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Jornal Correio traz entrevista especial com a professora da UFPB Sandra Luna

A construção dos mitos e a força das palavras são temas abordados na entrevista da professora Sandra Luna da UFPB que o jornal Correio da Paraíba publica neste domingo (26).

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Segundo ela, em algum momento a busca por explicação racional para sanar dúvidas acaba em um mito, numa resposta em que as próprias palavras têm sentido de criação. Para Sandra Luna, essa busca para explicar a tragicidade humana nos levou à narrativa e a poesia para soluções de alguns mistérios intrinsecamente humanos, como o sentido da vida, da morte ou de onde viemos e para onde vamos.

“Enquanto houver os enigmas da condição trágica da humanidade, estaremos na fronteira da racionalidade produzindo o que nos permite o salto do real para a transcendência, para as dimensões poéticas da vida”. Nessa conversa com o Correio, Sandra Luna, que é pós-doutora em Literatura, também tratou da revolução que as novas tecnologias proporcionam na Educação e na forma como encaramos o mundo. Para ela, não podemos encarar o passado com nostalgia. “Não consigo virar a cabeça e chorar por causa das novas tecnologias que estão ganhando terreno para o livro”.

Confira um trecho da entrevista:

Correio: Como a senhora avalia as mudanças que a tecnologia esta possibilitando à humanidade quando aplicadas à Educação?

Sandra: Ao longo das últimas duas décadas, o nosso papel de educador mudou radicalmente. Se houve um tempo em que o professor era o detentor da informação e nossas aulas eram preparadas, fundamentalmente, para transmitir aos nossos alunos informações relativas às áreas do conhecimento de nossas disciplinas, isso hoje foi superado.

Correio: E o papel do professor qual é hoje?

Sandra: Se o aluno passar cinco minutos a frente de um computador conectado à internet ele vai ter informações. Há muito mais informações do que poderíamos transmitir em uma hora aula, por exemplo. O que compete ao professor é a transformação da informação em conhecimento. É um desafio muito grande, sobretudo, porque ele é interdisciplinar.

Correio:
Como transformar a informação é conhecimento?

Sandra: A transformação da informação em conhecimento passa pela experiência, através de um processamento reflexivo, há uma experimentação pelo próprio corpo, por um conhecimento cognitivo, às vezes, sensorial.

Correio: O que é essa relação entre disciplinas?

Sandra: Essa relação exige conhecimento da História, inclusive, de outros campos do saber. Hoje em dia uma aula de Literatura, absolutamente, não pode ser delimitada de uma perspectiva estritamente disciplinar.

Correio: Para essa postura crítica é preciso reflexão e, no entanto, o que a tecnologia oferece é rapidez. Isso não “atropela” um processo reflexivo, que por natureza é lento?

Sandra: Não tenha dúvidas de que esse é mais um dos graves conflitos atuais. O atual contexto exige muita reflexão, inclusive, por parte dos educadores. Essa reflexão crítica e bem fundamentada é dependente de uma meditação do tempo lento, da leitura, da crítica, da maturação de ideias. E isso é bem incompatível com a temporalidade contemporânea, que é o tempo estilhaçado.

Correio: O que é esse tempo estilhaçado?

Sandra: O tempo subdividido em várias direções, partilhado que nos convida a várias atividades distintas e múltiplas num mundo de objetividade, pragmático, utilitarista e imediatista do consumo.

Correio:
Como fica a relação com o livro diante dessa correria toda?

Sandra: Posso falar de minha própria experiência. Entrei na Universidade para fazer Arquitetura e dois anos e meio depois decidi que deveria fazer Letras. Fui fazer por vocação e já entrei com um cabedal de leitura de textos literários muito grande por que era paixão desde a adolescência. Então, sou dependente de livros e leitura desde muito tempo.

Correio: A reclamação não é constante, principalmente pelos alunos?

Sandra: Tenho consciência de que tem se tornado cada vez mais difícil dedicar esse tempo à leitura e ao estudo. Faço isso sistematicamente porque adotei como prioridade na vida e, sobretudo, porque na minha atividade, apesar dos percalços, é possível.

Correio: A apreensão do conhecimento com tanta informação à disposição não se complicou?

Sandra: Do ponto de vista do professor isso exige uma atualização permanente. No caso específico da Literatura – e minha linha de pesquisa é tradição e modernidade – isso exige uma vida de dedicação.

Correio: Como começou sua pesquisa em relação à tradição e modernidade?

Sandra:
A gente começa dos mitos anteriores à constituição da própria Literatura no Ocidente. Partimos dos clássicos, entramos nas epopéias e tragédias gregas e falando do drama, minha área mais específica de estudo a dramaturgia grega que se segue a latina. Depois há um longo período lacunoso, que os textos dramatúrgicos desaparecem de circulação, por causa do cristianismo que aboliu a tradição teatral.

Correio: Por que os mitos são sempre atuais e se recorre a eles na narrativa moderna?

Sandra: A gente sabe que os mitos têm uma estruturação arquetípica, em muitos sentido, os mitos têm um apelo muito forte universal ao tratar de conteúdos, em certa medida intrínsecos à condição humana, os grandes conflitos, os temas universais: o amor e a morte, o sofrimento, a dor, a tragicidade. Guardam relação com isso.

Correio:
Seja qual for o tempo a que se pertence, essas questões estarão sempre presentes?

Sandra: Mas os mitos vão além disso. Há vários autores que trataram disso, mas posso falar muito pontualmente pela adotada pela professora Suzi Frankl Sperber, que foi minha orientadora que formula um conceito belíssimo de pulsão de ficção.

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