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Compulsão alimentar: entenda quando comer se torna vício

Muitas pessoas têm o hábito de exagerar em diversas atividades do dia a dia. Um desses exemplos se direciona à alimentação. Com a diversificação de alimentos, as pessoas começam a querer mais e, em grande parte dos casos, a comida saudável é deixada de lado e trocada por fast-foods, que se tornaram símbolo da globalização e da industrialização dos últimos anos. Costumamos chamar essa compulsão de gula, um desejo insaciável por comida relacionado ao prazer do consumo, passando do ponto da satisfação, havendo exagero. Porém, gula e compulsão por alimentos são diferentes.

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Podemos ter tendência para comer muito mais que o normal como um ato compensatório por conta, por exemplo, de um desequilíbrio emocional, seja por uma notícia ou dia ruim, estresse ou outros fatores negativos. Neste domingo (26) é o Dia da Gula, uma forma de conscientização para o problema.

Gula x compulsão alimentar

Segundo a nutricionista clínica e esportiva, Danielly Brito, compulsão alimentar e gula possuem diferenças. “A gula pode ser algo esporádico, enquanto a compulsão alimentar se trata de um distúrbio em que o exagero é frequente, pelo menos duas vezes por semana, durante seis meses”, disse.

A gula pode se tornar um hábito, ou seja, precedendo uma compulsão, ocasionando obesidade e consequentemente doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, dislipidemias, hipertensão arterial, entre outras.

“A observar-se que a quantidade de alimento ingerido excede a normalidade quando comparado à ingestão da maioria das pessoas, também é possível observar quando não há tanta escolha no tipo do alimento, mas sim na quantidade, independente do que seja. Para o tratamento, o ideal é buscar auxílio de forma interdisciplinar com psicólogo e nutricionista. Dependendo do caso, pode ser encaminhado também para um psiquiatra para prescrição de medicação”, explica a nutricionista.

Outra preocupação é quando a gula ocorre em crianças e jovens. Como a doença está relacionada com aspectos emocionais, pode começar quando a criança sofre bullying ou não tem a devida atenção dos pais. “Ela busca no alimento uma válvula de escape ou simplesmente por não ter recebido uma educação alimentar adequada, associando comida ao prazer. É necessário então atentar-se a uma boa educação alimentar, bem como uma rede de apoio familiar”, alerta Danielly.

Impactos financeiros

Quando uma pessoa é diagnosticada com esse impulso por comida, geralmente começa a gastar demais com alimentação, inadequada e em alta quantidade. A forma como as pessoas lidam com comida e dinheiro pode estar, em algum grau, conectada. Transtornos alimentares, quase sempre, têm fundo psicológico e acabam refletindo nas finanças pessoais.

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Os transtornos alimentares podem se relacionar a problemas financeiros (Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

A ‘regra’ para controle de gastos, segundo a economista e professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Karla Leite, é o planejamento financeiro. “Considerar as despesas essenciais frente às receitas. Anotar todos os gastos com alimentação, dentro ou fora do domicílio, é fundamental para que se possa ter uma ideia do quanto esse valor está representando no orçamento. Feito isso, será possível iniciar um planejamento financeiro condizente com as necessidades e a realidade das pessoas com transtorno alimentar”, disse.

É fundamental perceber que o descontrole financeiro é a consequência e não a causa do problema. Então, não há solução eficaz para o controle dos gastos que não passe pelo cuidado para tratar gula e/ou outros transtornos alimentares.

Dados

Dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2018, apontam que a prevalência da obesidade volta a crescer no Brasil. Em 2018, os dados também apontaram que o crescimento da obesidade foi maior entre os adultos de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos, com 84,2% e 81,1%, respectivamente.

Segundo o Ministério da Saúde, apesar de o excesso de peso ser mais comum entre os homens, em 2018 as mulheres apresentaram obesidade ligeiramente maior, com 20,7%, em relação aos homens, 18,7%.

Na Paraíba, dados de 2019 do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Estado apontam que mais de 60% dos adultos paraibanos estão com sobrepeso ou obesidade, sendo 35,67% com sobrepeso e 27,24% com obesidade. Os demais distúrbios alimentares são pouco notificados.

Sintomas e tratamento

Para identificar se o paciente tem sintomas de gula ou compulsão alimentar, deve-se observar se ele come muito rápido até se sentir mal; come durante todo o dia; se alimenta para acalmar o estresse; come e tem a sensação de arrependimento.

É essencial fazer o tratamento adequado e com profissionais capacitados. Fica muito difícil conseguir resultados efetivos sem buscar ajuda. A presença do psicólogo proporciona mudanças e estabelece novos comportamentos e rotinas saudáveis para o paciente.

O comportamento compulsivo surge pela ativação de gatilhos, que serão diferentes de pessoa para pessoa. Assim, as sessões com psicólogo são indispensáveis para entender a dinâmica do distúrbio e evitar que ele se transforme em, mais problemas, como anorexia e bulimia, por exemplo.

Anorexia nervosa, muitas vezes referida simplesmente como anorexia, é um distúrbio alimentar caracterizado por peso abaixo do normal, receio de ganhar peso, uma vontade intensa de ser magro e restrições alimentares. Já a bulimia é outro transtorno alimentar caracterizado por períodos de fadiga seguidos por comportamentos saudáveis para perda de peso rápido.

Onde encontrar ajuda

A assistência às pessoas com transtornos mentais, incluindo alimentares, como anorexia e bulimia, acontece de forma integral e gratuita em diversas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil, conforme a necessidade de cada caso.

De acordo com a Secretaria de Saúde da Paraíba, as pessoas com a doença devem procurar auxílio nas Unidades Básicas de Saúde e em casos graves de complicações dos distúrbios alimentares, como a anorexia e bulimia (como vômitos exacerbados, desmaios e outros), procurar as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

A compulsão alimentar é um grande desafio, mas não é impossível vencê-la. O primeiro passo é reconhecer que o problema existe e afeta diretamente o modo de viver e, assim, buscar o tratamento adequado. Se você identifica esses sinais em si mesmo ou em algum conhecido, procure ajuda.

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Em casos graves, o paciente deve procurar uma Unidade de Pronto Atendimento. (Foto: Divulgação)

Faz parte do tratamento o acompanhamento contínuo por meio de cuidado individual e em grupos (oficinas e terapia comunitária), além de tratamento medicamentoso com disponibilização gratuita. Quando recomendado pelo médico, os medicamentos podem ser retirados, gratuitamente, nas Unidades de Saúde da Família (USF) ou nos demais estabelecimentos designados pelas secretarias de saúde dos municípios.

Em casos de maior gravidade, está prevista a atenção às situações de crise, suporte em hospitais gerais e em serviços de urgência e emergência, tais como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

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