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Família se muda de Campina para JP por causa da falta d’água: “Para lá não voltamos”

Há um ano a família do representante comercial Abdias Farias teve que deixar para trás a vida em Campina Grande. O motivo é a forte seca que atinge a cidade e o rigoroso racionamento de água ao qual a população da região é submetida.

Abdias se mudou para João Pessoa acompanhado da esposa e da filha, de 11 anos. Atualmente, a família mora no bairro do Cristo e, mesmo após um tempo longe da cidade de origem, ainda lamenta a crise hídrica enfrentada por Campina.

A difícil decisão de trocar de cidade aconteceu meses após o representante comercial passar por uma cirurgia no coração. “Eu percebi que não daria para continuar minha recuperação daquele jeito. Foi quando decidimos sair de Campina Grande e nos mudar para João Pessoa. Uma conhecida da família informou que uma casa tinha ficado disponível para aluguel e aproveitamos a oportunidade”, conta.

Atualmente, os moradores de Campina Grande só recebem água encanada três dias na semana. O racionamento obedece ao rodízio de abastecimento estabelecido pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa). A medida é necessária porque o Açude Epitácio Pessoa, o Boqueirão, responsável por fornecer água para a cidade e região metropolitana, está com apenas 6,3% da capacidade.  Estudos mostram que o volume é suficiente para atender às necessidades básicas da população somente até janeiro de 2017. Recentemente, políticos visitaram as obras da Transposição no trecho Sertânia/Monteiro e demonstraram preocupação com o andamento das atividades.

Além de escassa, a água do Boqueirão ainda é ruim, conforme lembra Abdias Farias. “A água é muito ruim, salobra. Tem um cheiro péssimo e é impossível de beber. É uma pena, pois a cidade é muito boa, tem um clima bom e um comércio bastante forte, mas a questão da água me obrigou a me afastar. Se não fosse esse problema da seca, que só se agrava, eu jamais teria me mudado para João Pessoa”, relata.

Para ele, mais famílias podem migrar para a Capital ou outros municípios do Nordeste, caso a crise hídrica não cesse em Campina Grande. “Quando eu ainda morava lá, algumas famílias conhecidas já compartilhavam da minha pretensão em vir morar em João Pessoa, no Recife ou em outra cidade que não passa por racionamento. Não tenho dúvidas que se a falta d’água continuar desse jeito muitas outras famílias vão deixar a cidade”, avalia.

A hipótese de mudar para uma cidade litorânea já é considerada pela estudante Yane Correia Lima. Casada e mãe de uma menina de 12 anos, ela diz que considera não renovar a matrícula da filha na escola onde ela estuda em Campina. A ideia é ir morar em Jacumã no início do próximo ano, caso a seca piore no interior do estado. Ela e o marido já definiram até em qual escola de João Pessoa a filha estudaria. O marido continuaria morando em Campina, por questões de trabalho, e encontraria a família nos fins de semana.

As viagens não representariam mudança na rotina, já que há algum tempo eles viajam frequentemente para Jacumã, onde mora a mãe de Yane, para lavar roupas. Ela conta que, consciente do problema enfrentado por Campina Grande, só lava em casa as fardas do marido e da filha. Moradora de um condomínio com outros 15 apartamentos, Yane diz que muitas pessoas ainda fazem pouco da crise hídrica e desperdiçam água na cidade.

“Aqui nós passamos por dois racionamentos, o geral da cidade e um interno. Nos dias que a Cagepa não libera água para o nosso bairro [Bodocongó], usamos a caixa do prédio. Quando chega água da Cagepa, a caixa do prédio é fechada. Mas mesmo assim tem gente que abusa. Já vi vizinhos lavando roupas com a água do prédio, sem se importar se os demais apartamentos poderiam ser prejudicados”, lamenta.

A estudante reforça que a qualidade da água não é boa. Por esse motivo, ela só cozinha com água mineral nos últimos quatros meses. O gasto com galões e combustíveis para viajar para Jacumã tem aumentado consideravelmente o orçamento mensal da família.

Yane acredita que a única alternativa para a crise no abastecimento em Campina Grande seria a Transposição do Rio São Francisco. “Chegaram a falar em trazer água de João Pessoa, mas depois surgiu a informação de que sairia muito caro, então não contamos com isso. É uma questão complexa porque envolve muita política também”, considera.

O projeto ao qual Yane se refere foi noticiado no Portal Correio e custaria R$ 352 milhões. Conforme informou na época o presidente da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Marcus Vinícius Fernandes, o sistema de distribuição de água foi descartado por causa do alto orçamento e elevado tempo de instalação que seriam necessários.

O Ministério da Integração prevê que as estruturas físicas do Eixo Leste, que beneficiará Cariri e Agreste, devem ficar prontas até 15 de dezembro deste ano. O início de operação da transposição depende de ações do Estado e a expectativa é de que as águas cheguem às casas paraibanas ao longo de 2017.

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