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Manguezais de João Pessoa estão deteriorados

Os manguezais são ecossistemas característicos das regiões tropicais e subtropicais,
resultado da mistura entre as águas dos rios e do mar. Ricos em animais e vegetações,
esses ambientes têm sido historicamente poluídas por esgoto e lixo gerado pelo
descontrole urbano. Na Região Metropolitana de João Pessoa não é diferente e várias
áreas já chamam atenção de especialistas pelo nível de degradação.

Professor do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), o pesquisador Gilson Moura destaca que a poluição afeta não somente
o meio ambiente, mas também toda comunidade que dele depende. “São efeitos
socioeconômicos violentos. Muitas comunidades vivem da pesca, tanto nos rios como
nos mangues. Quando esses ecossistemas são deteriorados, você coloca essas pessoas
em situação de pobreza e marginalidade”.

Segundo estimativas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), aproximadamente 25%
dos manguezais brasileiros já foram destruídos, tendo a aquicultura e a especulação
imobiliária como suas principais causas. A diretoria de estudos e pesquisas ambientais
da Secretaria de Meio Ambiente (Semam) não soube precisar quais mangues em João
Pessoa estão na mesma situação.

Quem estuda a questão, entretanto, sabe que o cenário é preocupante. “Na comunidade
do Renascer, por exemplo, o povo pescava na porta de casa. Hoje não consegue mais. O
mesmo no Porto do Capim, no Varadouro, e em Livramento, Santa Rita. É uma
população que perde a qualidade de vida, que vai atrás de subemprego para conseguir
sobreviver”, disse o professor Gilson Moura.

Dentro das comunidades, quem viveu o passado vê com tristeza o presente. Morador do
Porto do Capim, no Varadouro, há quase 40 anos, João Firmino, de 85, lembra como era
o cenário naquela região quando se instalou. “A gente pegava de tudo. Caranguejo,
marisco, tinha de tudo ali. Eu pescava e minha casa ficava cheia de pescador, que tinha
aqui como base para ir pescar no mangue. Agora, para conseguir alguma coisa, tem que
ir para longe, porque aqui mesmo não temos nada”.

No Porto do Capim a sujeira é grande. Além do lixo da população e do esgoto
despejado, até um bar está instalado na região do mangue. João Firmino tenta diminuir
os impactos que gera ali, mas sabe que o trabalho não é fácil. “Eu não jogo meu lixo no
mangue. Eu junto tudo e toco fogo. Mas meu esgoto tem que ir para lá, porque não tem
nenhum sistema de esgoto aqui. Não é só o meu, o de vários lugares da cidade são
despejados ali, porque nunca criaram saneamento para a gente”.

De acordo com o pesquisador Gilson Moura, é na falta de políticas públicas
responsáveis com o meio ambiente que reside o maior vilão em toda essa história. “As
técnicas para preservação existem, mas falta gestores políticos com coragem e respeito.
Melhor tratamento do esgoto, relocação da população e educação ambiental são as
chaves de tudo. O problema é que esse tipo de investimento leva tempo para dar
resultado, não vira propaganda política, por isso muitos não se interessam”, disse.

Semam – Através da Diretoria de Estudos e Pesquisas Ambientais (DEIP), a Secretaria
de Meio Ambiente (Semam) informou que as equipes de fiscalização ambiental
realizam ações rotineiras nos principais remanescentes do município, incluindo as áreas
de mangue, além do atendimento às denúncias realizadas por parte da população.

O órgão informou anda que a DEIP está realizando o diagnostico das nascentes e corpos
d’água. O estudo teve início ano passado e está em planejamento ações para este ano,
abrangendo as áreas de preservação permanente, nascentes e manguezal.

Com relação ao Porto do Capim, no Varadouro, existe o Projeto Cidades Sustentáveis,
com recurso do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que prevê ações na
área, como revitalização, ordenamento, relocação e outras atividades na área ambiental
e social.

*Texto de Beto Pessoa, do Jornal Correio da Paraíba.

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