A Semana Santa é sempre um motivo para reunir familiares e amigos numa mesma casa. A tradição é ainda mais forte nos lares católicos. Cada família tem receitas que não podem faltar à mesa e o planejamento dos encontros, normalmente, é feito com bastante antecedência. Neste ano, porém, mais importante do que respeitar o tradicional, será zelar pela saúde dos entes queridos. Com o isolamento social em prevenção à Covid-19, os planos foram suspensos.
A bibliotecária Suênia Karla e o contador Rubem Lima estão entre as pessoas que precisaram cancelar programações de família. Suênia conta que a tradição é passar a Sexta-feira Santa na casa dos pais dela e o domingo de Páscoa junto aos pais de Rubem. As confraternizações costumam reunir de oito a 12 pessoas. “Neste ano, cada um ficará em sua casa, uma vez que, tanto meus pais, como meus sogros, pertencem ao grupo de risco. Estamos de fato evitando o contato”, explica Suênia.
Ela e Rubem são pais de Luis Guilherme, 11 anos, e Ana Sofia, sete anos. Para as crianças, o isolamento social é mais difícil. “Eles sentem falta de sair, de encontrar e abraçar os avós, as tias, a prima. Com muita conversa, estão compreendendo, mas ficam tristes em saber que não estaremos juntos nesta Páscoa”, relata a mãe.
Suênia Karla reconhece que o momento causa sofrimento, mas tenta enxergar um lado positivo. Ela reflete que, ao mesmo tempo em que distancia fisicamente as pessoas, o isolamento permite que elas se unam em nome de um bem comum.
O que de fato significa a Quaresma e a Semana Santa? É tempo de reflexão, de se voltar a Deus e de lembrar do sofrimento de Jesus por nós. Se pararmos para pensar, é tão pouco o que temos que fazer pelo próximo agora. Mas, é desse pouco que o mundo está precisando. De um pouco de humildade, de solidariedade, do olhar e do cuidado para os que nem ao menos conhecemos. Junto à ressurreição de Cristo, surge a esperança de que a humanidade se una para ver um mundo melhor. Espero que depois que tudo isso passar, não esqueçamos do que vivenciamos. Essa Semana Santa ficará marcada para sempre na minha família.
A advogada Talita Melo é natural de Princesa Isabel, no Sertão do estado, e mora em João Pessoa desde 2011. Esta é apenas a segunda vez que ela passará a Semana Santa longe da família. Talita recorda que a primeira experiência foi triste, pois considera a época muito especial. Para ela, o isolamento social recebe um peso maior em razão da data cristã.
“A Semana Santa para mim é sinônimo de estar com a família. Não é inédito estar só, mas, o fato de não poder ver e conversar com alguém fisicamente em proximidade, é o que deixa a sensação de isolamento pior. Mas, acredito que, depois disso, não seremos mais os mesmos, passaremos a dar mais valor às coisas simples que podíamos fazer”, diz.
A 420 km de distância, o pai da advogada, Arimatéa Fidelis, lamenta o fato de não ter a presença da filha no tradicional almoço de Páscoa. “É muito difícil, uma vez que no período da Semana Santa, nossa filha sempre está conosco. Mas temos que superar essa adversidade. Se não podemos tê-la conosco neste momento tão difícil, paciência. As coisas nem sempre saem de acordo com o planejado”, fala Arimatéa.
Além da saudade, há ainda a preocupação de pai. João Pessoa concentra mais de 70% dos casos de Covid-19 confirmados na Paraíba. Alguns dos infectados são do Jardim Cidade Universitária, mesmo bairro onde Talita Melo mora. Princesa Isabel não possui casos registrados do novo coronavírus.
Sempre estamos preocupados, pois ela é a única filha que temos. Pedimos a Deus, todos os dias, que a proteja hoje, amanhã e sempre.
A enfermeira Jaiana Lopes é acostumada a celebrar a ressurreição de Cristo rodeada de gente, seja em casa ou na igreja. Ela conta que o almoço de Páscoa normalmente reúne algo em torno de 15 pessoas, entre pais, tios e primos. Na igreja, confraterniza com muitos colegas. Neste ano, será diferente.
O distanciamento social é a maior prova de amor que podemos ter uns com os outros. Cada um ficará na sua casa. Na minha, só estaremos eu, meu pai e minha mãe. Entendemos que esse momento é de extrema importância para que, quando a gente volte a se reunir, não falte ninguém.
Com as igrejas fechadas para fiéis, só será possível acompanhar missas de casa, por transmissões feitas nas redes sociais. Jaiana Lopes e os pais montaram um altar na sala, próximo à televisão, para assistir às celebrações.
“Dentre todas as privações desse distanciamento social, não poder ir à igreja foi a que mais nos doeu. Chamamos essa semana de Semana Maior. Para nós cristãos católicos, é a semana mais importante. Eu e meus pais servimos juntos. Viveríamos todo o tríduo Pascal na nossa comunidade, a Igreja São Gonçalo. Ficamos tristes de não podermos participar presencialmente da Santa Missa e das procissões. Mas a nossa Igreja é una, o mistério será celebrado pelos sacerdotes e chegará até nós pelos meios de comunicação. Essa Semana Santa será vivida de forma diferente, mas nunca, menos especial e importante”, ressalta.
Ao divulgar o cancelamento de procissões e mudanças nas celebrações da Semana Santa, como a omissão do momento de lava pés, o arcebispo da Paraíba, dom Manoel Delson, admitiu que o isolamento social é um sacrifício, mas reforçou o pedido das autoridades sanitárias para que as pessoas fiquem em casa.
Vamos refletir, de todo coração, as palavras do Papa Francisco na bênção Urbi et Orbi e vamos viver uma Semana Santa intensa, com muita fé, entendendo que esta será diferente na vivência, mas não na sua essência. Seguimos com muita confiança de que Deus nos ajudará a passar por este momento tão desafiador. Em breve estaremos juntos, nos abraçando, adorando ao Senhor e agradecendo a superação desta pandemia.