Vivi – e empreendi – em um Brasil que registrava médias de mais de 1.500 por cento de inflação ao ano.
Acredite: não errei nenhuma casa decimal. Era esse número monstruoso mesmo que assombrava os brasileiros na virada das décadas de 80-90.
Os mais longevos sabem, e podem atestar, o que estou falando.
Enfrentamos, a duras penas e sacrifícios homéricos, a série histórica de 1988 a 1994, quando a inflação oficial atingiu média inacreditável de 1.514,46% ao ano (veja tabela).
Só para se ter ideia do que isso representava, resgato a experiência de uma criança da época que, relembrando o período, me confidenciou:
Assim que recebia sua mesada, tratava de comprar, na mesma hora, seu estoque semanal de chicletes ping-pongue.
Não se tratava de uma perdulária. Ela sabia que, se deixasse para comprar no dia seguinte, o poder de compra de sua mesada seria reduzido pela metade.
Se era difícil administrar até a mesada das crianças, avalie como era tocar os negócios e gerir a nação em meio a tanto descontrole.
Muitos, claro, fracassaram.
E não tínhamos mesmo a menor chance de sucesso.
Pois, nós brasileiros, empreendemos naquela época uma missão verdadeiramente impossível, tendo em vista que o controle inflacionário faz parte do manual de regência econômica de qualquer nação do mundo.
Sem esse controle, nada prospera.
A inflação descontrolada, porém, ficou para trás – nos legando, desse histórico longo e dramático, uma convicção estratégica:
O Brasil é a nação da superação!
Se fomos capazes de restabelecer níveis descentes de inflação, podemos fazer a nação voltar aos trilhos do desenvolvimentos.
Podemos, e devemos, voltar a apostar e acreditar no Brasil – na capacidade desta nação de se reinventar.
E o cenário nunca esteve tão positivo.
A começar pela notícia, recém-divulgada, de que fechamos 2016 com inflação abaixo do teto estipulado pelo Banco Central. A meta era 6,5% – conseguimos estacionar em 6,25%, encolhendo mais de quatro dígitos em relação a inflação acumulada em 2015 (10,67%).
Não se trata de pouca coisa:
A estabilização da inflação preserva, por exemplo, o poder de compra dos salários.
A manutenção do consumo azeita as engrenagens do mercado interno.
E a melhora das atividades econômicas incrementa a arrecadação, que se reflete no equilíbrio das contas públicas.
O controle inflacionário, portanto, imprime um circulo virtuoso com efeitos positivos sobre toda a cadeia econômica.
E as projeções para 2017 seguem otimistas:
O BC estipulou para este ano um teto ainda menor, de 4,5% – uma meta sobre a qual não paira, hoje, nenhuma ameaça.
Ainda é muito? É!
Para as novas gerações, uma dor de cabeça. Para meus contemporâneos, praticamente um risco n’água em comparação com aqueles 1.500% anuais que consumiam nosso sangue e medula óssea.
Repito e insisto: quem se recuperou daquilo, é capaz de qualquer coisa.
Se vencemos o monstro da inflação, podemos domar – também – a fera da recessão.
Eu, definitivamente, acredito!
Continua…