Talento, definitivamente, não aguenta desaforo:
Não trabalha onde não se sente bem; não mora onde não lhe convém; não aceita menos do que merece.
Por uma razão elementar: o talentoso sabe que, aqui ou alhures, carregará sempre sua capacidade consigo. E se dará bem de qualquer forma; onde quer que esteja.
E já que tem opções, se permite escolher o lugar mais confortável para colocar seu talento em ação.
E este lugar, definitivamente, não é o Brasil.
Neste instante, a casa brasileira não é nada segura.
E tem suscitado, cada vez com mais constância, as inquietantes interrogações:
Quanto tempo se leva para desacreditar?
Perder a esperança?
As respostas estão sendo dadas – e elas levam a uma preocupante e ascendente evasão de talentos do País.
Nunca tantos enxergaram que a saída está nos aeroportos.
A emigração que começou pelos gramados, com a exportação de jogadores, hoje se estende a todas as áreas de inteligência.
O Brasil, mergulhado em uma crise sortida, está expurgando o que tem de melhor:
O talento de sua gente!
São cientistas, empreendedores, publicitários, arquitetos, médicos – um leque vasto de profissionais que fariam toda a diferença para o País.
Mas que, desafortunadamente, consolidam o progresso em outras partes do mundo.
Os pedidos de vistos de imigração não param de crescer. O aumento do fluxo migratório, só para os Estados Unidos, subiu 55% nos últimos dois anos. Na Flórida, por exemplo, os brasileiros já representam 30% da venda de imóveis.
Ou seja: gente com capacidade de investimento e talento, com potencial para acelerar o desenvolvimento brasileiro, consolida neste instante o sucesso americano, português, canadense…
Esse expurgo não se dá, tão somente, em função da crise econômica.
Não se trata, realmente, apenas da depressão financeira que provocou a fusão do Ministério de Ciência e Tecnologia com o de Comunicações e cortou em 20% o volume de bolsas do CNPq, limitando os investimentos nas áreas de pesquisa e inovação.
Se trata, também, de todos os problemas que estão no entorno: que começam pelo aumento da onda de insegurança, alcançam a queda da qualidade da educação e se propagam por um sistema de saúde incapaz de absorver suas demandas.
Aparentemente, tudo conspira neste momento para nublar as expectativas de futuro na nação chamada Brasil.
E este é um fenômeno que produz impacto profundo: faz com que nossos jovens talentos entendam que é preciso cruzar as fronteiras – onde encontrarão cumplicidade intelectual, valorização profissional e fartos investimentos para operacionalizar sua capacidade produtiva.
Deixam, para trás, universidades em estado de penúria tão extremada que sequer conseguem arcar com os custos de manutenção.
E núcleos fomentadores de pesquisas desativados por falta de recursos e de esperança.
O reflexo de todo esse processo é a evasão.
Estamos perdendo, rapidamente, o saldo de nosso banco de cérebros.
E não é preciso ser gênio para entender o que isso significa:
O estoque brasileiro de mentes está entrando no perigoso terreno da negatividade!