Dono de uma discografia memorável, Nelson Cavaquinho foi um de nossos maiores compositores. À altura desse legado, se unem talentos para homenageá-lo. Surge, então, Grupo Semente e Simone Mazzer Cantam e Tocam Nelson Cavaquinho. O lançamento do selo Biscoito Fino deriva de um show feito pelas partes em homenagem ao grande sambista.
O grupo carioca, um dos principais responsáveis pelo renascimento do bairro da Lapa é formado por João Callado (cavaquinho), Bernardo Dantas (violão de 7 cordas), Bruno Barreto (voz e percussão), Marcos Esguleba (percussão) e Maninho (percussão), que herdou o posto do pai, Mestre Trambique, um dos fundadores do grupo, falecido em 2016.
A convite, veio a cantora Simone Mazzer.
Em entrevista ao CORREIO, ela conta como reagiu à proposta. “Eu sabia que tinha alguns desafios pela frente. Primeiro, eu não sou uma cantora que tem uma entrada e uma frequência no samba, não sou uma sambista. No entanto, não tinha como eu não conhecer a obra de Nelson Cavaquinho. São clássicos, temos algumas gravações antológicas. Eu topei, mas logo pensei, ‘e agora, o que eu faço?’”, confessa.
Mexer em um repertório clássico é complexo, mas Mazzer pontua que a experiência foi prazerosa. “Tudo foi sendo conduzido de forma tão espontânea e natural. O resultado é um híbrido de estilos e formas de se trabalhar que nos deixou muito livre. Além disso, admiro o Grupo Semente há muito tempo. Trabalhar com esses caras foi ótimo, me senti muito bem acolhida e aprendo muito com eles, sempre”, pontua.
Dona de uma voz potente e elogiada por suas interpretações, a cantora e atriz destaca a potência do repertório de Cavaquinho, cuja forma de compor era única. “Para mim, enquanto intérprete, (cantar Nelson Cavaquinho) é nadar de braçada, porque ele escreve coisas muito impressionantes, de uma maneira muito própria. Ele fala de morte, deslealdade, traição, melancolia, tristezas profundas, de uma forma tão leve… Além de criar melodias impressionantemente marcantes. É muito bom trabalhar com isso”, enfatiza Simone Mazzer.
Canções como “Juízo final”, já gravada por Clara Nunes e Alcione, ganham nova roupagem com os arranjos feitos pelo Grupo Semente, com a presença da guitarra, executada por Bernardo Dantas. Junto a João Callado, ele assina os arranjos do álbum. A faixa também conta com a voz de Bruno Barreto. Em faixas como “Duas horas da manhã”, Mazzer brilha ao mostrar sua extensão vocal e controle, com graves demarcados e agudos precisos.
“Foi um processo de construção, tanto do repertório como dos arranjos. A partir de meados de 2018, nos reunimos várias vezes para escolher as músicas e ensaiar. Depois levamos as canções para os palcos. Quando fomos gravar foi bem rápido, pois já sabíamos o que queríamos fazer e o trabalho já estava maduro”, explica Callado, em material de divulgação do disco.
“Luz negra” traz a contribuição do saxofone de Eduardo Neves e da cuíca de Marcos Esguleba. Este último, por sinal, é o responsável por dar a ideia do tributo e de convidar Simone Mazzer para o projeto. Ainda em termos de clássicos, temos “Palhaço” e uma espécie de “compacto” entre “Eu e as flores” e “A flor e o espinho”, um recurso utilizado para aumentar o número de canções neste tributo, que extrapolasse o limite das 14 faixas.
* André Luiz Maia, do Jornal CORREIO