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Recesso negro

A maioria de nós, pobres mortais, trabalha a semana toda – muitas vezes esticando até o sábado e, dependendo do segmento em que atua, ainda corre o risco de ser escalado para o “plantão” do domingo.

Para essa imensa legião de brasileiros, férias ocorrem uma vez no ano. E o descanso é exíguo e controlado.

O que a maioria não percebe é que, enquanto constrói o País e paga as próprias contas, banca também uma mordomia inimaginável:

O recesso branco do parlamento nacional.

Uma alvura, aliás, cuja coloração real deixa um buraco (negro) em nossos bolsos.

Embutidos em pretextos mil, os recessos se multiplicam – começam em dezembro e se estendem até fevereiro; voltam em junho-julho e são acionados por toda uma sorte de circunstâncias: reforma de prédio, visitação às bases, festejos religiosos, carnaval, Semana Santa…

Mesmo quando está na “ativa”, nosso parlamento não é exatamente um exemplo de trabalho. Os mais laboriosos atuam três dias na semana.

Em um município da região metropolitana da Capital, porém, os vereadores encurtaram essa agenda para uma sessão semanal – e à noite, que é para não atrapalhar a rotina dos nossos representantes.

Em muitos municípios paraibanos, a agenda é ainda mais enxuta: uma sessão por mês – quando dá quórum.

Já em uma cidade do Alto Sertão ocorre apenas uma sessão por semestre. Os salários, porém, são pagos todos os meses – algo em torno de R$ 2,5 mil.

Seria divertido se não fosse tão revoltante.

Especialmente neste instante nacional.

O Brasil quebrado pode continuar a bancar essa ociosidade tão bem remunerada?

O custo é realmente alto. Um deputado federal, por exemplo, custa em média R$ 1,8 milhão por ano aos cofres públicos, segundo levantamento do site Congresso em Foco. Um senador, R$ 2 milhões anuais.

E mesmo os salários mais modestos, pagos pelas câmaras de vereadores mais singelas, não ficam circunscritos ao que nossas excelências embolsam. Pois o ônus do mandato engloba o parlamentar e todo o seu entorno (assessores, estrutura legislativa e logística).

A despeito do custo que gera, o parlamento não dá sinais de incômodo.

O Congresso Nacional, por exemplo, suspendeu o recesso para votar medidas econômicas importantíssimas para o País. Mas não consegue quórum mínimo para votar a pauta urgente.

A cultura do ócio está vencendo com margem ampla.

No restante do País, as assembleias e câmaras hibernam – ignorando, por completo, a indignação da população.

Fazem isso porque os recessos não mexem um milímetro sequer em seus bolsos.

Só no nosso.

E os donos desses bolsos precisam dar a resposta – eloquente e adequada – a esse cinismo.

Cabe a nós mesmos vigiar, patrulhar e cobrar.

Deputado no meio da semana visitando as bases?

Vaia nele.

Vereador que não vai trabalhar é vereador em quem não podemos mais votar.

Como representantes do povo, o parlamento tem que mimetizar o comportamento desse mesmo povo.

Mas esses narcisos não têm espelho.

Se nos vissem refletidos nele, acordariam cedo e iriam trabalhar!

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