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Inocente útil

Não sei se são realmente inocentes. Mas têm, de fato, muita utilidade.

O fato inconteste é que a figura do inocente útil aparece (ou é “aparecido”) em vários contextos da história recente do País – notadamente na seara política.

A esquerda, por exemplo, notabilizou o termo no pico do confronto ideológico da década de 60, tentando caracterizar a complacência e a miopia social de determinados grupos em relação a manipulação do establishment.

A utilidade pueril teria embalado as estratégias do pão e circo – mesmo que só fossem servidos os farelos; mesmo que no picadeiro se desenrolasse um espetáculo sem graça.

E a figura do inocente útil não é, por assim dizer, um personagem do passado. Na verdade é bem contemporânea.

Voltou à cena com força – aqui e alhures – se encaixando perfeitamente nos estratagemas de controle dos governos populistas – mais uma vez debaixo de uma lona festiva, ruminando o pão de cada dia como se desfrutasse de um manjar dos deuses.

Os inocentes úteis – é importante dizer – estão por toda a parte.

Inclusive nesse universo paralelo que a tecnologia nos apresentou: o arrebatador mundo virtual.

E é a esta turma que balança inocentemente nas redes sociais que presto hoje minhas homenagens (pejorativas, claro).

Especialmente os usuários dessa ferramenta tão querida pelos brasileiros, o tal do WhatsApp.

É impressionante como essa legião que zapeia incansavelmente não tem filtro, “mancômetro” ou senso de oportunidade – ausências que fazem com que acabem reproduzindo e viralizando conteúdos que depõem contra suas próprias crenças e interesses.

Esse é, aliás, um fenômeno que testemunho cotidianamente: pessoas que têm determinados focos, interesses e ideologias passando adiante mensagens que jamais “comprariam” fora do mundo virtual.

Não avaliam – em suas inocências utilitárias – que ao passar adiante estão “vendendo” conteúdos que os prejudicam.

Reconheço que os brasileiros desenvolveram no ambiente virtual um talento inigualável para manifestar a critica social. Viramos a pátria dos memes; do viral.

Demonstramos, de fato, uma rara criatividade e presença de espírito – não sem razão, os internautas tupiniquins têm vencido repetidamente as chamadas guerras mundiais de memes.

Algumas tiradas são tão sagazes que não tem como simplesmente deletar – mesmo que sua essência seja profundamente equivocada, politicamente incorreta ou mesmo agressiva.

Mas precisamos fazê-lo.

Precisamos estancar essas pregações virtuais.

Ou, pelo menos, consumi-las de forma mais inteligente.

Ou seja: receba, ria, mas jogue no lixo.

Jamais passe adiante.

Acredite: não se trata, aqui, de mau humor. Trata-se, isso sim, da consciência plena do dano que esta complacência e multiplicação causam à nação.

Não aceite ser o inocente útil que multiplica, que viraliza, que vende no varejo virtual um atacado de ideias que danificam o País, sua economia, crenças e ideologias.

Porque este circo pode até nos divertir.

Mas certamente não forja nosso pão.

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