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Fenômenos são frequentes no céu da Paraíba; veja vídeos

Sobre nossas cabeças há um mundo. Fenômenos astronômicos e astrofísicos que mostram que a vida nem sempre se resume ao que os olhos veem. Satélites secretos que vêm e vão, meteoros que cruzam de um lado a outro, fenômenos luminosos que precisam de certa atenção para serem notados: para além do azul, o céu paraibano é cheio destas movimentações misteriosas e fascinantes, que muitas vezes desafiam a compreensão de quem os vê.

Quem estuda estes fenômenos é Marcelo Zurita, astrofotógrafo da Associação Paraibana de Astronomia. Ele também é diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Metetoros (Bramon), grupo que mapeia e cataloga fenômenos no céu brasileiro. Os eventos mais comuns observados são os meteoros, restos de corpos celestes que se desintegram antes de encostarem No solo. Mas há também objetos misteriosos, como o satélite secreto ORS-5, também chamado de Sensorsat, encontrado em março deste ano.

“Além dos meteoros e dos fenômenos atmosféricos, registramos muito a passagem de satélites e lixo espacial. Este ano captamos um objeto que não está nos registros dos objetos em órbita, porque se tratava de um satélite secreto. Fizemos, na Paraíba, o mapeamento da órbita deste satélite a partir das nossas observações e descobrimos que se trata de um satélite que monitora outros satélites, um telescópio que fica em órbita monitorando outros equipamentos”, disse.

Segundo informações da Bramon, o ORS-5 é dotado de um instrumento de sensoriamento óptico de alta fidelidade. Mede cerca de 1,5 m, pesa 140 kg e integra o Programa de Reconhecimento Situacional do Espaço Geossíncrono, tendo como principal missão estudar o estado dos satélites no cinturão geoestacionário. Foi lançado em 26 de agosto de 2017, de Cabo Canaveral.

Estes satélites não têm a órbita divulgada por suas agências, que podem ser de inteligência, espionagem e até comerciais. São vários os motivos para que o satélite não tenha dados abertos, muitas vezes até por questões empresariais, eles não são registrados para que suas informações não sejam roubadas.

“Desde março estamos fazendo um mapeamento de tudo que passa em frente as nossas câmeras, porque tem muita coisa que o pessoal vê no céu, não sabe identificar e diz que é Ovni. Já vínhamos recebendo contatos de pessoas trazendo vídeos de pontos luminosos avistados durante a noite e a gente tentando identificar o que é. Este é um dos objetivos do nosso trabalho, não deixar propagar ignorância e desconhecimento, uma forma de comprovar que não existe nada passando sobre nossas cabeças que não possa ser identificado”, disse Zurita.

Meteoros vêm e vão à noite

Na Paraíba existem 10 câmeras de monitoramento espacial. Maior parte delas está desativada, segundo informações da Bramon. O principal objetivo destes equipamentos é acompanhar as movimentações celeste, identificando tudo aquilo que passa sobre nossas cabeças, sobretudo os meteoros, fenômenos visto quase todas as noites que, após catalogados, servem de instrumento de pesquisa, destacou o representante da Bramon, Marcelo Zurita.

“O objetivo é contribuir nos estudos de meteoros. Nossa rede de estudos analisa essas imagens diariamente para determinar as características deles. Através destes estudos conseguimos entender indiretamente a dinâmica do Sistema Solar, porque se a gente determina de onde vem um meteoro podemos identificar, por exemplo, que naquela região do céu pode haver nuvem de detritos que podem se chocar com a terra”, disse.

Marcelo Zurita tem três câmeras monitorando estes eventos, todas na Torre, em João Pessoa. Uma virada para o Sul, outra para o Noroeste. Uma terceira, ainda experimental, está voltada para o Oeste, no mesmo bairro. Foi ela quem conseguiu identificar, no último dia 8 de dezembro, um fenômeno raro, chamado Sprite, que havia sido visto pela última vez na Paraíba em 2016.

Equipamento. Câmeras passam a noite fazendo o registro, que envia o material para um computador, que através de um software específico vai identificar possíveis ‘anormalidades’.

Sprites são vistos no Sertão

No último dia 8 de dezembro, a Bramon registrou, no Sertão paraibano, dois “Sprites”, nas cidades de Cajazeiras e Serra Grande, Sertão paraibano. Eles estão enquadradas naquilo que os astrofísicos chamam de TLE (Transient Luminous Event, em tradução livre: Fenômenos Luminosos Transientes), fenômenos que nascem acima das nuvens de tempestade e estão normalmente associados à descargas elétricas positivas, extremamente energéticas. Enquanto os relâmpagos ocorrem da nuvem para o solo, os Sprites são das nuvens para a estratosfera.

