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Presidente da Geórgia vai à Justiça contra resultado da eleição

Pleito realizado no fim de outubro, registrou diversos episódios de violência, constrangimento e manipulação
Salome Zurabishvili, presidente da Geórgia (Mikhail Japaridze/TASS)

Salome Zurabishvili, presidente da Geórgia, anunciou nesta terça-feira (19) que entrou na Justiça contra o resultado das eleições em seu país. O pleito, realizado no fim de outubro, registrou diversos episódios de violência, constrangimento e manipulação. A oposição afirma que houve fraude, corroborada em parte por observadores internacionais.

O partido que domina há mais de dez anos a política local, Sonho Georgiano, alinhado à Rússia e de tendência autoritária, conquistou 54% dos votos. As autoridades eleitorais, após nova recontagem, confirmaram os resultados no último fim de semana, conferindo 89 das 150 cadeiras do Parlamento para a sigla.

Análises de duas empresas americanas de pesquisa contratadas por opositores apontaram “impossibilidades estatísticas” na aferição oficial.

A Comissão Europeia denunciou em mais de uma oportunidade um ataque híbrido da Rússia, que nega qualquer tipo de interferência na nação vizinha. A Geórgia tem posição estratégica para o Kremlin, além de ser tornado uma espécie de corredor alternativo para os interesses de oligarcas russos desde o advento da guerra na Ucrânia e das retaliações comerciais do ocidente.

Zurabishvilli não tem esperança de obter qualquer vitória na corte constitucional do país, que seria “inconfiável”. “O tribunal, em suas últimas decisões, não se mostrou independente, mas é preciso esgotar todas as alternativas legais em nome dos cidadãos”, declarou uma porta-voz da presidente, de acordo com a agência Interpressnews.

A ação nota duas violações constitucionais no pleito: não teria sido respeitado o caráter universal, pois georgianos no exterior foram impedidos de votar, nem o voto secreto, conforme denúncia de entidades de monitoramento da Geórgia e da União Europeia.

Desde as denúncias de fraude, o país convive com protestos quase diários, que se intensificaram nesta semana, quando o Parlamento voltaria a se reunir para deliberações. A oposição se nega a assumir seus assentos, como medida para deslegitimar o novo governo. Nesta terça-feira (19), após forte repressão policial, 16 foram detidos, de acordo com a agência Reuters.

Sonho Georgiano, fundado pelo bilionário local Bidzina Ivanishvili, patrocina a aproximação do país com a Rússia, que ocupa com tropas duas regiões separatistas no território da nação vizinha. O argumento do oligarca é que uma convivência negociada com Moscou é melhor do que ver a “Geórgia se transformar em uma nova Ucrânia”.

A oposição e a presidente Zurabishvili defendem a adesão à Otan, a aliança militar ocidental, e à União Europeia, que interrompeu o processo de candidatura do país no primeiro semestre deste ano.

Em maio, o Parlamento dominado por Ivanishvili aprovou uma polêmica lei que obriga ONGs e veículos de imprensa com mais de 20% de financiamento vindo do exterior a se registrarem como entidades que “servem aos interesses de uma potência estrangeira”.

O diploma tem evidente inspiração russa, que usa artifício parecido há anos para calar dissidentes. Zurabishvili vetou o instrumento, mas o Parlamento derrubou a decisão em meio a uma grande onda de protestos.

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