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Professor Trindade: A poética de Figueiredo Agra

Não se admite o esquecimento a que é relegada a obra poética de Figueiredo Agra, aqui, na Paraíba. Tenho me dedicado à divulgação da produção dele, há algum tempo. Segue um texto publicado por mim, na “Coletânea de Autores Paraibanos”, (1987): PP.88 e 89:

Antônio de Figueiredo Agra, filho de Agripino da Costa Agra e Maria Figueiredo Agra, cursou as primeiras letras em Campina Grande, cidade onde ocupou diversos cargos administrativos e deixou sua marca peculiar: a altivez no estilo de administrar.

Brilhante como advogado, político e poeta, Figueiredo Agra se constitui numa das principais vozes da intelectualidade campinense, em nível nacional.

Como poeta, investigou em profundidade o sofrimento humano, enfatizando o fato de que quanto mais o homem se conhece e é “dono” do seu destino, mais se torna infeliz.

Em nível estético, sua poesia, sem chegar ao exagero do verbalismo extremo, é profundamente trabalhada, tendo, inclusive, certas incursões no concretismo. Mas é o lado humano dela que se destaca; sua dicção profundamente vivencial, o universo louco e lúcido do poeta que tem como obrigação captar o real e, através da fantasia, devolvê-la (a poesia) a um leitor, carregada de emoção e consciência do trabalho artesanal.

OBRAS POÉTICAS DO AUTOR

  • Guarda Esses Poemas, Luciene (1965)
  • Os Hemisférios Loucos (1972)
  • Concerto de Espaços (1973)
  • Tempos da Noite (1975)
  • Café das Manhãs Amargas (1976)

Leiamos um exemplo da poesia desse grande autor:

UM FESTIM PARA HERODES

Trinta e cinco círios

acendem hoje

este meu aniversário

e nem Salomé

nem Herodíades

estão comigo.

A sua dança

traçou no ar

a estranha coreografia

que foi sugerida

na cabeça de João Batista

Chegam as bandejas

vazias,

menos mesa que música

e dançam o meu pandemônio

Eu os sei aqui,

convivas redivivos,

e nenhuma ideia por cabeça 

me trarão.

As bandejas que chegam

por certo,

sem o pedaço de João Batista

o que já foi doado.

As bandejas estão aqui,

vazias,

e querem que elas voltem

com a minha cabeça…

(Os Hemisférios Loucos, Gráfica Igramol, João Pessoa, 1972, sem numeração de página).

(A coluna de hoje é dedicada a Caio Cássio Colaço Agra, filho do poeta; Leandro Santos; Eilzo Nogueira Matos; Sérgio de Castro Pinto; Elizabeth Marinheiro; José Mário da Silva; e Mílton Marques Júnior).

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