Amanhã é meu aniversário. Graças a Deus, mais um.
E esta nova idade chega e encontra um Roberto imerso em reflexões. Estou, de fato, analisando a minha vida em uma perspectiva de 360 graus.
Lamentavelmente, essas gradações – que, para ser justo, merecem balanço positivo – passam por um momento de meditações realistas.
E que realismo é esse?
Aquele que desnuda as singelezas, fragilidades e efemeridades da vida.
Por ser tão breve, tão frágil e singela, a vida nos impõe uma jornada pontuada por perdas.
E é preciso preparação para enfrentá-las. Pois elas vão ocorrer, mais cedo ou mais tarde, esteja você preparado ou não.
Esta é a sequência natural, inerente e inapelável da vida.
Mas quem pode dizer que está cem por cento preparado para dizer adeus a quem ama?
A verdade é que esta é uma missão que se torna exponencialmente mais difícil a medida que atinge os mais íntimos, os mais próximos, os seus (família, parentes, amigos, referências).
E não está sendo fácil, nada fácil, assistir minha irmã Celina, minha única irmã, em estado gravíssimo em um hospital de Recife – de onde deve sair ou para a vida eterna ou para uma vida marcada por seqüelas.
Testemunhar este momento, em que a fragilidade de Celina enche nossos corações de apreensão, reforça a lição de quão importante é viver de modo potencializado cada momento.
Já que, no fim mesmo, não importará quem você é nem qual é o seu nome.
Tudo se resumirá a um número, impresso em um leito.
O de Celina é o leito 16.
Essa é a sua identificação neste momento de sua vida – a nomenclatura hospitalar de onde sua batalha para permanecer viva é monitorada.
Toda a sua vida, toda a sua história, seu riquíssimo currículo, passam a ser resumidos apenas a “paciente UTI-leito 16”.
O entorno – leito 15; leito 17 – é ocupado por pessoas diferentes a medida que os dias passam. E poucos passam por lá, por aqueles leitos de UTI, e voltam para suas casas, para os seus.
Mesmo ciente de que essa é a dinâmica natural da vida, reconheço que esta é uma regra muito dura- tão pesada que as vezes nos dobra ao meio.
E eu só conheço uma forma de se recompor, voltando a coluna para a posição ereta e o coração à mansidão da tranqüilidade: a valorização da vida em cada um dos seus instantes.
Pois se é possível refletir sobre o passado e fazer projeções do futuro, só se vive mesmo o presente – e é ele que deve ser degustado com sofreguidão.
A capacidade de vivenciá-los – de forma até reverenciada – é que importará no balanço final. É, com certeza, o que levaremos para ser computado como saldo positivo dessa mágica experiência que é viver.