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Parafuso sem rosca

Eis uma experiência que muitos já passaram:

Em cena o parafuso, a rosca e a necessidade de apertá-lo. Mas por mais que você tente – mesmo munido com a melhor ferramenta – simplesmente o encaixe não acontece.

A rosca está espanada!

Essa imagem do encaixe impossível é a metáfora precisa desse instante brasileiro.

E a sensação que ela suscita – a impotência e a desesperança – é exageradamente semelhante à percepção predominante em relação à economia desse País que não consegue (ou não quer) superar a agenda da crise.

A impressão que se tem é que, quanto mais se aperta, mais se colhe resultado inócuo.

Os problemas são tantos, e tão graves, que dificulta qualquer vislumbre de luz neste fim de túnel tão profundo…

E em se tratando de ambiente de negócios, sensações não são fenômenos pequenos.

Têm, muitas vezes, repercussões catastróficas – efeito avalanche que contamina todo o tecido produtivo do País.

Empresários, por exemplo, vivem de boas e más expectativas.

Nas boas eles investem.

Nas más eles se retraem.

E quanto mais retraídos ficamos, mais distante é o caminho da recuperação econômica, da retomada do emprego, do fim da retração…

Como podemos reverter as estatísticas do desemprego, por exemplo, se não temos sinalizações concretas?

Como podemos nos planejar se não sabemos, sequer, quem estará no comando do Brasil nas próximas horas? Ou o tamanho do estrago que causará a próxima delação?

O terreno onde estamos pisando – empreendedores, trabalhadores – é absolutamente instável.

Uma instabilidade provocada, em larga medida, pelo bombardeio incessante da crise.

Provocada por uma estratégia vaidosa e burra – e certamente muito mal intencionada – de tornar a crise em curso em uma crise de longo curso.

Não estou, em absoluto, pregando a tese da esponja.

Não estou, repito, tentando varrer a sujeira para debaixo desse tapete cuja ponta finalmente ousamos levantar.

Mas onde quer que vá, dialogando com os mais diferentes interlocutores, a grita é unânime:

Os brasileiros estão saturados da agenda da crise; estafados com a realimentação infinita do conflito.

Num nível tão elevado de saturação que, por vezes, nos faz preferir a ignorância.

Simplesmente ignorar quem delatou quem; quem caiu; quem foi preso; quem será…

A vontade é de se fechar no próprio mundo, arregaçar as mangas e produzir, ignorando o que ocorre além dos nossos portões.

Infelizmente, este não seria o mundo real.

E embora a realidade seja tão dura, precisamos encará-la.

Mais que isso: precisamos alterá-la!

Já se passaram quatro anos desde as primeiras marchas pelas ruas do País.

Quatro longos anos de tensão e foco nas contendas políticas, jurídicas, policiais.

Este mundo não nos pertence.

Não pertence, definitivamente, à maioria dos brasileiros – ao estudante, ao operário, ao empresário, ao brasileiro que tem como missão essencial a presença do pão em sua mesa.

Existe muito mais Brasil além do entorno de Brasília.

E este Brasil, onde moram estes brasileiros, que precisa reaparecer e ocupar o espaço – hoje onipresente – da crise.

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