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Machismo contribui para casos de sífilis em mulheres

O machismo pode afetar a saúde da mulher em diversas maneiras e uma delas é na forma física, com Infecções Sexualmente Transmissíveis, as chamadas ISTs, por exemplo. Uma delas é a sífilis, que apesar de ser causada por uma bactéria tratável e curável, atinge níveis de epidemia no país. Só na Paraíba, foram notificados 1.923 casos de sífilis adquirida – quando a transmissão ocorre de pessoa para pessoa – em 2019.

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Para as mulheres, essa doença é particularmente mais perigosa, pois durante a gravidez pode ser transmitida para o bebê e provocar o aborto, ou mesmo trazer graves sequelas para a criança. No estado, quase 700 gestantes foram diagnosticadas com a doença no pré-natal, porém o maior problema está em tratar os parceiros dessas mulheres.

De acordo com o levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), 68% dos casos de sífilis adquirida na Paraíba são de homens entre 20 e 39 anos, o que se converte em um dos motivos para o aumento nos índices da doença. De acordo com chefe do núcleo de IST/AIDS da SES, Joanna Ramalho, o problema está justamente nos parceiros, pois as mulheres que conseguem fazer a adesão ao tratamento da sífilis acabam sendo reinfectadas.

“A população, no geral, não procura o serviço de saúde para fazer diagnóstico de sífilis, por que não apresentam sintomas e somente com os exames obrigatórios do pré-natal é que os casos ficam mais evidentes, porém é muito difícil trazer os parceiros para o serviço de saúde”, explica Joanna.

Esta é uma realidade confirmada pela rotina da enfermeira da Unidade Saúde Família (USF) Varadouro I, Ina Mirela Bezerra. Ela relata que, na maioria das vezes, as pacientes aceitam realizar o tratamento, porém o parceiro não segue com os mesmos cuidados.

“O grande entrave é realmente o machismo, por mais que a gente sensibilize o paciente, que a mulher queira fazer o tratamento, o parceiro não quer. Ele vai uma vez e não retorna e quando se trata, não faz os exames de acompanhamento”, explica a enfermeira.

Diagnóstico

Para diagnosticar a sífilis é simples; o teste rápido sai em torno de meia hora e é preciso um pouco mais do que uma gota de sangue. Em caso positivo, é feito o exame de sangue VDRL, para saber o grau da bactéria no organismo. Já o tratamento dura entre uma e três semanas na própria USF, sendo a primeira dosagem realizada após o teste rápido. Mas após a realização da medicação, o acompanhamento da doença não segue eficaz, em alguns casos, justamente por que o tratamento precisa ser feito em conjunto. É preciso que as pessoas envolvidas sexualmente na relação sigam corretamente as recomendações.

Durante o tratamento, é realizado um aconselhamento para falar sobre a importância da continuidade da medicação durante o tempo prescrito e para a utilização do preservativo, que é a única forma de prevenção para a sífilis.

“Tivemos um caso há algum tempo de uma contaminação cruzada, na qual a gestante realizou o tratamento e o parceiro, que tinha outra parceira fora do casamento, se recusou. Após o parto, ela já apresentou novamente a sífilis e ainda sim o parceiro não fez o tratamento, e a paciente também optou por não fazer o uso da camisinha com o marido. A gente precisa tratar em conjunto, ou não adianta”, desabafa a enfermeira ao relatar a dificuldade vivenciada diariamente.

Consequências da falta de tratamento da sífilis

Uma vez que o paciente é diagnosticado com sífilis, é administrado o tratamento na própria unidade de saúde, sendo prescrito pelo médico responsável, ou pelo enfermeiro. A medicação é dispensada de acordo com o estágio que pode ser primário, secundário, ou latente. Em sua fase mais aguda, a pessoa com sífilis pode apresentar lesões na pele, problemas nos ossos, no coração e até complicações neurológicas.

Embora os especialistas apontem que as complicações com a doença podem aparecer em até dez anos após a contaminação, o fator mais preocupante para as autoridades de saúde está na transmissão vertical – de mãe para filho durante a gestação – em que os problemas podem trazer consequências severas para a criança tais como surdez, má formação de membros e cegueira. “A sintomatologia das crianças é mais grave, os sintomas são críticos, crônicos e para toda a vida”, explica chefe do núcleo de IST/AIDS da SES.

Gestantes

Atualmente, as políticas implantadas pelo Ministério da Saúde com a Rede Cegonha preveem o teste de sífilis ao menos três vezes durante o pré-natal, para que a gestante seja direcionada para o tratamento. Ainda no dia em que a mulher chega à maternidade, os testes são realizados novamente, tendo ela se submetido ao tratamento ou não para diminuir o risco da sífilis congênita. Na Paraíba, o teste é realizado em toda a atenção básica e o tratamento é ofertado gratuitamente desde 2018.

*Texto: Thalyta Duarte, especial para Jornal CORREIO e Portal Correio

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