No dia 13 de dezembro de 1984, o jornalismo paraibano sofreu uma perda irreparável. O jornalista, advogado e empresário Paulo Brandão foi assassinado a tiros em João Pessoa, diante do prédio da antiga fábrica Polyutil, onde também funcionava um escritório do Sistema Correio de Comunicação. Mais de 30 disparos de metralhadoras e pistolas, realizados por policiais militares, encerraram a vida do então diretor-presidente do grupo.
A morte de Paulo Brandão está diretamente ligada a uma série de reportagens investigativas publicadas no Jornal Correio da Paraíba. Os textos denunciavam fraudes em licitações e casos de superfaturamento durante o governo de Wilson Braga. As denúncias expuseram esquemas de corrupção na administração estadual, provocando forte reação de setores do poder público.
O crime é lembrado como um dos mais violentos ataques contra a liberdade de imprensa na história da Paraíba. Desde o início, as investigações apontaram que o assassinato foi premeditado, possivelmente com participação de integrantes do governo. A Polícia Federal confirmou que a metralhadora usada no crime pertencia ao Palácio da Redenção, mas as conclusões não impediram que o caso arrastasse por anos nos tribunais.
Quatro policiais militares foram indiciados pelo homicídio: o coronel José Geraldo Soares de Alencar, chefe da Casa Militar à época; o sargento Manoel Celestino da Silva; o subtenente Edilson Tibúrcio de Andrade; e o cabo José Alves de Almeida, conhecido como “cabo Teixeira”.
O coronel Alencar foi apontado como mentor intelectual do crime e condenado a 20 anos de prisão. O sargento Manoel Celestino e o subtenente Edilson Tibúrcio, que participaram diretamente da execução, receberam penas de 23 e 15 anos, respectivamente. Já o cabo Teixeira conseguiu evitar a prisão ao se manter foragido por muitos anos. Em 2010, quando finalmente foi julgado à revelia, o crime já havia prescrito devido a sua idade avançada.
Roberto Cavalcanti, presidente do Sistema Correio de Comunicação, destacou o papel essencial que Paulo Brandão desempenhou no fortalecimento do jornalismo do grupo.
“Paulo Brandão nada mais fez do que dar força à equipe de profissionais do Sistema Correio, à época, a ter o respaldo de um diretor que atuava aqui permanentemente e que considerava que a verdade e o registro do que está acontecendo no momento presente merece ser divulgado, custe o que custar, inclusive a própria morte. Deus nos deu um gênio na terra. Mentalmente, ele tinha uma evolução e uma inteligência pragmática, cultural, fantástica”, afirmou.
Cavalcanti também refletiu sobre o impacto do crime para o jornalismo paraibano e a busca por justiça ao longo dos anos.
“É uma história tenebrosa que aconteceu há 40 anos. Há 40 anos nós nos aplicamos em fazer com que, desde o primeiro momento, houvesse justiça. A área jurídica atuou corretamente, a Justiça paraibana condenou os diversos membros participantes. Dia 13 de dezembro é uma data que nós temos uma consciência muito grande da importância pelo qual passamos. E a imprensa paraibana, historicamente, foi beneficiada. De lá para cá, nenhum outro dirigente ou jornalista agredido foi alvejado por forças policiais”, pontuou.
Quatro décadas após esse crime brutal, o legado de Paulo Brandão permanece vivo. Sua luta pela verdade e sua dedicação ao jornalismo são lembradas como exemplo de integridade. Além disso, sua história serve como um alerta sobre a importância da liberdade de imprensa e a necessidade de garantir que crimes contra jornalistas não fiquem impunes.
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