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Quarentena junta família e estimula a solidariedade

O cenário atual do Brasil e do mundo em razão da pandemia do coronavírus tem afetado as pessoas que estão isoladas das demais dentro de casa, sem saber até quando. As dúvidas sobre a doença e o dia de amanhã são inúmeras e, enquanto não há um desfecho, ficar em casa é a única opção. Porém, em meio a tantas incertezas e ao medo, diante da realidade de outros países, atitudes solidárias têm levado algum alento aos confinados. São iniciativas e verdadeiras correntes do bem que têm ajudado, de alguma forma, a tornar esses dias menos difíceis.

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O emocionante aplauso coletivo aos profissionais da saúde em todo o país, cujo trabalho é fundamental nos cuidados com os pacientes. E o que dizer das inusitadas comemorações de aniversários das varandas de edifícios. Muitos vizinhos, principalmente os que moram em edifícios, têm se prontificado a fazer uma feira ou comprar algum medicamento para o idoso que não pode sair de casa.

Professoras de algumas escolas têm encaminhado exercícios e explicações em vídeos para que as crianças menores não percam o ritmo das aulas. Outros distribuem áudios de histórias infantis que aguçam a curiosidade dos pequenos. Empresas promovem ações nas redes sociais reforçando a importância da prevenção e do isolamento social momentâneo.

Além dessas ações, vários artistas decidiram se reunir de forma virtual e criaram canais para oferecer apresentações ao vivo. Nas redes sociais, eles fazem suas lives com shows exclusivos para quem está em casa. Religiosos também estão se mobilizando com a realização de momentos de oração, cantando louvores e, com isso, ajudando os demais a
renovarem sua fé.

“É uma questão de proteção do coletivo, mas também individual, porque sei que se o outro estiver mal, consequentemente eu também vou ficar. São pessoas mais susceptíveis e precisam ficar mais recolhidas. Muitos vizinhos, eu nem conheço, mas acho que a gente deve fazer o bem sem olhar a quem. Tenho a consciência de que estou fazendo a minha parte”, disse o funcionário público Victor Menezes.

Disposição para ajudar o próximo

As atitudes solidárias podem inspirar muita gente nesse momento. Foi o que aconteceu com o funcionário público Victor Menezes, que viu no quadro de avisos do prédio onde mora a solidariedade dos vizinhos que se ofereceram para fazer compras para os idosos que não pudessem sair de casa. Ele foi lá, deixou seu nome e telefone, e está à disposição de quem precisar.

“Eu já tinha visto alguns exemplos na internet. Alguns vizinhos se dispuseram e eu também resolvi ajudar. Como não estou em casa o tempo todo, deixei meu telefone. Quem precisar, é só ligar. Não me custa dar esse apoio às pessoas que estão resguardadas, assim como tenho feito com meus pais”, afirmou.

Chocado com o número de casos e mortes pelo mundo, ele afirmou que a prevenção é a melhor forma de evitar que isso aconteça por aqui. “Não queremos passar o que as pessoas estão passando na Itália. Sabemos que a estrutura da saúde do país, do nosso município, do nosso estado não foi feita para isso. É certo que muitas pessoas vão se contaminar, que outras vão morrer e não queremos que sejam os nossos”, disse.

Para Victor, essas pequenas atitudes deveriam fazer parte do dia a dia de cada um. São pequenos atos que devem ser transmitidos. Cada um deve plantar uma semente que tem grande chance de brotar e termos menos egoísmo no mundo. A minha vida é tão corrida, passo o dia fora, trabalho na área de saúde, mas me sinto muito bem ajudando. Não custa nada passar numa farmácia, num supermercado. Não é muito, mas tenho prazer nessa atitude”, declarou.

Artistas compartilham shows

Os palcos de verdade foram substituídos por palcos virtuais nas redes sociais. No Instagram, por exemplo, o perfil ‘Eu fico em casa PB’ lançou um festival on line reunindo mais de 50 artistas que se revezaram na apresentação de músicas no estilo voz e violão.

A ideia do grupo se tornou concreta no dia 21 de março, quando aconteceu o primeiro ‘show’, e a intenção dos artistas foi oferecer, ao todo, 25 horas de lives. A maratona terminou ontem, dia 28. A iniciativa foi uma forma de ajudar as pessoas a se entreterem em suas casas nesse período de isolamento social. E, além desse lado, os artistas aproveitaram o espaço para mostrar seus trabalhos e se manterem ativos na mídia.

Nomes como Adeildo Vieira, Caburé, Coletivo Porto Cênica, Caselo de Histórias, Eleonora Falcone, Escurinho, Fulô de Massambê, Luana Flores e Maria Valéria Rezende estão entre os que fizeram parte do festival.

Fase de renúncia

Vivenciar um momento de isolamento coletivo não é fácil para ninguém. Não se conhece o novo coronavírus, não se sabe como ele vai se comportar no Brasil, se sofreu mutações, se será mais leve sua passagem por aqui ou mais intensa do que na China e Itália. Porém, mesmo diante de um contexto caótico e incerto, é preciso observar o outro lado e absorver algumas lições.

De acordo com a psicóloga Danielle Azevedo, por mais que algumas pessoas não tenham essa mesma sensibilidade, ninguém quer desejar a morte de alguém. “Dentro dos padrões da normalidade, ninguém se sente bem assistindo ao sofrimento do outro. E é meio instintivo mesmo essa necessidade de dar a mão, de acolher, de ajudar, principalmente para que nos sintamos sujeitos melhores”, disse.

“A fase que estamos vivendo atualmente é de renúncia. Estamos renunciando à nossa rotina, hábitos, vícios. Inclusive, essas renúncias nos fazem refletir mais sobre quem nós somos, sobre o significado da nossa vida, o meu ser no mundo, qual a minha contribuição dentro de casa para os meus parentes, o medo de perder essas pessoas que eu tanto amo.” pontuou a psicóloga.

Iniciativas mudam as pessoas por dentro

“É muito bom saber que as pessoas estão tendo essas iniciativas, porque é isso que faz com que a gente ainda acredite que as pessoas podem mudar, serem lapidadas e amadurecerem emocionalmente. Essa fase do coronavírus, da quarentena, é de muita maturidade emocional porque paramos para nos observar, observar as pessoas próximas, para nos preocuparmos um pouco mais”, analisou a psicóloga.

“E isso falta muito na gente, porque vivemos uma rotina tão mecânica, pela sobrevivência, pelo financeiro, pela balada, por tudo que está por trás de todas essas regalias que é ter a vida descontrolada, e não limitada como estamos tendo agora, que a gente realmente para para valorizar cada ato e cada sentimento que envolve as doações”, pontuou a especialista.

Se preocupar com o outro, dar a mão, dar mais atenção, brincar com o filho são situações que, normalmente, as pessoas deixam passar pela falta de tempo. “Está tudo muito associado a esse momento reflexivo que estamos vivendo, à maturidade emocional e estamos aprendendo a ser mais solidários em decorrência disso”, completou a psicóloga.

*Reportagem de Lucilense Meirelles, do Jornal CORREIO.

Saiba mais sobre o novo coronavírus no vídeo abaixo

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