Entre o berço e o túmulo, a vida nos impõe uma missão cotidiana:
Encontrar, a cada dia, a cada instante, o ponto de equilíbrio.
E ele é tênue; é frágil.
Também é intangível e invisível, o que torna tão difícil calcular a equação que nos leva a esse ponto afetado por tudo, por todos.
Recentemente, porém, pude ter claro vislumbre dessa força em uma apresentação da artista japonesa Miyoko Shida Rigolo.
Diante de uma plateia surpresa e contendo a respiração, ela coloca em suspensão uma série numerosa de ramos secos, equilibrados por uma leve e singular pluma.
O ponto alto do seu show – que se desenvolve lentamente em gritante desafio à lei da gravidade – ocorre quando ela enfim retira a pluma do emaranhado suspenso – e tudo desmorona!
A metáfora concreta de Miyoko me levou a um estado de reflexão – daquele tipo que, quando ocorre, expõe meu íntimo – incluindo aí os redutos mais importantes: mente e coração.
Pelas lentes da introspecção enxergo que essa insustentável leveza do ser (tomado por empréstimo de Milan Kundera) depende de dois fatores essenciais: tempo e vontade.
Só mesmo estes dois elementos podem, justapostos, manter acesa a disposição de continuar perseguindo – ora perdendo; ora conquistando – o bendito ponto de equilíbrio.
Mesmo ciente de que tudo muda o tempo todo. E que tudo o que nos rodeia nos afeta e influi.
De fato, qualquer fenômeno – mesmo os mais singelos – altera essa rede de equilíbrio.
Isso se aplica às nações, às entidades jurídicas, às famílias, às pessoas.
Excessos nos gastos públicos e perturbações políticas, por exemplo, desequilibram a economia e a institucionalidade de uma nação.
Na esfera empresarial, uma mudança tributária pode determinar a ruptura de seu break-even point – zerando, por tabela, as chances de lucratividade.
Na ambiência familiar, as suscetibilidades são igualmente sortidas: um gasto inesperado, uma perda, uma doença colocam o ponto de equilíbrio em xeque – fenômenos que se repetem (e como se repetem!) no universo particular.
Como encontrar o equilíbrio perdido?
Encontrando a peça certa!
Uma procura que sempre é mais efetiva quando se circunscreve à alma. Pois a força do espírito é surpreendente, mesmo tendo o peso de uma pluma.
Quando a voz interior diz “não vou me deixar vencer”, por exemplo, a leveza d’alma ganha dimensões e peso gigantescos.
Não vou dizer que é fácil ouvir essa voz. Nem tampouco obedecer às suas ordens.
Nada, aliás, é simples – mas se existe vontade, nada é impossível.
E alcançar a harmonia do ser é – repito – uma tarefa para ser cumprida do berço ao túmulo – da linha de partida até o final, não importando o tamanho do fardo que arrastamos nesta jornada.
Porque seu peso, a bem da verdade, é relativo.
E independente de ser calculado em toneladas ou ter a leveza de uma pluma, sempre será capaz de sustentar ou desmoronar o ser do alto de seu ponto de equilíbrio.