Morreu neste sábado (11), aos 85 anos, o ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, depois de oito anos em coma por causa de um derrame.
As décadas de atuação militar e política fizeram de Sharon um dos mais populares e controversos líderes de Israel. O general linha-dura é uma das últimas lideranças da geração que fundou o Estado de Israel, e muitos no país acompanharam a sua saída da vida pública e a deterioração de sua saúde nos últimos anos com grande tristeza.
O estado de saúde do ex-premiê começou a se agravar em dezembro de 2013, em decorrência de falência renal.
Sharon, ex-general e líder da direita, estava em condição vegetativa desde o derrame que sofreu em janeiro de 2006, quando ainda comandava o governo. Ele ocupava o cargo de premiê de Israel desde 2001, e havia prometido alcançar “paz e segurança duradouras”.
Ele foi eleito com a promessa de pôr fim à segunda onda de levantes palestinos (Intifada), iniciada depois que visitou à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, considerada sagrada por muçulmanos.
Uma tomografia feita há um ano detectou atividade cerebral quando médicos mostravam a Sharon fotos da sua família e lhe pediam para pensar na sua casa. Mas os neurologistas disseram, na ocasião, que não havia chance de ele despertar do coma. A lei israelense não permite que as máquinas que mantinham o ex-premiê vivo fossem desligadas.
Em 2006, ele foi sucedido no cargo pelo então vice-premiê, Ehud Olmert, que depois foi eleito primeiro-ministro.
Sharon completaria 86 anos no dia 26 de fevereiro.
Atuação controversa
Durante os anos em que ocupou o cargo de primeiro-ministro, Sharon foi um dos grandes promotores da expansão de assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados. Ele também iniciou a construção do polêmico muro da Cisjordânia.
Conhecido pelo apelido de “trator”, Sharon chegou à política israelense depois de uma longa carreira no Exército, iniciada na guerra de independência de Israel, em 1948.
O ex-líder, no entanto, era controverso e ficou célebre por mudar de direção política. Muitos no mundo árabe o odiavam por associá-lo ao massacre de dezenas de milhares de palestinos no campo de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano, em 1982.
Na época ministro da Defesa, Sharon não comunicou seus planos para o então primeiro-ministro Manachem Begin, e invadiu o Líbano dizendo que precisava expulsar do país um núcleo influente da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), comandada por Yasser Arafat, morto em 2004. O massacre lhe rendeu o apelido de “açougueiro de Beirute”.
Esse não foi o primeiro episódio de violência no currículo de Sharon. Antes, em 1953, quando comandava a Unit 101, uma unidade do Exército voltada para combater os árabes, Sharon liderou uma operação contra a aldeia de Kibya, na Cisjordânia, explodindo 45 casas e matando 69 pessoas. A invasão resultou na morte de tantos civis da Palestina que o governo de Israel decidiu proibir o assassinato de mulheres e crianças.
Em 1956, na Guerra do Sinai, Sharon liderou o Exército israelense em uma de suas mais difíceis batalhas. A intervenção militar resultou em várias mortes dos dois lados e foi considerada desnecessária.
Já no início da década de 90, como ministro da Habitação, ele incentivou a maior ampliação de assentamentos judeus nos territórios ocupados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia desde a invasão inicial de 1967.
Em 1998, negociou com o líder palestino Yasser Arafat em Wye, nos Estados Unidos, a retirada parcial israelense dos territórios árabes, mas se recusou a apertar a mão do líder palestino. Na época em que se tornou primeiro-ministro, chegou a dizer que Arafat era “mentiroso” e “terrorista”.
Uma decisão, porém, surpreendeu a todos. Antes visto como o defensor dos israelenses em terras que os palestinos alegavam ser deles, Sharon retirou todos os colonos e soldados israelenses da Faixa de Gaza em 2005. O feito provocou a ira dos seus mais fiéis seguidores e do seu partido, o Likud.
Em novembro do mesmo ano, Sharon deixou o partido Likud e criou um novo, o Kadima. Poucos meses depois, sofreu o primeiro dos vários derrames que o levariam à morte.
Família
Batizado de Ariel Scheinerman, o primeiro-ministro mudou o nome para homenagear o vale Sharon, lugar onde funcionava uma cooperativa agrícola durante a sua juventude.
Arik, como é conhecido em Israel, nasceu em 26 de fevereiro de 1928, em Kfar Mahal, uma aldeia ao norte de Tel Aviv, quando o território ainda era controlado pela Grã-Bretanha. Sua família era composta por sionistas russos que emigraram para a Palestina no começo do século 20. Era filho de Samuil Scheinerman, um agrônomo e artista, e de Vyera Scheinerman, que estudava medicina antes de se casar.
Sharon ficou viúvo duas vezes e deixa apenas dois filhos. A primeira mulher, Margalit Yehuda, morreu em um acidente de carro em maio de 1962. O filho deles, Gur, morreu pouco depois, em 1967, ao ser baleado acidentalmente por um amigo que brincava com um rifle.
Com a morte de Margalit, Sharon se casou com a irmã mais nova dela, Lili Yehuda, com quem teve dois filhos: Omri e Gilad. Lily morreu em 2000, de câncer.
Trajetória
A carreira militar começou quando ele tinha 17 anos e ele teve inúmeras participações no governo do país antes de assumir o posto de primeiro-ministro, em 2001.
Sharon liderou operações militares contra tropas do Egito na Faixa de Gaza, em 1950. Depois, em 67, durante a Guerra dos Seis Dias, o então general comandou uma divisão que conquistou Jerusalém Oriental, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Em 1973, Sharon foi eleito pela primeira vez para o Knesset, o parlamento israelense, e liderou a captura do Terceiro Exército do Egito, colocando um ponto final na Guerra do Yom Kippur.
O massacre de palestinos no Líbano em 1982 resultou na demissão de Sharon do ministério da Defesa, mas ele não se afastou da política. No começo da década de 90, apoiado pela direita, o ex-ministro voltou ao governo israelense, desta vez como ministro da habitação.
Em 96, foi promovido a ministro das Relações Exteriores pelo então primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Em 99, Sharon assumiu o comando do partido que ajudara a fundar em 1973, o Likud.
Ele aproveitou o fracasso das negociações com os palestinos em Camp David, em junho de 2001, para colher dividendos políticos criticando no Parlamento a atuação do então primeiro-ministro, Ehud Barak.