Não se admite o esquecimento a que é relegada a obra poética de Figueiredo Agra, aqui, na Paraíba. Tenho me dedicado à divulgação da produção dele, há algum tempo. Segue um texto publicado por mim, na “Coletânea de Autores Paraibanos”, (1987): PP.88 e 89:
Antônio de Figueiredo Agra, filho de Agripino da Costa Agra e Maria Figueiredo Agra, cursou as primeiras letras em Campina Grande, cidade onde ocupou diversos cargos administrativos e deixou sua marca peculiar: a altivez no estilo de administrar.
Brilhante como advogado, político e poeta, Figueiredo Agra se constitui numa das principais vozes da intelectualidade campinense, em nível nacional.
Como poeta, investigou em profundidade o sofrimento humano, enfatizando o fato de que quanto mais o homem se conhece e é “dono” do seu destino, mais se torna infeliz.
Em nível estético, sua poesia, sem chegar ao exagero do verbalismo extremo, é profundamente trabalhada, tendo, inclusive, certas incursões no concretismo. Mas é o lado humano dela que se destaca; sua dicção profundamente vivencial, o universo louco e lúcido do poeta que tem como obrigação captar o real e, através da fantasia, devolvê-la (a poesia) a um leitor, carregada de emoção e consciência do trabalho artesanal.
UM FESTIM PARA HERODES
Trinta e cinco círios
acendem hoje
este meu aniversário
e nem Salomé
nem Herodíades
estão comigo.
A sua dança
traçou no ar
a estranha coreografia
que foi sugerida
na cabeça de João Batista
Chegam as bandejas
vazias,
menos mesa que música
e dançam o meu pandemônio
Eu os sei aqui,
convivas redivivos,
e nenhuma ideia por cabeça
me trarão.
As bandejas que chegam
por certo,
sem o pedaço de João Batista
o que já foi doado.
As bandejas estão aqui,
vazias,
e querem que elas voltem
com a minha cabeça…
(Os Hemisférios Loucos, Gráfica Igramol, João Pessoa, 1972, sem numeração de página).
(A coluna de hoje é dedicada a Caio Cássio Colaço Agra, filho do poeta; Leandro Santos; Eilzo Nogueira Matos; Sérgio de Castro Pinto; Elizabeth Marinheiro; José Mário da Silva; e Mílton Marques Júnior).