A Paraíba é o estado do Nordeste com mais mortes causadas por raios no ano de 2020, segundo dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De janeiro até essa quarta-feira (3), quatro óbitos tinham sido registrados no estado. Os casos aconteceram nos municípios de Massaranduba, Cubati e Conde. Ceará, Piauí e Maranhão dividem a segunda colocação do ranking regional, com dois casos cada um. Bahia e Pernambuco têm uma morte cada. Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe não registraram fatalidades.
Os números de 2020 igualam o acumulado de ocorrências fatais registradas entre 2000 e 2019. Um estudo recente do Elat/Inpe apontou que a Paraíba teve quatro mortes nesse período, ocupando o último lugar no ranking nacional de fatalidades. O levantamento mostrou que 43% dos óbitos causados por raios na Paraíba tem como vítimas crianças e jovens com idade entre 10 e 19 anos. O segundo grupo mais afetado é composto por pessoas na faixa etária dos 20 aos 29 anos. A maioria das fatalidades com cargas elétricas atmosféricas, 75%, aconteceu ao ar livre.
O coordenador do Elat/Inpe, Osmar Pinto Jr., explica que a Paraíba é um dos estados com menor incidência de raios no país, tendo ficado em 22º lugar no período de 2000 a 2019. Segundo ele, a incidência de raios depende da combinação de vários fatores, como latitude, localização geográfica, relevo e urbanização.
A Paraíba, por ser um estado pequeno e próximo ao mar, tende a receber menos descargas atmosféricas. O mar é uma superfície plana, com temperatura estável e atmosfera mais calma, isso favorece a baixa incidência de raios. Por outro lado, a Paraíba está perto da zona de convergência intertropical. O choque de massas de ar nessa região pode favorecer os raios, mas, os ventos do oceano em direção ao continente atuam no sentido oposto. Ou seja, é a combinação de muitos fatores variáveis que determina qual área está mais propícia ou não a receber descargas atmosféricas em determinado momento. Mas, em termos gerais, podemos apontar que a incidência é maior no interior do estado. Quanto mais longe do mar, mais raios ocorrem
O especialista analisa que o fato de o número de mortes em 2020 ter igualado o acumulado de uma década não necessariamente representa uma alteração nos sistemas de tempestade que induzem os raios. Para ele, as fatalidades ocorrem porque a população desconhece medidas básicas de proteção.
“Alguns estudos apontam uma tendência de aumento no número de raios em decorrência do aquecimento global, mas isso só deve acontecer daqui a muitos anos. Então, as mortes que ocorreram na Paraíba em 2020 são circunstanciais, uma mera casualidade. Mortes não dependem só da incidência de raios, mas principalmente do grau de informação da população”, crava.
De acordo com Osmar Pinto Jr., 79% das mortes causadas por cargas elétricas atmosféricas no Brasil acontecem ao ar livre. “Em zonas rurais ou ambientes sem cobertura, como praias, o risco é maior. Então, ao perceber a aproximação de uma tempestade, deve-se parar imediatamente o que se está fazendo e procurar abrigo em local seguro, como dentro de um carro”.
Casas também são uma boa opção, no entanto, ainda é possível ser atingido por um raio nesses locais. De 2000 a 2019, 21% dos óbitos ocorreu em ambiente domiciliar. “Dentro de casa, é importante se manter longe de da rede elétrica e não utilizar aparelhos eletrônicos ligados à tomada, como celular ou geladeira”, alerta o coordenador do Elat/Inpe.
Escurecimento do céu, ventos intensos e som de trovões são sinais de que uma tempestade se aproxima e servem como alerta para necessidade de proteção.
Conforme o Elat/Inpe, 78 milhões de raios caem todos os anos no Brasil, o que torna o país líder mundial em incidência. Quanto ao número de mortes, somos o 7º colocado, com uma média anual de 110 vítimas. A cada 50 mortes no mundo pelo fenômeno, uma ocorre em território brasileiro.
São Paulo foi o estado com mais casos de 2000 a 2019, 327 óbitos no total. Minas Gerais é o segundo, com 175, e o Pará vem em seguida, com 162 óbitos. Em todo o país, foram 2.194 fatalidades registradas no período analisado. O ano de 2001 foi o que registrou mais mortes, 193.
Diferentemente do que deduz o imaginário popular, que associa raios a chuvas e chuvas ao inverno, a maior incidência do fenômeno ocorre no verão, 43%. Depois vem a primavera (33%), outono (16%) e só então o inverno (8%). Os homens são 82% das vítimas.
Não houve registro de morte dentro de veículos fechados, sendo esta a forma mais segura se proteger durante uma tempestade.