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Moradores da PB relatam drama da falta d’água; saiba por que chove menos no interior

Falta de água, racionamento, escassez, chuvas localizadas em alguns municípios, mas sem repor a perda de água dos últimos anos. Esses são alguns dos problemas enfrentados por moradores de Campina Grande, no Agreste paraibano, e dos municípios de Patos e Sousa, ambos no Sertão. Para eles, o Dia Mundial da Água, comemorado nesta terça-feira (22), é de reflexão e de reservatórios em casa, como caixas d’água e baldes. A meteorologia explica por que chove menos no interior da Paraíba; veja abaixo.

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Principal manancial responsável por abastecer Campina Grande, o açude de Epitácio Pessoa, na cidade de Boqueirão, vem registrando quedas drásticas no armazenamento de água nos últimos dois anos.

Em março de 2014, o manancial tinha 133 milhões de metros cúbicos (m³) de água, ou 32,5% da capacidade total, que é de 411,6 milhões de m³, segundo a Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa). No mesmo período de 2015, o manancial registrou 84,5 milhões de m³, ou 20,5% de armazenamento. Neste mês, Boqueirão está apenas com 44,4 milhões de m³, ou apenas 10,8% de armazenamento, o menor nível da história.

Atualmente, Campina está em programa de racionamento, com água disponibilizada somente entre a manhã da quarta-feira e a tarde do sábado.

A professora Nailla Souza, que reside no bairro do Centenário, relata que o racionamento tem dificultado a vida da família. Ainda assim, quando a água chega às torneiras, no fim do período de racionamento, ela é barrenta e com cheiro ruim.

“Na quarta-feira, quando a água chega, nós a descartamos no primeiro momento. Ela vem com cor de ferrugem e com mal cheiro. Após um tempo, iniciamos o enchimento dos baldes de 200 litros e tentamos guardar o máximo possível. Por conta dessa má qualidade da água, temos evitado o consumo e fazemos uso de água mineral para beber e cozinhar”, contou Naila.

Ainda segundo a professora, o consumo da água tem feito com que conhecidos e parentes dela tenham sido acometidos por doenças com sintomas como diarreia e vômito. “Quem consome a água de Boqueirão tem que ferver. Mesmo assim não fica boa. Quando ela ferve a gente percebe que uma lama branca fica na panela. Por isso nós temos evitado o consumo”, concluiu a professora.

A bióloga Márbara Vilar, moradora do Centenário, também conta que passa por maus bocados com o consumo da água de Boqueirão. Segundo ela, a água também é malcheirosa e com cor de ferrugem.

“Até para tomar banho a água é malcheirosa. Mesmo assim, estamos armazenando água em baldes e a utilizamos para lavar a casa, lavar banheiro e fazer limpeza. Também costumamos reutilizar água da máquina de lavar para dar descarga no banheiro. A gente vem fazendo de tudo para reaproveitar ao máximo, já que temos água durante poucos dias”, conta Márbara.

Falta água no Sertão

Duas das principais cidades do Sertão, Patos e Sousa também estão registrando problemas sérios com relação ao abastecimento. Os dois açudes dessas cidades, o Jatobá e o São Gonçalo, respectivamente, estão com armazenamento em situação crítica.

No Jatobá, a queda no armazenamento chegou aos 20,9% nos últimos dois anos. O manancial saiu dos 4,5 milhões de m³ em 2014 para os atuais 864 mil m³ em março deste ano. Já o São Gonçalo tinha 8 milhões de m³ de armazenamento em 2014 e está com atuais 7 milhões de m³.

Moradora de Patos, Anália Machado, de 94 anos, contou que não lembra de ter presenciado uma estiagem tão prolongada. “Já tenho 94 anos e não me lembro de uma situação tão ruim como essa. Aqui em Patos nós temos água em dias diferentes e mesmo assim às vezes ela tem uma cor barrenta. A gente não costuma beber essa água porque as pessoas falam que passam mal e ficam doentes. Então ou utilizamos filtro ou compramos água mineral”, fala Anália.

Já em Sousa, o fisioterapeuta Yanko Duarte contou que a família dele, assim como vizinhos, são abastecidos por água de poço por conta do baixo nível do açude São Gonçalo. A solução para o consumo tem sido a compra de água mineral.

“A água do poço a gente só usa para tomar banho, lavar roupa e tarefas de casa. Guardamos muita água em baldes. Na casa da minha avó o pessoal chega a encher 10 baldes de 20 litros para poder ter água. Roupas são lavadas uma vez por semana, reutilizamos água da máquina de lavar para outras tarefas. Tem sido complicado”, explica Yanko.

Também morador do Centro de Sousa, José Estrela fala que concorda com o racionamento na cidade e pede que os moradores saibam economizar água para que a situação não piore.

“O abastecimento não está ruim não. Temos águas três vezes por semana e eu vejo que é o que dá para ser feito. Temos reservatório para encher de água, mas evitamos o consumo. O pessoal tem que se conscientizar. O consumo exagerado e o desperdício acaba refletindo tempo depois e por isso estamos nessa situação”, relata José Estrela.

Plano tenta amenizar efeitos da seca

Segundo a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), o Estado desenvolve o Plano Emergencial de Enfrentamento à Estiagem, trabalhando em construção de adutoras de engate rápido, barragens subterrâneas e entregas de caixas d’água.

“O governo da Paraíba está investindo mais de R$ 2 bilhões em recursos hídricos e enfrentamento a estiagem. Essa verba esta garantindo perfuração de poços, circulação de carros-pipa, construção de cisternas, barragens subterrâneas, sistemas de dessalinização e distribuição de caixas d’água, beneficiando moradores de mais de 100 municípios”, informa a Cagepa.

Por que chove menos no Sertão?

Segundo a meteorologista da Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa) Marle Bandeira, o Agreste e o Sertão são menos favorecidos por chuvas por conta da distância dos oceanos e a atividade da Zona de Convergência Intertropical, principal responsável pelas chuvas.

“A proximidade com o oceano, o relevo e a vegetação influenciam nas chuvas e isso acaba sendo uma desvantagem para o Sertão. A Zona de Convergência Intertropical, que fica entre os oceanos Atlântico e Pacífico, tem atividade entre fevereiro e maio, por isso esse é o período chuvoso da região. Tivemos chuvas acima da média em janeiro e esperamos boas ocorrências até maio”, contou Marle Bandeira.

Solução

A solução para a falta de água nessas regiões mais secas da Paraíba é esperada com a transposição do Rio São Francisco. De acordo com o secretário de Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional (MI), Osvaldo Garcia, a Paraíba deverá receber água por meio da obra até o segundo semestre de 2017.

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