Uma Ferrari – sonho de consumo da maioria dos mortais – custa em torno de 1,5 milhão de reais no Brasil. Nos Estados Unidos, US$ 200 mil – um terço do valor praticado no mercado nacional.
Começo com uma ilustração top de linha, mas este é um fenômeno que se estende por toda a cadeia de consumo – dos carros de luxo aos têxteis populares, expondo uma inaceitável incongruência:
Lá, onde a população é mais rica, se paga mais barato pelos produtos (no mínimo 50% menos). Aqui, onde a renda per capita é mais baixa, os preços são infinitamente mais caros.
Essas distorções, que dinamitam o mercado interno (onde se assiste queda vertiginosa da competitividade da industria made in Brasil) e fazem o consumidor assumir o ônus de operar com moeda mais valorizada na hora das compras, tem origem comum: a dantesca carga tributária brasileira.
Uma carga que, ano após ano, fica mais pesada. Dados da Receita Federal, liberados na reta final de 2013, atestam que os tributos brutos cresceram em 2012 pelo terceiro ano seguido, representando 35,85% do PIB.
A carga tributária per capita anual também cresceu de forma fenomenal: 277,3% entre 2000 (quando era de R$ 2.086,21) e 2013 (atingindo R$ 7.872,14).
Impostômetro instalado pela Associação Comercial de São Paulo mostra mais um dado estarrecedor: nos últimos 14 anos, o ataque ao bolso do contribuinte brasileiro aumentou 334% – saindo dos R$ 350 milhões recolhidos em 2000 para R$ 1,53 trilhão até 13 de dezembro de 2013.
Não sem razão, os brasileiros mudam a rota do consumo. A classe média, por exemplo, já descobriu, na ponta do lápis, que compensa pagar passagem e ir até Miami abastecer os carrinhos – garantindo, de quebra, o prazer do turismo.
A ação, claro, é danosa ao País. Preterida, a empresa nacional cambaleia e arrasta junto toda a economia, colocando em curso o chamado efeito cascata – que atinge, entre outras coisas, a oferta de emprego.
Mas o consumidor resolveu assumir o risco. Cresce a procura por importados, multiplicando por tabela a ação do comprador por encomenda: gente que enfrenta a fiscalização com suas malas abarrotadas de desejos de consumo infinitamente mais baratos do que os similares nacionais.
Contrabandear, porém, não é solução sustentável nem efetiva para o enfrentamento da carga tributária. O que nos faz pensar: quando (e como) ocorrerá o ponto de ruptura?
Até quando o brasileiro permitirá, passivamente, ser assaltado pelo Brasil?