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João Pessoa tem casas de bronzeamento que colocam saúde de usuários em risco

O ‘comércio de bronzeamento’ irregular em João Pessoa pode estar expondo usuários ao risco de câncer de pele. O alerta é da dermatologista Viviane Nóbrega, que foi procurada pelo Portal Correio para falar sobre os riscos que mulheres estão correndo ao comprar sessões de bronzeamento em locais que utilizam produtos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou comprovação científica dos resultados.

Em investigação, o Portal Correio encontrou pelo menos cinco locais que oferecem o serviço. Neles, as clientes são atendidas entre as 7h e 11h e ficam expostas ao sol por pelo menos uma hora e vinte minutos em cada sessão, que custa entre R$ 40 e R$ 60.

Durante as sessões, as clientes ficam deitadas em macas ou bancos de madeira e recebem aplicação de produtos como parafina que, segundo as proprietárias dos estabelecimentos, ‘acelera o bronzeamento’. Ainda durante as sessões, as clientes são ‘regadas’ com água em intervalos de cinco a dez minutos.

“Uma sessão custa R$ 40 e o biquíni é montado com fita adesiva. Eu costumo atender de 7h até no máximo 10h30 e 11h e a cliente fica exposta ao sol, usando protetor, aplicamos parafina para acelerar o bronze e de cinco ou dez minutos é direto jogando água. Funcionamos todos os dias”, disse a proprietária de um dos estabelecimentos.

Porém, segundo a dermatologista, a exposição prolongada ao sol e a aplicação de produtos como a parafina podem ‘fritar’ o corpo das clientes e causar lesões cancerígenas pré-malignas, como manchas tipo melanoses, melasma e leucodermias.

“Como as pessoas destroem suas peles em busca de um padrão de beleza que até já está ficando ultrapassado, o bronzeado? É realmente assustador essa exposição de 1h20, é muito exagerada, sem contar que quem quer se bronzear nunca aceita o uso do protetor de no mínimo fator 30. [O uso] desses produtos pode causar queimaduras; a parafina vira ‘óleo para fritar’. Os descolorantes de pelos podem causar sérias alergias e queimaduras utilizados sob o sol. O risco de câncer e lesões pré-malignas é muito predominante naqueles que se expuseram com frequência e sem proteção”, afirmou a dermatologista.

Também, segundo a dermatologista, além das lesões cancerígenas a exposição prolongada ao sol evidencia as rugas, flacidez da pele e perda precoce de colágeno, que leva ao envelhecimento antecipado.

“Para quem quer se bronzear, nós, dermatologistas, recomendamos uma exposição progressiva (ao sol) de 15 a 30 minutos diários, com protetor solar acima de 30, no horário até 9h ou após 15h, no máximo duas vezes por semana. Dessa forma o bronzeado causaria menos agressões, já que eliminar os danos é impossível. Também nunca se deve esquecer de se hidratar e passar hidratante pós-sol”, disse a médica.

‘Virei um camarão’

Ao Portal Correio, uma das mulheres vítimas de um dos locais irregulares contou que sofreu queimaduras na pele e quase virou um ‘camarão’ por tomar sol das 10h às 12h40 mesmo dizendo as responsáveis que estava passando mal.

“Tentei marcar com a Anny para me bronzear lá, mas não consegui e com já havia dito ao marido que chegaria em casa com as marquinhas fui em outro local. Cheguei lá às 10h, me receberam, não me fizeram pergunta alguma e foram logo me fitando (colocando o biquíni de fita) e pondo o produto para ir ao sol. Fiquei até as 12h40 e como sou muito branca virei praticamente um camarão de tão vermelha além de manchas por elas (funcionárias) não terem passado os produtos direito”, disse a cliente.

Durante a sessão que resultou em queimaduras, a cliente relatou que implorava por água e que só permitiram que ela saísse do sol porque estava passando mal.

“Quando foram fazer o esfoliamento após o sol cheguei a querer desmaiar e implorei por suco, açúcar, água, doce ou qualquer coisa para não desmaiar. Melhorei quando me deram um pouco de leite condensado. Sai de lá e fui para casa. Passei mal, tive quase 40 graus de febre e passei por tratamento com pomadas, soros e outros procedimentos para poder melhorar. Foram dois meses até que eu estivesse bem”, contou a cliente.

Fiscalização

Ao Portal Correio, a gerente da Vigilância Sanitária de João Pessoa, Eliane Navarro, afirmou que o órgão tem competência para fiscalizar a atuação desses estabelecimentos, mas apenas se eles estiverem registrados.

Porém, caso denúncias sejam feitas sobre estabelecimentos clandestinos a Vigilância acionará o Ministério Público da Paraíba (MPPB) para conseguir autorização judicial para fiscalizações.

Locais certificados existem

Na Capital, um dos locais que possui certificação para funcionamento é o Ateliê do Sol, que fica no bairro Pedro Gondim, Zona Norte de João Pessoa. Segundo a proprietária do espaço, Anny Fernandes, o local foi aberto há cerca de um ano e meio, possui autorização para funcionamento e trabalha apenas com produtos registrados.

Porém, por conta das casas irregulares de bronzeamento, o serviço vem recebendo cada vez mais mulheres com problemas de queimaduras causados por exposição excessiva ao sol.

“Muitos espaços de bronzeamento estão sendo abertos em João Pessoa e muitas vezes as responsáveis se ‘formam’ com cursos feitos pela internet, que não possuem certificado confiável, aulas práticas nem instrução de como lidar com a cliente. O resultado disso é que estou recebendo cada vez mais mulheres com a pele queimada por conta de erros de procedimento ou uso de produtos sem registro, fabricados até pela dona do negócio, o que é um absurdo”, contou Anny Fernandes.

Anny Fernandes contou que o procedimento correto de bronzeamento deve ser feitos entre às 7h e, no máximo, às 10h, respeitando cada tipo de pele e ter atenção do profissional envolvido.

“Os produtos que usamos aqui são registrados na Anvisa e à base de parafina, mas em uma concentração muito pequena apenas para dar consistência. Nossas clientes tomam sol no menor tempo possível de exposição, com proteção do rosto e sempre temos a preocupação de executar procedimentos posteriores ao bronzeamento que garantem a hidratação da pele, além de banho de lua e esfoliação”, disse a empresária.

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