Depois de uma criança de oito anos morrer vítima de meningite em Cajazeiras, de acordo com o laudo clínico do Hospital Universitário Júlio Moreira (HUJM), onde estava internada, a Saúde do Estado reacende a necessidade de alerta aos cuidados necessários para que a doença não se prolifere. Em 2019, o número de casos notificados por meningite no estado foi de 127, com 38 confirmações, sendo 11 mortes.
Neste ano, pelo menos oito casos foram registrados: um foi descartado e os outros sete são investigados pela Secretaria de Saúde da Paraíba (SES), dentre eles o de Cajazeiras. Um novo caso suspeito na cidade foi identificado nesta sexta-feira (21), em uma menina de oito anos, do município de São José de Piranhas, no Sertão. Ela foi diagnosticada pelo hospital com meningite pneumocócica, mas a Secretaria de Saúde do Estado ainda considera o caso como “suspeito”. Ela está internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil de Patos, para onde foi transferida.
Segundo a SES, outro tipo de investigação é feita para confirmar a doença, diferentemente do laudo médico hospitalar. Cerca de 60 dias são necessários para a Vigilância de Saúde confirmar ou não um caso, por isso as duas situações identificadas em Cajazeiras, confirmadas pelo hospital, ainda são tratadas como “suspeitas” pela Pasta.
Ao Portal Correio, o infectologista Fernando Chagas informou que, por terem o sistema imunológico ainda em formação, as crianças se tornam mais suscetíveis ao adoecimento, fazendo necessário que eles sejam prioritariamente imunizadas. Os idosos também preocupam, pois têm o sistema imunológico mais baixo.
No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Os casos são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno e das virais na primavera-verão.
As meninges são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e ocorre meningite quando há uma inflamação desse revestimento, causada por bactérias, vírus, alergias a medicamentos, câncer ou outros agentes.
Segundo Fernando Chagas, entre os agentes infecciosos, as meningites bacterianas e as virais são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública e também as que causam mais preocupação, devido à magnitude, com capacidade de causar surtos e, no caso da meningite bacteriana, devido à maior gravidade.
É necessário ter atenção em relação aos sintomas, pois o retardo no início do tratamento implica em uma taxa de letalidade maior. Em situações epidêmicas, a meningite pode atingir pessoas de qualquer faixa etária, principalmente as não vacinadas.
Altos graus de febre, vômitos, dores na cabeça e no pescoço são alguns dos sintomas de uma pessoa que está com doença meningocócica (DM) pode apresentar. Mal-estar, rigidez na região da nuca e manchas roxas na pele são outros indicativos, de acordo com o infectologista.
Segundo o Ministério da Saúde, a transmissão da meningite bacteriana ocorre, geralmente, de pessoa a pessoa, por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções das vias aéreas superiores (do nariz e da garganta). Já na meningite viral a transmissão é fecal-oral.
• Meningite Bacteriana
Geralmente, as bactérias que causam meningite bacteriana se espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Já outras bactérias podem se espalhar por meio dos alimentos, como é o caso da Listeria monocytogenes e da Escherichia coli.
É importante saber que algumas pessoas podem transportar essas bactérias dentro ou sobre seus corpos sem estarem doentes. Essas pessoas são chamadas de “portadoras”. A maioria dessas pessoas não adoece, mas ainda assim pode espalhar as bactérias para outras pessoas.
• Meningite Viral
As meningites virais podem ser transmitidas de diversas maneiras a depender do vírus causador da doença.
No caso dos Enterovírus, a contaminação é fecal-oral, e os vírus podem ser adquiridos por contato próximo (tocar ou apertar as mãos) com uma pessoa infectada; tocar em objetos ou superfícies que contenham o vírus e depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos, trocar fraldas de uma pessoa infectada, depois tocar nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus.
Já os Arbovírus são transmitidos por meio de picada de mosquitos contaminados.
• Meningite causada por fungos
A meningite fúngica não é transmitida de pessoa para pessoa. Geralmente os fungos são adquiridos por meio da inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos) que entram nos pulmões e podem chegar até as meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal).
Alguns fungos encontram-se em solos ou ambientes contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos.
Já um outro fungo, chamado Candida, que também pode causar meningite, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar.
• Meningite causada por parasitas
Os parasitas que causam meningite não são transmitidos de uma pessoa para outra, e normalmente infectam animais e não pessoas. As pessoas são infectadas pela ingestão de produtos ou alimentos contaminados que tenha a forma ou a fase infecciosa do parasita.
Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite são: exame quimiocitológico do líquor; bacterioscopia direta (líquor); cultura (líquor, sangue, petéquias ou fezes); contra-imuneletroforese cruzada – CIE (líquor e soro); aglutinação pelo látex (líquor e soro).
O aspecto do líquor, embora não considerado um exame, funciona como um indicativo. O líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos, ocorre o aumento de elementos figurados (células), causando turvação, cuja intensidade varia de acordo com a quantidade e o tipo desses elementos.
Devido à gravidade do quadro clínico, os casos suspeitos de meningite sempre são internados nos hospitais, por isso, ao se suspeitar de um caso, é urgente a procura por um pronto-socorro hospitalar para avaliação médica.
Para tratamento das meningites bacterianas, faz-se uso de antibioticoterapia em ambiente hospitalar, com drogas de escolha e dosagens terapêuticas prescritas pelos médicos assistentes do caso.
Para as meningites virais, na maioria dos casos, não se faz tratamento com medicamentos antivirais. Em geral as pessoas são internadas e monitoradas quanto a sinais de maior gravidade, e se recuperam espontaneamente.
Porém alguns vírus como herpesvírus e influenza podem vir a provocar meningite com necessidade de uso de antiviral específico. A devida conduta sempre é determinada pela equipe médica que acompanha o caso.
Nas meningites fúngicas o tratamento é mais longo, com altas e prolongadas dosagens de medicação antifúngica, escolhida de acordo com o fungo identificado no organismo do paciente. A resposta ao tratamento também é dependente da imunidade da pessoa, e pacientes com história de HIV/AIDS, diabetes, câncer e outras doenças imunodepressoras são tratados com maior rigor e cuidado pela equipe médica.
Nas meningites por parasitas, tanto o medicamento contra a infecção como as medicações para alívio dos sintomas são administrados por equipe médica em paciente internado. Nestes casos, os sintomas como dor de cabeça e febre são bem fortes, e assim a medicação de alívio dos sintomas se faz tão importante quanto o tratamento contra o parasita.
A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. Para alguns destes, existem medidas de prevenção primária, tais como vacinas e quimioprofilaxia.
As vacinas estão disponíveis para prevenção das principais causas de meningite bacteriana. As que constam no calendário de vacinação da criança do Programa Nacional de Imunização são:
– Vacina meningocócica conjugada sorogrupo C: protege contra a Doença Meningocócica causada pelo sorogrupo C;
– Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite;
– Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo b, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B;
– BCG: protege contra as formas graves da tuberculose.
Outras formas de prevenção incluem: evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados e limpos.