Estamos rodeadas de ferramentas de comunicação: dos aplicativos de conversação e vídeochamadas aos e-mails e telefones, esses são apenas alguns dos mais rotineiros. Mas, mensagens podem ser enviadas e decodificadas de formas diferentes entre uma pessoa e outra, como a não-verbal, que, dentre elas, envolve gestos, posturas e expressões faciais. O toque também simboliza isso, a exemplo do ato de dar as mãos. Mas como, exatamente?
Esse gesto pode representar, dentre vários outros comportamentos, uma demonstração de afeto, comprometimento e confiança. Daí vale ressaltar que toda comunicação necessita de uma conjuntura para que a mensagem (o toque) seja compreendida eficazmente, segundo o psicólogo Felipe Fernandes, professor mestre do curso de Psicologia do Unipê.
“O ato de dar as mãos também pode representar coisas diferentes dependendo do contexto no qual acontece, como passar segurança entre pais e filhos, demonstrar afeto, comprometimento e cumplicidade entre casais, ou até mesmo a confiança no profissionalismo em um trabalho que está sendo desenvolvido em ambientes coorporativos”, exemplifica Fernandes.
Medos, inseguranças e receios são outras leituras que podemos ter sobre o significado de dar as mãos: a busca nesse gesto ou noutros atos físicos (abraços, carícias, entre outros) pode nos trazer a sensação de bem-estar e segurança para lidar com essas emoções. Somando as perspectivas e ampliando as possibilidades pelas quais fazemos isso tudo, pode-se inferir que os comportamentos estão encadeados por aspectos inclusive fisiológicos.
“Nossos comportamentos despertam emoções e reações no nosso corpo. Assim, o ato de dar as mãos, por exemplo, pode despertar sentimentos de segurança, confiança e conforto, o que é entendido pelo nosso cérebro que, por sua vez, emite comandos de relaxamento e tranquilidade”, explica o psicólogo.
O psicólogo Felipe Fernandes aponta que há estudos em neurociências na revista Neuroscience and Biobehavioral Reviews que buscam entender como o toque físico gera repercussões em nosso corpo. E alguns desses achados abordam a necessidade nos primeiros dias de vida, na interação mãe-bebê, através do reflexo inato de apertar quando estimulados.
“Os autores tratam o toque como o primeiro de nossos sentidos a se desenvolver e nosso meio mais importante de contato com o mundo. Questões mais biológicas/endócrinas também são alvo de correlações com o ato de dar as mãos: num estudo desenvolvido pelo Touch Research Institute (TRI), fala-se sobre a liberação do ‘hormônio do amor’ – a oxitocina, em momentos em que damos as mãos, e a ativação do nervo craniano Vago, que é estimulado através dos nossos receptores de pressão e liberam em nosso corpo um estado de relaxamento”, apresenta.
São várias as razões para algumas pessoas sentirem dificuldades para dar as mãos às outras. Há desde questões biológicas como temperamento ou condições de neurodesenvolvimento atípico (pessoas com Transtorno do Espectro Autista, o TEA, por exemplo) até as questões sociais, como poucos estímulos sociais no desenvolvimento de uma criança.
Contudo, Felipe Fernandes ressalta a importância de que cada pessoa encontre sua forma de ser e estar no mundo, isso inclui a descoberta de como ela gostaria e se sentiria à vontade e confortável de se comportar em diversos contextos.
“Outras maneiras podem desempenhar a mesma função e serem colocadas em prática mediante as possibilidades de cada um. Como dito, atos como dar as mãos e sua simbologia desperta emoções e reações confortáveis que, ao sentirmos, somos orientados para novas respostas comportamentais que vão continuar a favorecer esses relacionamentos e a forma de estar confortável emocionalmente nessas interações”, conclui Felipe.