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Pokémon Go não desenvolve habilidade adulta e pode ser vicioso

Especialistas defendem e criticam o jogo, ao mesmo tempo, dividindo as análises entre vários aspectos

A chegada do Pokémon Go ao Brasil traz também uma onda de debates que já ocorrem em outros países que adotaram o jogo há mais tempo. Entre os assuntos mais discutidos estão a segurança dos jogadores, que às vezes se arriscam para caçar pokémons, e a situação psicológica de alguns deles, que podem se tornar compulsivos e ter sérios prejuízos sociais.

Especialistas defendem e criticam o jogo, ao mesmo tempo, dividindo as análises entre vários aspectos, citando vazios existenciais e compulsividade como responsáveis pelos excessos cometidos por jogadores, ausência de desenvolvimento de habilidades adultas ou elencando benefícios em tratamentos hospitalares. Acompanhe abaixo.

O jovem estudante Hyago Dias, que mora em João Pessoa, não se considera um jogador compulsivo. Ele disse que se diverte com o Pokémon Go nas horas vagas, nos intervalos das aulas da faculdade ou depois que sai do trabalho.

“Conheço muitas pessoas da minha geração que jogam. Já era fã do desenho Pokémon”, afirmou , lembrando que o jogo é um complemento do famoso desenho japonês que fez sucesso no fim dos anos 90.

O psicólogo Flávio Faissal participou do Correio Debate, da Rede Correio Sat, onde explicou que, para ele, o jogo não é um problema se quem o utiliza sabe que se trata de uma ferramenta para diversão nas horas vagas.

Segundo o especialista, o caso que deve ser analisado de perto é a compulsão, que faz as pessoas se dedicarem demasiadamente ao aplicativo, o que pode trazer graves consequências ao convívio social ou nas atividades diárias.

“O jogo é o primeiro em realidade aumentada, divulgado massivamente em todo o mundo. Para a área de tecnologia, representa um grande avanço. Como toda inovação, a gente precisa lidar com essa inovação. É importante avaliar sem generalizar”, disse o especialista, introduzindo a explicação cautelosa para não culpar o jogo pelos problemas.

“Existe um problema na sociedade, que é um grande vazio existencial. Esses jogos [por exemplo] vêm para preencher o vazio das pessoas. Uma personalidade compulsiva pode ser complicadora na hora de usar um jogo como esse”, disse o psicólogo.

Flávio comparou o jogo a outros vícios, como álcool e drogas, que causam sérios danos quando mal administrados por pessoas que podem desenvolver compulsão e precisam preencher vazios.

“O Pokémon Go é uma ‘metáfora’. [O problema] pode ser o aplicativo, álcool ou drogas… O que está em jogo aqui não é um game, mas a compulsão”.

Pais devem participar para impor limites

O especialista reforçou que uma solução para evitar a compulsividade ou falta de controle com o Pokémon Go entre crianças e adolescentes é a efetiva participação dos pais na brincadeira.

“Pais e mães devem ter consciência que esta geração nasceu na tecnologia, o que é diferente de outras épocas. A compulsividade pode partir de uma ausência dos pais, algo como ‘meu pai não brinca comigo, então o pokémon brinca’. Tenho pacientes pais e filhos que têm tardes agradáveis brincando com o jogo, sem nenhum problema. Os pais devem participar do que os filhos gostam”, falou, ao reforçar que a presença da família é essencial para evitar excessos e impor limites.

Especialista elenca mais pontos ruins

Diego Tavares, psiquiatra e pesquisador do programa de transtornos afetivos (GRUDA) do Hospital das clínicas da Universidade de São Paulo (USP), é um pouco mais pessimista quanto ao jogo, apesar de elencar pontos positivos. Ele disse que o Pokémon Go não requer nenhum tipo de habilidade adulta.

