Os netos enviaram mensagens lindas; os amigos se identificaram; as ligações trouxeram relatos emocionados – uma surpreendente repercussão sucedeu a publicação de Reflexões, o artigo que publiquei na edição do último domingo no Correio da Paraíba.
Lá, exponho a saudade dos avós que nunca tive e os reflexos que essas ausências provocam na relação com meus netos.
Hoje, volto a esta reflexão para revelar o gatilho que detonou toda essa saudade e deixou como herança a angústia de tentar ser um bom avô sem jamais ter sido neto.
E ele foi acionado mês passado em uma mesa de jantar, posta com esmero em um castelo da Toscana, onde celebrávamos a família.
Em meio à alegria ruidosa daquela reunião, subitamente caiu o silêncio. Do celular do meu genro Thiago veio a notícia do falecimento de seu avó, Zé Mário (José Dias Pacheco).
O que ocorreu, a partir daquele momento, me marcou profundamente.
Naquela noite, vi diante de mim um neto urrar de dor – muito embora se mantivesse calado.
Seu pranto inaudível era mais comovente do que qualquer choro descontrolado. Pois era feito de lágrimas sem barulho, soluços abafados e dor ensurdecedora.
Aquele pesar silencioso sussurrava a perda de sua maior referência; seu ídolo e amigo; seu mentor e cúmplice na difícil arte de aprender a ser gente.
Não conhecia Zé Mario. Sei, apenas, que partiu como havia planejado e se preparado: aos 90 anos, pleno de lucidez, amando e sendo amado pelos seus.
Mas, mesmo sem conhecê-lo, também fui atingido pela emoção de seu neto, que honrou sua memória narrando histórias trilhadas em comunhão.
Partilho aqui uma delas, ocorrida num alpendre de fazenda, quando Thiago era apenas um menino querendo mostrar que já era “gente grande”. Munido com uma espingarda de chumbinho, ele foi desafiado pelo avô:
– Você não atira bem? Pois quero ver você acertar aquele pássaro!
O alvo estava alguns metros adiante. O menino engatilhou a arma, respirou fundo, prendeu o fôlego e… pam!
O tiro foi certeiro.
O pássaro morreu. Os dois ficaram em choque – Thiago por ter acertado; o avô por ter provocado o neto a realizar um abate que ele jamais quis que fosse feito.
Zé Mário nunca imaginou que seu menino seria capaz de acertar aquele alvo.
Juntos, foram até a ave, deram as mãos e lamentaram.
O último momento partilhado entre neto e avô também foi lembrado. Havia ocorrido dias antes de seu embarque, em um quarto de hospital. O velho e forte Zé Mário nunca havia sido internado. E restou a Thiago o dever de ser um bom neto, passando aquela noite tensa ladeando seu leito.
Thiago viajou ciente de que dificilmente veria seu avó de novo. Mas sabia que, ficando ou partindo, não teria poderes para mudar o desfecho previsto por Deus.
Do amor por Zé Mário, porém, esse neto jamais se apartará. E sua dor e saudade – tão agudas, tão profundas – me levaram a reflexão que angustiam este avô:
– Será que merecerei dos meus netos lágrimas tão sofridas?