Marcelo Zurita explicou que as condições meteorológicas influenciam diretamente no aparecimento da TLE. “É um fenômeno meteorológico raro, principalmente no Nordeste, uma vez que nosso clima é desfavorável para o surgimento de tempestades. Apesar de ser um clima severo de calor, não é intenso de tempestade elétrica, consequentemente a ocorrência de Sprites é bem menor. Sul e Sudeste são as regiões mais comuns de ocorrer”, destacou o especialista.

Fenômenos

Marcelo Zurita, astrofotógrafo (Foto: Rafael Passos, do Jornal CORREIO)

Em geral os Sprites assumem três formas: carrot, que lembram a forma de uma cenoura; colunares, que lembrar colunas de luz; e fairy sprites, que lembram a forma de uma fada. Este último foi o registrado no Sertão paraibano no último dia 8. São fenômenos que duram pouco tempo, milésimos de segundos, e podem ter cor vermelho-alaranjada ou verde-azulados.

Elas ocorrem numa altitude entre 50km e 90km e podem ser registrados mesmo que a nuvem de tempestade esteja a centenas de quilômetros do observador. Os TLEs podem explicar acidentes com aeronaves e que sofreram falhas ao sobrevoar tempestades.
O evento que ocorreu no Sertão foi gravado da Estação Observatória da Bramon no bairro da Torre, em João Pessoa.

“Esses eventos são geralmente vermelhos. Ele foi visível aqui da nossa estação de monitoramento porque ocorre em uma localização muito alta na atmosfera. Esse que registramos ocorreu já próximo a divisa com o Ceará, um em Cajazeiras e outro em Serra Grande, ambos a 60 quilômetros de altitude. O Sertão seria uma região mais propícia de isso acontecer por ser um local mais seco, pois um requisito para os Sprites é a ocorrência de tempestades”, disse Marcelo Zurita.

Número 1. O primeiro registro de um Sprite na história ocorreu apenas em 1989, de forma acidental, quando uma equipe de TV americana filmava uma tempestade distante enquanto se preparava para cobrir o lançamento de um foguete.

Campina Grande observa ‘Jato Gigante’

Outro fenômeno, ainda mais raro, é o chamado ‘Gigantic Jet’ (Jato Gigante, em Português). Em março do ano passado foi observado de Campina Grande na cidade de Taperoá. Ele também está enquadrado como TLE, mas tem maior duração e dimensão que os Sprites, podendo ser mais fácil observado a olho nu. Eles também não fazem barulho, como o trovão, já que o ar é rarefeito e a distância para o solo é muito grande.

“Tem basicamente as mesmas causas, mas ele nasce no topo das nuvens de tempestade, entre 14km e 15km de altitude, e evolui até 80km, 90km de altura. É um fenômeno relativamente mais lento que o Sprite. Enquanto o ‘Sprite’ dura 10 milissegundos, o ‘Gigantic Jet’ dura 1 segundo e meio, mais ou menos. Muitas vezes é possível observá-lo a olho nu, mas é muito difícil percebê-lo, porque são rápidos”, disse.

O astrofotógrafo da Associação Paraibana de Astronomia, Marcelo Zurita, disse que ainda há poucas informações sobre esses eventos, já que por muito tempo não se soube ao certo de onde eles vinham. Isso influencia na falta de percepção de quem os observa sem a devida atenção.

“Na verdade o pessoal que via há algum tempo achava que tinha visto um fantasma ou até mesmo um óvni. Porque ele é muito rápido – dura décimos, até centésimos de segundos – e nas câmaras a gente chega a registrar em apenas dois quadros. O que acontece é que apenas no final do século passado, quando começou a haver o monitoramento sistemático para o registro de meteoros, é que começou a se registrar também em vídeo esses eventos. Até então só se ouvia falar, mas era algo que não podia ser estudado por falta de registro. Ainda não é possível esclarecer como ocorrem e as causas envolvidas nesse processo”.

Diferenças entre fenômenos

Meteoroide: É um pequeno corpo rochoso que orbita o Sol.
Asteroide: É um corpo rochoso com diâmetro maior que 1 metro que orbita o Sol.
Meteoro: Fenômeno luminoso gerado pela passagem atmosférica de um meteoroide ou asteroide
Meteorito: Fragmentos de rochas oriundos de um meteoroide ou asteroide que resistiu à passagem atmosférica e atingiu o solo.

*Reportagem de Beto Pessoa, do Jornal CORREIO

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