Em 1982, aos 30 anos, decidi candidatar- me a vereador em João Pessoa. Embora ainda imaturo e pouco familiarizado com a cidade, já era colunista de O Norte – naquele tempo o maior jornal do Estado – e gozava de alguma popularidade que, acreditava, poderia dar-me a vitória. Além disso, carregava o nome do meu pai que, àquela altura, era o meu cabo eleitoral e maior incentivador para que eu ingressasse na carreira política e, quem sabe, percorrer os caminhos que ele triunfou. Cabelos ao vento, violão em punho, me embrenhei pelos bairros mais distantes, levando a minha mensagem , a minha juventude e o meu entusiasmo.
Para um principiante, não fui de todo mal. Com 1.335 votos, fui o terceiro suplente do meu partido. Com as articulações políticas que se seguiram e a convocação de vereadores para cargos no executivo, terminei tomando posse e cumprindo boa parte do mandato com uma atuação muito além das minhas expectativas.
Naquele tempo a Câmara de João Pessoa era dominada por expressivas lideranças da política municipal . Nomes como Bonifácio Lobo, Cabral Batista, Mário da Gama e Melo, Derivaldo Mendonça, Manoel Jaburú, Genivaldo Fausto, Heraldo do Egyto, Lourenço Marsicano, Manoel Virgínio , Madalena Aves, Antônio Arroxelas, Sônia Germano, Valdomiro Ferreira, Julio Paulo Neto, Roderico Borges e Gerson Gomes de Lima, dominavam a cena.
Mas, entre tantos valores, um era o mais respeitado : João Cabral Batista, campeão de votos, veterano de 8 mandatos, a quem todos reverenciavam como o mais sagaz, arguto e experiente vereador da Capital. Era um homem simples, de Inteligência privilegiada e elevado espírito público, que sabia ouvir o povo com paciência, sempre com uma palavra de otimismo e esperança.
Falecido esta semana, aos 97 anos, Cabral ocupou interinamente a prefeitura de João Pessoa. Um mandato curto, de apenas algumas semanas, mas o suficiente para realizar um feito que viria a eternizar a sua breve gestão: convocou os funcionários da secretaria de serviços urbanos e comandou, pessoalmente, o plantio de coqueiros na orla, de Tambaú ao Cabo Branco. O coqueiral ainda está lá, belo e verdejante, a encantar a paisagem, a dar vida às areias da praia e a nos lembrar que não é necessário dinheiro para se fazer uma grande obra.