Não à toa os idosos são conhecidos por estarem na ‘melhor idade’. Apesar dos problemas de saúde que podem surgir com o passar dos anos, a alegria e vontade de viver também são potencializadas com o aumentar da idade. Mas chegar a esse momento da vida às vezes também traz melancolia.
É que às vezes já não há por perto alguém com a mesma experiência de vida para conversar e entender o que se passa na cabeça e no coração de quem já ultrapassou os 60 anos. Mesmo os filhos e netos acolhendo, quem chega a melhor idade passa a desejar um lugar somente seu, com pessoas que estejam vivenciando os mesmos sentimentos.
E quando essas pessoas encontram um lugar que foi criado para elas, aí sim a alegria vem por completo. A reportagem do Portal Correio esteve no condomínio Cidade Madura, em João Pessoa, e conheceu histórias de quem se encontrou vivendo numa cidade pensada para eles.
Para Magda Daniele, coordenadora do projeto Cidade Madura, o condomínio é uma forma de trazer cidadania aos idosos. “Aqui, além das atividades físicas, médicas e de entretenimento, eles podem exercitar sua cidadania junto com os outros idosos. Eles socializam, conversam, recebem os familiares”, comentou Magda.
O condomínio é formado por aproximadamente 60 casas, que são cedidas a idosos que precisam cumprir uma série de requisitos, entre eles: ter 60 anos ou mais, ter uma renda fixa para manter a casa que irão receber, e serem auto-suficientes. No Cidade Madura, os idosos desempenham atividades esportivas com profissionais duas vezes por semana, além de terem atendimento médico com enfermeiros 24 horas por dia. Um médico consulta os moradores uma vez por semana.
A a interação e a amizade parecem ser a sustentação da felicidade de muitos dos moradores. “Aqui a gente vive muito mais feliz. Vou na casa das minhas amigas no fim da tarde pra tomar um café, conversar. Isso é muito bom. Hoje eu me sinto uma pessoa muito mais feliz”, revelou a dona Maria Giselda, de 82 anos.
A velhice muitas vezes pode ser associada a um sentimento negativo, porém, quando se há gratidão pelo tempo que viveu, a ‘melhor idade’ pode ser um tempo para aproveitar o tempo livre para olhar pra trás, e agradecer. “Eu não mudaria nada na minha vida. Casei muito nova, com um marido que me maltratava, até que eu decidi me separar, lutei pra cuidar dos meus filhos, e hoje cada um venceu na vida. Isso pra mim é o mais importante. Hoje sou feliz principalmente porque não me arrependo de nada. É melhor a gente se arrepender do que fez do que do que não fez”, ensina Gilsa Trigueiro de 77 anos.
“É melhor a gente se arrepender do que fez do que do que não fez”
Gilsa Trigueiro, 77 anos
Mas apesar da alegria, a velhice também é tempo de saudade. “Ela morreu de câncer. Nos meus braços. Bem naquela cama ali. Todo dia lembro dela. Todo dia. Mas eu sei que ela tá num lugar melhor e que eu logo vou encontrar com ela”, relata, emocionado, Sílvio Camacho, de 77 anos, contando sobre sua esposa que faleceu há três.
Mas apesar da tristeza, seu Silvio diz que, na sua nova casa, encontrou amparo. “Aqui eu faço meu jardim, cuido das minhas plantas. Além disso, tem a amizade com todas as pessoas. Isso é o que também me dá forças. É um paraíso”, destaca.
Dona Francisca de Sousa, de 76 anos, fala com alegria de sua idade. “Não escondo a idade que tenho. Sou ativa, cozinho, lavo, passo, recebo meus filhos, converso”, e ainda revela os segredos para tanta disposição: “E faço tudo com amor e amizade. Morar aqui não tem preço”, finaliza.