O governo de Israel anunciou nesta sexta-feira (24) que não irá completar a retirada do sul do Líbano dentro do prazo previsto no cessar-fogo com o grupo extremista Hezbollah. O texto do acordo previa que o processo acabasse em 60 dias, que vencem neste domingo (26).
Em nota, o gabinete do premiê Binyamin Netanyahu colocou a culpa no governo libanês, que segundo Israel “não cumpriu integralmente suas obrigações” de ocupar a faixa entre a fronteira com o Estado judeu e o rio Litani, 35 km ao norte.
Segundo o acordo, essa área deveria ficar sob controle do Exército libanês após a saída do Hezbollah para além do rio e a volta dos soldados israelenses para seu território. “A retirada em fases vai continuar, em coordenação com os Estados Unidos”, diz a nota, “com o entendimento que o processo pode continuar além de 60 dias”.
O Hezbollah já havia se pronunciado contra qualquer extensão do prazo. O novo governo libanês ainda não comentou a posição do premiê israelense. O país elegeu, após um vácuo de poder de dois anos, o presidente Joseph Aoun no dia 9. O líder, segundo relatos, promete acelerar o envio de tropas para o sul.
A região entre a fronteira e o Litani é um tampão que já foi definido como tal em acordos anteriores que fracassaram, em 2000 e 2006, basicamente porque o Hezbollah tomou o lugar previsto do Exército libanês após a saída de forças de Israel.
Desta vez, no contexto do acerto de contas regional proposto por Israel após o ataque de 7 de outubro de 2023 pelos terroristas palestinos do Hamas, aliado do Hezbollah igualmente bancado pelo Irã, Tel Aviv não parece disposta a deixar lacunas.
Com isso, mais pressão é colocada sobre o precário cessar-fogo, que viu diversas pequenas violações de lado a lado nesses dois últimos meses. De toda forma, o processo seguiu, até porque o Hezbollah foi profundamente afetado pela guerra.
Após quase um ano trocando escaramuças com os israelenses, o grupo foi alvo de uma brutal campanha de demolição. Sua liderança, incluindo o cabeça Hassan Nasrallah e sucessores imediatos, foi morta, e suas capacidades de lançar o poderoso arsenal de mísseis, degradada.
O grupo acabou aceitando um cessar-fogo até por sua fragilizada posição política no Líbano, onde é também um partido no Parlamento. A chegada de Aoun ao poder evidenciou isso, com a indicação de um premiê não alinhado ao Hezbollah, como era a praxe.
O risco da volta da violência no Líbano ocorre num momento peculiar do conflito, com Israel mantendo o cessar-fogo com o Hamas na Faixa de Gaza -quatro reféns deverão ser trocadas por prisioneiros palestinos neste sábado (25). São elas as soldados Kaina Arif, Danielle Gilboa, Neema Levy e Leri Elbag.
Já na Cisjordânia, Tel Aviv segue com uma operação militar grande, após colocar a erradicação de grupos radicais palestinos como um de seus objetivos de guerra. Para líderes locais, contudo, a motivação esconde a agenda da extrema direita que apoia Netanyahu de abrir mais espaço para colonização ilegal por meio de assentamentos judeus na região.
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