é sempre lavar as mãos. É a medida mais simples e, com certeza, tem um impacto maior na redução de todas essas doenças. De repente, tiramos essa lição de tudo que está acontecendo, fazendo com que isso se transforme em hábito cultural.

Já está faltando nas farmácias máscaras, álcool gel. Quem deve usar a máscara e o álcool gel?

O álcool gel é necessário em situações em que a pessoa não tem como lavar as mãos. Ele serve para higienizar depois que se andou em um transporte coletivo, por exemplo, em que todos tocam nos mesmos lugares. A máscara, se a pessoa usa muito, pode esquecer a lavagem das mãos, da etiqueta respiratória. Além disso, quem tem que usar a máscara é quem está acometido, para não propagar. O profissional de saúde, que está lidando diretamente com todos os pacientes, também deve usar, mas no meio da rua, não há necessidade. Está se gastando dinheiro com uma máscara e causando pânico nas pessoas.

Qual o tratamento?

Em João Pessoa e Campina Grande, existem unidades de referência e existem doenças respiratórias como um todo: a gripe causada pela influenza, que mexe com todo o corpo, e o resfriado, que afeta as vias aéreas superiores, muito comum nessa época. Num resfriado, são usados medicamentos sintomáticos para dor de cabeça, por exemplo. No caso da gripe, que dá dor no corpo, queda do estado geral, tem que buscar atendimento médico e pode ser necessário tomar o medicamento Tamiflu, como nos casos de grávidas, diabéticos e idosos. No caso do coronavírus, o paciente chegou com um quadro pulmonar, entramos com tratamento para pneumonia, demos Tamiflu. Se evoluísse para forma grave, iniciaria tratamento com outras medicações.

Há motivo para pânico?

Não é motivo para pânico. Não temos vírus circulando aqui nem no país. Mesmo com dois casos comprovados, provavelmente, não está circulando. Os casos positivos vieram de fora. Já se alguém não viajou e apresentou a doença, pode ser que esteja circulando. E mais, trata-se de uma doença respiratória como H1N1 que está circulando e esta pode ser mais preocupante nos idosos, pessoas com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), doenças do coração. São populações que precisam de uma maior proteção porque nelas, a doença pode evoluir para uma forma mais grave.

No Nordeste seria mais difícil se propagar por causa do calor?

Não. Para o vírus ser desestruturado, precisa de temperatura média de 57 graus. Porém, há um detalhe que entre 30 e 40 graus eles passam mais tempo vivos em alguns locais. Nossa teoria é que o vírus passe menos tempo nos locais, na maçaneta de uma porta, em cima de uma mesa, porque a nossa temperatura faz com o vírus passe menos tempo nos locais. Além disso, por conta do calor, também diminui a aglomeração de pessoas. Então, isso significa que a capacidade de transmissão aqui é menor. Se está menos tempo na porta, a tendência é menos pessoas tocarem ali e ficarem com o vírus nas mãos. Mas, para destruir o vírus, a temperatura tem que estar mais alta. O calor não impede a propagação, até porque numa temperatura de 57 graus até nós morreríamos.

Quando as pessoas devem procurar as unidades de referência? Por livre demanda ou encaminhadas por uma Unidade de Saúde?

Podem procurar por livre demanda, mas as pessoas estão indo com quadros gripais, sem ter viajado, sem ter tido contato com casos suspeitos ou confirmados. Isso o sistema não suporta. Se for só uma gripe ou resfriado, procure qualquer unidade de saúde, que estão preparadas para agir e orientar. Mesmo assim, tem sido o grande diferencial em relação ao H1N1. A mídia é uma arma poderosa, informando e acalmando as pessoas. O ideal é aprender a questão da etiqueta respiratória e transformar isso em hábito.

Idosos são mais sensíveis a adquirir o coronavírus? 

Não. Eles são mais sensíveis em relação à presença do vírus no corpo. A cada dez anos de vida, aumenta substancialmente a possibilidade de evoluir para uma forma grave, inclusive a morte. Assim como em pacientes com asma, diabetes mellitus, doenças do coração. Nos jovens entre 20 e 29 anos, a probabilidade é de 0,4%.

Ainda não existem casos suspeitos ou confirmados em crianças, mas e quem tem criança na escola? As aglomerações levantam preocupação?

Por enquanto, não, mas quando o vírus começar a circular, sim. A gente não sabe ainda se as pessoas que adquiriram o vírus ficam assintomáticas, não se sabe se transmitiriam. Na Alemanha, um estudo mostrou que pessoas assintomáticas poderiam transmitir no período da janela imunológica. Na semana seguinte, o mesmo artigo caiu. Então, não se sabe se no período de incubação estaria transmitindo. Se sim, o quadro estaria maior. São 90 mil pessoas no mundo hoje infectadas.

O vírus ficou conhecido como italiano. Quando chega ao Brasil, sofre mutação?

Os últimos estudos têm mostrado sugestões de que os vírus tem tido mutações uma vez por mês, em média. Isso não é muito e significa que a esperança da vacina é real, diferente do vírus influenza que muda todo ano. Acredita-se que houve mutação (do coronavírus), mas é o mesmo vírus com mutações. No HIV, o paciente pode ter o vírus e a medicação vai controlar a doença, mas pode adquirir um vírus mutante resistente àquele medicamento. Acredita-se que o coronavírus na Itália tem características diferentes do que circula na China, fazendo com que se perceba que na Itália tenha uma proliferação maior. No Irã, a capacidade de causar morte tem sido maior. No Brasil, o vírus é o mesmo vindo da Itália.

Quais os locais de referência

Na Paraíba, há os hospitais de referência para o coronavírus, se confirmado algum caso, mas os pacientes podem buscar qualquer unidade de saúde que faz o encaminhamento. Os hospitais privados estão se preparando. Num primeiro momento, o Hospital Clementino Fraga recebe os casos suspeitos para adultos e o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) é voltado para a pediatria. Se o vírus começar a circular e surgirem novos casos, os hospitais privados devem estar preparados para, se possível, internar os pacientes e acompanhá-los. Esperamos que isso não aconteça. Em Campina Grande, o Hospital Pedro I está ofertando três leitos de isolamento.

A população tem acompanhado as entrevistas do médico no Sistema Correio. Se surgir alguma novidade, a quem recorrer para saber que está lidando com uma notícia verdadeira? Como ter certeza se os casos serão divulgados?

Nosso papel social é muito grande. O infectologista é uma especialidade médica muito próxima do povo. Vemos o povo como realmente é. É um papel social e faço questão de me fazer presente. Uma população bem informada adoece menos. Não é interesse do governo esconder. O papel da mídia, de orientar, é tremendo. Se em 2009, tivéssemos tido o mesmo quadro, de repente a epidemia não tivesse matado tanto.

É interessante as pessoas estarem prontas, mas tranquilas. O sarampo é muito mais complicado. Enquanto no coronavírus uma pessoa infectada passa para duas ou três, o sarampo passa para de uma para 18 a 20 pessoas. E temos vacinas. A febre amarela é uma doença extremamente perigosa. Se conseguimos controlar essas duas, com certeza conseguiremos controlar o coronavírus. Lavar as mãos com frequência faz com que se adoeça menos. Prevenção é tudo.

*Lucilene Meireles, do Jornal CORREIO

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