“Não estimula habilidades que adultos deveriam ter como raciocínio lógico, planejamento de resolução de problemas reais e nem mesmo criatividade para jogá-lo. Um jogo que envolve o treino de problemas reais envolvendo interações entre pessoas e questões bem mais complicada como lidar com frustração, controlar a impulsividade, saber a hora de desistir de um projeto, entre outras questões seria muito bem vindo e ajudaria adultos a desenvolverem habilidades que lhes seriam úteis”, explica o médico.

Para Diego Tavares, a febre do jogo ocorre porque ela resgata a fantasia da criança que existe dentro de cada adulto, em especial nos ‘kidults’, ou seja, nos adultos que desejam trazer de volta elementos da infância em busca de felicidade. Daí a procura pelo conforto dos referenciais nostálgicos e da diversão de quando se era apenas uma criança e a vontade louca de caçar um Pikachu.

“É preciso lembrar que a geração adulta de hoje foi a que assistiu ao desenho Pokémon e, com as tecnologias que trazem para o mundo quase real – já que não deixa de ser virtual – o que só ocorria na fantasia da animação, o jogo se torna um grande sucesso na faixa etária acima de 21 anos”.

Apesar disso, Tavares não fala somente em pontos negativos. Segundo ele, muitos hospitais têm utilizado o aplicativo para tirar crianças doentes dos leitos e fazê-los caminharem pelos corredores buscando pokémons.

“Tudo isso é muito útil quando utilizado de forma segura e controlada e visando ao uso terapêutico destes aplicativos”, comenta o médico.

Conheça o game e o desenho que o originou

Pokémon Go é um game de smartphones e tablets que pode ser baixado gratuitamente e é inspirado no anime japonês Pokémon, sucesso há pelo menos duas décadas no mundo, focando uma realidade onde existem seres equivalentes a animais, que têm diferentes tipos e poderes, sendo esses capturados e treinados por jovens.

O novo jogo, que foi lançado em julho em alguns países, mas só chegou ao Brasil no último dia 3 de agosto, já é uma febre mundial. Ele é compatível com os sistemas operacionais Android e iOS e oferece aos jogadores a tecnologia de realidade aumentada. Com o recurso, os praticantes podem ter uma experiência muito próxima da que os personagens do desenho vivenciam, saindo em jornadas, capturando os ‘monstrinhos’ e duelando com outros participantes na luta para se tornar um grande ‘treinador’.

A realidade aumentada é um tipo de mídia que mistura o mundo real com elementos criados virtualmente. No caso do jogo em questão, o jogador visualiza os arredores na tela do celular capturados pela câmera do aparelho e o aplicativo insere os pokémons nesses lugares.

Para funcionar, o jogo utiliza o sistema de GPS dos celulares/tablets e faz com que os jogadores se desloquem fisicamente para conseguir capturar os pokémons em diferentes locais.

No game, existem os PokéStops, que são lugares nos quais o usuário pode conseguir itens importantes gratuitamente. Eles aparecem em destaque no mapa do aplicativo e permitem que o jogador consiga PokéBolas (objetos virtuais utilizados para capturar os pokémons) sem precisar gastar dinheiro.

O participante na jornada precisa andar até o PokéStop mais próximo. Nesses locais, o jogador também pode conseguir ovos de pokémons, que são chocados após o usuário andar alguns quilômetros.

Assim como no anime, também existem ‘ginásios’ no jogo. Eles aparecem em marcações coloridas no mapa, assim como os Pokéstops. Ao alcançar o nível cinco e se juntar a uma das equipes do jogo – vermelha (Red), amarela (Yellow) ou azul (Blue) – o jogador poderá desafiar ginásios adversários ou treinar os pokémons naqueles que pertencem ao time que escolher.

Os pokémons capturados podem ficar mais fortes. Conforme o jogador captura várias vezes o mesmo personagem, ganha dois itens: uma ‘StarDust’ e um ‘Candy’.

O aumento de nível de poder de luta requer um determinado número desses itens. O que deve ser feito, então, é capturar todos os pokémons que aparecerem.

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